LOVE-MALÉVOLA E DIAVAL

Capítulo 23

Malévola

Recobrei a consciência sem fazer ideia de onde estava,ou o que acontecera comigo enquanto dormia.Eu não sabia a quanto tempo tinha ficado presa no mundo letárgico,onde não existe nada além da escuridão criada por nossos olhos fechados,e nossa mente desligada,e me sentia totalmente dispersa por conta disso.A minha cabeça doía e minha visão embaçava constantemente.

Também não fazia a menor ideia a quanto tempo eu acordara.Só sabia que não tinha força nenhuma para levantar.Tudo ao meu redor era sem cor,e eu sentia frio.Vez ou outra,eu passava uma mão por minhas costas,para verificar se minhas asas ainda estavam presas nelas.Cada vez que constatava que sim,me permitia dar um suspiro de alívio.

Fraqueza dominava todo o meu corpo.Eu não sabia se tinha companhia comigo naquele estranho lugar em que eu me encontrava,mas suspeitava que sim,já que vozes conversando entre si ecoaram por meus ouvidos algumas vezes.Eu não fiz questão de saber o que elas diziam.A minha vontade era apenas ficar ali,deitada,até...até alguma ideia milagrosa vir a minha mente e eu conseguir escapar daquele lugar.

Era uma pena que a ideia milagrosa nunca chegava.Meu estômago,que não necessitava de muito para viver em paz comigo roncava como um leão,e eu sentia os meus lábios secos.Claro que uma pessoa desacordada não vai saciar as necessidades do corpo sozinha.

Fiquei relutando até o último momento o ato de comer e beber.Eu tinha medo de me mexer e atrair alguma atenção.Só queria sumir dali sem que ninguém notasse ao menos que eu chegara.

Mas infelizmente,após um tempo,a fome e a sede acabaram me vencendo,e por isso,me pus sentada em meu leito.Era uma espécie de ninho,cheio de palha,e algumas folhas secas.Eu não sabia se tinha sido feito para mim,ou se já estava lá a muito tempo,porém deduzi,pela aparência das plantas,que era uma construção recente.E aconchegante também.

Gostaria muito de lembrar como eu viera parar aqui,mas eu sentia como se tivesse batido minha cabeça,e até recordar meu nome falhava em minha memória.

Eu procurei meu cajado para usá-lo como arma de defesa,pois foi a primeira coisa que veio a minha mente enquanto eu recobrava melhor minha consciência ,e por sorte, o encontrei apoiado em uma das paredes da toca em que eu estava.Poderia jurar que as mesmas paredes estavam cobertas de musgos e outras plantas rastejantes.

Ainda sentada,eu tentei atrair meu cajado até mim com a mão,como sempre fazia,mas não consegui.Meus poderes,percebi em seguida, não estavam funcionando.Isso era um excelente gatilho para que eu me desesperasse,já que sem eles,eu ficaria mais vulnerável e fraca do que já me via.

Não aceitei a situação e arrisquei liberar minha magia por minhas mãos mais uma vez.Senti uma pontada no peito,e decidi que parar as tentativas era a opção mais inteligente.Eu estava sem meus poderes por algum motivo qualquer e ponto.

"Não,não pode ser!", era o que meu cérebro recitava para mim o tempo todo. "O que aconteceu com toda sua magia?Ela não pode simplesmente sumir assim!"

E o pior era que aquilo fazia sentido.Como assim agora eu era apenas uma fada sem...sem mágica?Uma fada...humana?Que espécie nojenta teriam me transformado?Quem fizera uma coisa dessas comigo?O que fizeram comigo?

Coloquei as mãos na cabeça.Eu ia acabar enlouquecendo de tanto pensar.Precisava agir.

Comecei a observar o ambiente a minha volta,em busca de qualquer brecha,qualquer saída para que eu pudesse fugir.Não encontrei nenhuma.O único que existia ao meu redor eram paredes e mais paredes que me cercavam e limitavam.Agradeci mentalmente por não ser claustrofóbica.