66. Rodrigo

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5 DIAS DEPOIS DOS CRIMES

26/02/17 – domingo, 09h10

A respiração de Rodrigo ficou pesada. Seus olhos estavam vermelhos. O suor brotava por todo seu rosto. O suco gástrico borbulhou no estômago. Contudo, ao invés de responder, permaneceu calado.

— Você fez o que ele mandou? Exijo que responda!

Duro, como uma estátua, o movimento que Rodrigo conseguiu fazer foi o de negar com a cabeça, lentamente.

— Isso representa um "Não"? Está querendo dizer que não matou Nicolas? Preciso que fale.

Com dificuldade em projetar a voz, Rodrigo resolver dizer:

— Eu não o matei.

— Mas já temos provas de que Norberto mandou você assassinar Nicolas, por causa disso aqui, olha. — Ela deu tapinhas na pasta mais velha, a qual tratava do sequestro de May. — Agora você entendeu que não tem mais para onde correr? Você tem que nos dizer agora! Anda, confesse que Norberto mandou você matar Nicolas como pagamento de uma dívida criminosa entre vocês!

— 'Tá bom! Já chega! — Rodrigo explodiu. Eu perdi! Estava ciente de que estava num beco sem saída. Tinha de confessar o que sabia para pelo menos livrar um pouco a sua barra e não receber uma sentença duradoura na cadeia. Lutando para não gaguejar, ele decidiu falar: — Sim, Norberto me mandou matar Nicolas por causa do sequestro!

Olívia deu um sinal com os olhos para o espelho. Guardas entraram na sala rapidamente e antes de qualquer reação de Rodrigo, eles o imobilizaram e, segurando-o pelos ombros, torceram os braços dele até que ele projetasse o corpo pesadamente sobre a mesa para que pudessem algemá-lo.

Sentiu dores nos pulsos e nas articulações dos ombros. As regiões pressionadas queimaram. Cada centímetro de pele estava banhada em suor.

Os guardas se afastaram, deixando-o ainda sentado na cadeira. Olívia agradeceu com um sinal de cabeça e os dois se retiraram deixando-os sozinhos novamente para que pudessem prosseguir.

— Você responderá por formação de quadrilha e sequestro de Mariane, está me ouvindo? E se não quiser mofar na cadeia, desembucha logo tudo que você sabe e fez na noite dos crimes do dia vinte e um!

Rodrigo levantou a cabeça e demorou-se assim, causando uma dramatização exagerada, e a olhou nos olhos.

— Eu não matei Nicolas.

— Isso é o que vamos ver. — A postura de Olívia era assustadora agora. Ela parecia ensandecida. — Você foi até o apartamento da vítima, não foi? E não minta, saberemos se estiver mentindo.

— Está certo... Fui — Rodrigo revelou.

— E ainda quer que acreditemos que não o assassinou a pedido de Norberto?

— Norberto queria calar Nicolas — disse ele, e continuou pausadamente: —, e sim, mandou eu fazer o serviço em troca da minha liberdade...

— Que patético! — cortou ela. — Norberto poderia usar contra você o que ele próprio sabia do sequestro a qualquer momento, rapaz. Você jamais teria paz.

Rodrigo refletiu por uns instantes. Ela está certa, pois nem mesmo agora, que ele está morto, eu consegui me livrar dele.

— Você matou Nicolas?

— Já disse que não.

— Não sei se acredito — rebateu ela, desconfiada. — Não vai confessar, não é? Tudo bem, deixa comigo, de qualquer forma iremos investigar. E pode acreditar, se não facilitar, as coisas não ficarão tão boas para o seu lado.

— Eu não matei Nicolas! — gritou Rodrigo, perdendo o controle. Olívia ficou calada, esperando por mais. Imobilizado, com as mãos para trás, apertadas e presas pelas algemas, ele disse: — Se quiserem chegar à solução por conta própria, vão. Vai levar mais tempo, claro. Ou pode ser que enveredem pelo caminho errado. Mas eu sei de algumas coisas. Coisas comprometedoras. E quero fazer um acordo sobre minha sentença. Responderei pelo sequestro de May, isso sim, me fodi, mas sobre os outros crimes eu sou inocente, porra! Quero um acordo!

— Acredito que não esteja numa posição muito boa para exigir nada agora.

— É, mas como eu disse, eu possuo informações que vocês precisam para solucionar todo esse caso de verdade.

— Acho que está blefando. — Ela desafiou.

— E eu tenho que vocês estão completamente errados, já que estão desconfiando de mim, não só pelo assassinato de Nicolas como pelo assassinato de Norberto.

— Você saber que Norberto foi assassinado é bastante comprometedor, sabia disso?

— É claro que sei. Mas sim, eu sei que foi assassinato. E sei quem pode ter sido de verdade.

— Se sabe, por que não diz para se livrar logo das acusações?

— Porque não sou idiota a ponto de entregar tudo que sei, sem antes ter um acordo. E é isso. Primeiro: o acordo. Serei réu primário, mas mesmo assim, não vou apodrecer na cadeia, quero reduzir ao máximo a minha pena.

Ela não disse nada.

— Eu não matei Nicolas. Saibam disso. Se insistirem nisso errarão feio!

Ela continuou não dizendo nada.

— Pois eu sei que por mais que eu quisesse, eu não conseguiria pagar essa dívida com Norberto... Nunca matei ninguém. Posso ser cheio de defeitos, talvez o maior deles seja a minha ambição, mas eu não chegaria nesse nível que pensam que eu cheguei.

Ela fuzilava ele com os olhos.

— Confessei que fui até o apartamento de Nicolas naquela noite por puro desespero. Mas não fiz aquilo com ele... Por fim, quando eu cheguei ao apartamento dele...

Ela esperou.

— ... a merda toda...

Olívia não piscava.

— ... a merda toda já estava feita.

O silêncio dela foi quebrado:

— Explique o que quis dizer com isso.

— Quando eu cheguei, querida detetive — disse ele, recuperando sua ironia habitual —, Nicolas já estava morto. E sabe quem estava lá? — Rodrigo lambeu os lábios para poder umedecê-los.

— Quem estava lá? Diga!

Pausadamente, Rodrigo respondeu com uma pergunta:

— Teremos, ou não teremos, um acordo?

Como escrever, matar e publicar [Vencedor do Wattys2020]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora