40.

724 72 270
                                    

13 de julho de 2013

Virgínia Beach, Virgínia – Estados Unidos

Honestamente, é mais fácil

Me permitir esquecer


Após a reunião com um grupo de apoio que Charlie, ainda que tivesse ciência da existência, nunca se imaginou integrando, Bev e Erin a convidaram para um café. Angie, que fizera um dos desabafos mais longos da sessão, tentando reforçar ao máximo que, apesar de tudo, estava indo bem, também foi chamada, mas tinha que pegar Ty no treino e, como os rapazes ainda estavam presos na base, refazendo um treinamento na expectativa de uma luz verde que não viria, não havia outra pessoa que pudesse fazê-lo. Então, Angie apenas se despediu, agradecendo às três pelo apoio, especialmente Erin que, com Cam fora, não precisava mais frequentar reuniões para famílias de militares.

Charlie havia ficado aliviada após ver Angie pela primeira vez, no final da tarde anterior, pouco depois de chegar. Ao contrário do que imaginou, Jack não pôde pegá-la no aeroporto justamente por causa da maldita luz verde. Pelo pouco que Charlie sabia, era uma missão grande, feita em parceria com outra equipe do esquadrão, de caráter tão secreto quanto especial, mas que só ocorreria diante de autorização do comando e do secretário de Estado, ainda muito receoso para autorizar. Então, enquanto isso, as duas equipes repetiam os movimentos, tentando chegar a uma ação o mais perfeita possível. Jack e George chegaram exaustos na metade da noite e saíram quando o sol estava nascendo. Pouco depois que eles se foram, Charlie encontrou Bev na cozinha, quando foi chamada para se juntar ao grupo de apoio. Ainda que não pudesse participar com frequência, poderia ser bom para ela ter contato com pessoas que entendia exatamente tudo o que Charlie passava.

Ainda que não tenha dito nada, Charlie escutou muito e foi reconfortante. As preocupações não diferiam muito uma da outra, apenas mudavam de endereço e de contexto. Sem julgamentos e uma sensação estranha e imediata de seguridade que a acompanhou tão logo percebeu que poderia ser apenas um membro silencioso, porque a ideia ali era falar quando quisesse e toda fala seria livre de julgamento e coberta com o máximo de apoio.

Foi tão confortável que Charlie chegou muito perto de compartilhar suas preocupações com Jack que sempre pareciam pouco fundamentadas. Será que alguém sabia quanto tempo aquele tipo de alegria, se é que, de fato, ela poderia reduzir tudo que Jack sentia e tudo que eles passavam daquele modo, durava? Não tem bem certeza do que a travou. Talvez tenha sido a mulher mais velha sentada ao centro, que, segundo Erin, após perder o marido e dois dos três filhos, formou-se em psicologia apenas para construir aquele projeto. Uma mulher incrível, Erin reforçou, afirmando que, se tivesse uma oportunidade, apresentaria elas duas. Ao que parece, a mulher cujo nome Charlie esqueceu sem querer era uma cliente assídua do Marine's.

A cafeteria em que foram tinha mais mesas vagas do que ocupadas, possivelmente por causa do horário. Elas três pararam na frente do balcão e Charlie se guiou pela indicação das duas. Descartou o café. Ainda que o cheiro fosse bom, não era tanto quanto antes e não caia bem em seu estômago; todas as últimas tentativas de tomar uma dose da bebida fizeram com que ela não só cuspisse o pequeno gole, mas acabasse vomitando tudo que podia. Ficou com chá de amora, servido em uma xícara grande, azul e larga, e um muffin, posto em um prato de mesma cor. Pegou uma mesa próxima a parede. Enquanto aguardava, verificou brevemente o celular. Suas últimas mensagens incluíam Diana, informando que Baloo estava mais do que bem e que, apesar de dar indícios de magoa com relação a Jack, mantinha-se o mesmo sempre que o nome de Charlie era citado. Elliot exibia, orgulhoso, a foto do peixe que pescara naquele fim de semana, os pés dos colegas de trabalho visíveis ao fundo, e a imagem encheu o coração de Charlie de alegria. E depois, havia uma de Sam. Seu irmão estava treinando em Arlington fazia alguns dias e parecia mesmo disposto a encontrar um tempo e dirigir por horas para visitar Charlie e Jack — uma curiosidade que não estava nem perto de fazer sentido.

O silêncio das estrelas [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now