70. Epílogo

294 67 3
                                    

Meses depois, cada um dos envolvidos nos crimes ocorridos em 21/02/2017, já tinha visto e sentido na pele o quão duro e insalubre era o sistema carcerário no Brasil. Não era ficção o que sempre viram na TV. Aguardavam o demorado julgamento por conta de suas participações diretas e/ou indiretas da fatídica noite. E todos eles tinham um par de pensamentos em comum, formado por uma "grande dúvida", e por uma "grande certeza". Poderiam conjecturar várias hipóteses em suas mentes, mas o famoso "Alguma coisa não está se encaixando" não os deixava nunca.

Os detetives OLÍVIA e FRANCIS já estavam trabalhando em outros casos agora. E o que mais importava é que haviam montado o quebra-cabeça e encaminhado ao poder judiciário para que este passasse a cola para eternizar as peças lado-a-lado, mesmo que elas tenham sido encaixadas com muita força.

LAURA e CRIS ainda eram consumidos pelas dúvidas sobre quem foi que manipulou eles por SMS. Contudo, as suspeitas indicavam que fora a mesma pessoa que, provavelmente, denunciou-os para a polícia. Suas suspeitas pairavam em Rodrigo, obviamente, mas... Será que Rodrigo havia estado lá no Almoxarifado enquanto eles modificavam a cena do crime de Norberto? Não sabiam. A certeza de que tinham era a de terem sido protegidos por May até onde dera, pois, ela poderia muito bem ter contado à polícia logo de cara que ambos estavam lá na editora, e ela não o fez. Havia um "tiquinho" de gratidão por isso em seus corações.

RODRIGO realmente não conseguia entender como é que poderiam estar acusando-o de ter mandado as mensagens manipulando Laura e Cris. Entretanto, a essa altura, só conseguia pensar em uma pessoa: Micael. E como ele havia feito aquilo? Não fazia ideia. E já bastante enlouquecido por privação de liberdade, acabou falando consigo mesmo sobre considerar uma "troca" justa, afinal, ele enganou Micael também ao não limpar as digitais dele na faca usada para matar Nicolas... E só de pensar que quase chegou a acreditar que Micael era inocente, batia uma vontade de morrer. Rodrigo agora tinha apenas essa certeza: a de que Micael era um assassino frio, consumido pela ambição, a ponto de matar o próprio amigo.

MICAEL rememorava vários momentos que passara junto a Nicolas, todos os dias. E todos os dias também se perguntava: Como é que pôde acreditar que Rodrigo havia limpados suas digitais da faca? Sentiu-se uma pessoa tão estúpida quanto o vilão psicopata do seu próprio livro, pois, além de responder por chantagem a May, estava sendo acusado de ter matado Nicolas justamente por conta de um deslize idiota. No entanto, nenhuma punição seria o suficiente para zerar a sua culpa por ter ido tão longe com sua ambição e de ter desgraçado a vida de todo mundo a sua volta. A única certeza de que tinha até agora, era a de ter caído numa cilada engendrada por Norberto e na traição de Rodrigo. Definhava em completo estado de depressão.

MAY estava respondendo em liberdade por ter ocultado informações da polícia sobre Laura e Cris. Tentava manter sua sanidade, diariamente. Mas era uma coisa próxima do impossível. Seu quadro clínico estava deplorável, e seu psicólogo, na tentativa de revertê-lo, sugeriu que ela escrevesse um livro retratando toda sua trajetória de editora e externalizasse de vez, todo o pandemônio ocorrido no dia 21 de fevereiro de 2017. Seria mais um daqueles livros: "Da ascensão à queda. Da queda ao recomeço". Portanto, forçou-se a escrever sobre todos os eventos, ou quase todos. Reviveu os horrores para poder vomitá-los no teclado. Passou dia e noite, horas a fio, parando apenas para dormir e comer. Finalizou o livro no intervalo de três meses e os julgamentos dos seus funcionários nem havia saído ainda. Decidiu recomeçar a editora do "zero" e o primeiro livro que seria publicado nesta nova fase, seria justamente a sua biografia. Talvez lançaria-o no período dos julgamentos. A equipe do Fantástico, da Rede Globo de Televisão, a convidou para dar uma entrevista para promover o livro. Ela aceitou. A promessa era a de que seria transmitida, provavelmente, quando saíssem as sentenças. E assim foi. May estava livre de tudo aquilo. E seu livro vendeu muito. May recuperou a honra da Editora Hora de Ler... Todavia, May não estava nada bem, pois...

Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora