07. May

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19 DIAS ANTES DOS CRIMES

02/02/17 - quinta-feira, 09h58

May respirou fundo. Correu ao encontro do bebedouro. Passou por seus assistentes sem parar no caminho. "Xô" crise!

Laura chegou perto e perguntou:

— Podemos ver agora sobre aquele assunto... Ei, você está bem?

— Estou. É só... tontura... Leve, não se preocupe. — May tomou um longo gole d'água e jogou o copo descartável num daqueles "lixo-canudo". — Venha, vamos ao que interessa — disse, voltando à sua sala. — Cris — chamou ela no corredor. — Imprima a arte numa folha A3, por favor, quero ver os detalhes.

— É pra já — respondeu o rapaz de pele morena. Cris era Designer Gráfico, tinha estatura mediana e músculos de quatro meses de academia; boca bem expressiva e com mania de morder o canto direito do lábio inferior quando estava nervoso. — Lá vamos nós — disse, já com a impressão na mão e indo à reunião.

— Dá para parar? — May repreendeu a "mordeção" de boca. — Eu sempre gosto de suas ideias, então, sem nervosismo.

— É, obrigado — respondeu ele, direcionando seus olhos tímidos à May.

— Vamos começar com... vejamos... Aqui: Mortes Convergentes.

May agiu com naturalidade; profissionalismo era seu sobrenome, no entanto, uma sensação bizarra lhe acometeu durante a reunião: a iminência de ser apunhalada pelo envelope sobre sua mesa.

*****

Após trinta minutos a reunião terminou. Chegou a hora de acabar com aquele suspense todo.

May abriu o envelope com movimentos rápidos para exterminar a angústia besta e desnecessária de dentro de si. Enfiou a mão no pacote e o inclinou com a outra. Um papel menor caiu. Curvou-se e o pegou no chão. Era uma foto.

Seus olhos saltaram, seu queixo tremeu levemente. May esfregou os olhos para focar melhor na imagem.

— Só pode ser brincadeira — sussurrou.

Levantou-se depressa e correu com as pernas meio bambas para fechar a porta. Uma penumbra enevoada tomou a frente de sua vista. Jogou-se na cadeira. Seu estômago embrulhou, virou uma bolinha de papel amassado. Vertigem. Outro ataque de pânico? Ela passou as mãos inquietas várias vezes pelo capacete capilar.

— Que merda é essa? — Era raro May proferir palavrões, seu marido quem dizia muito. Aquela foto poderia ser insignificante às outras pessoas, nem mesmo agradaria qualquer fotógrafo inexperiente. entretanto, carregava o suficiente para desestabilizar May.

A imagem era simples. Um carro: Citröen C4 Pallas preto. A placa traseira estava em foco. Era o carro de Norberto com certeza. Na foto, o automóvel entrava num lugar cercado por um muro coberto de trepadeiras. Puxou na memória, já havia visto aquele lugar... Nem auto-boicotagem funcionaria, a certeza veio com força, só não compreendeu o porquê de o carro de seu marido estar entrando naquele Drive in.

— Como pôde?! — disse boquiaberta.

Quanto atrevimento! Seu marido, o sócio da Editora Hora de Ler, o administrador da gráfica no fundo do escritório da editora, o sempre amado Norberto, traindo ela. Desgraçado! Maldito! Cretino! Quem é a puta desgraçada que você levou neste lugar xexelento?! A náusea expandiu e seu estômago inchou aumentando o desconforto.

De repente viu o homem charmoso entrando no escritório da editora. Era ele, Norberto. Sorrindo em sua direção. Caminhando e esbanjando todo seu charme e perfume pelo ambiente.

Com as mãos trêmulas ela pegou a foto e enfiou na gaveta o mais rápido possível, escondendo-a. Arrancou o original do envelope, temendo mais surpresas desagradáveis. Fez um tremendo esforço para assumir serenidade, mesmo sendo falsa. Os vidros da sala a deixava exposta. Quase fora flagrada.

Norberto abriu a porta sem bater e entrou.

— Ei amor, está afim de tomar um café antes do almo... Querida, você está bem? — Ele se aproximou; testa franzida. — Você está tremendo. O que aconteceu?

Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora