Capítulo 7

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Por mais que eu vivesse em contato com a aparência humana a diversos anos,sendo transformado nela,e atualmente,ficando "preso" de forma definitiva,ainda não compreendia com clareza algumas sensações,e ao ver minha ama ali,naquele exato momento,comecei a perder um pouco de minha respiração,e até minha vista ficou embaçada.

Concluí que poderia ser meu nervosismo.

Certo que tudo que estava acontecendo não tinha muito a ver comigo,já que o assunto entre Aurora e Malévola,até onde eu sabia,se tratava de Sophie,nossa recém adotada filha,mas a maneira como eu era ligado aquela trevosa fazia-me sentir o que ela sentia,passar pelo que ela passava,mesmo que fôssemos criaturas completamente diferentes,com gostos nada parecidos,e personalidades com nenhuma semelhança.

Comecei a perguntar-me se aquelas preocupações em mim eram provenientes de minha ama,que agora,eu visualizava a alguns quilômetros de distância,ou se tratava-se de ansiedade para saber as boas (ou más)novidades.Resolvi acreditar que a segunda opção era mais conveniente.

Minhas paranoias insistiam em sussurrar na minha cabeça que nada estava bem,porém procurei ser o mais otimista possível.Comecei a dizer para mim mesmo que as coisas estavam em seu devido controle e que Aurora havia entendido perfeitamente o que quer que sua mãe lhe dissera naquele palácio.

O problema maior era que eu não conseguia ter convicção disso.Nem um pouco.

Mesmo sabendo que nossa primogênita era uma garota muito doce,e compreensiva,eu ainda tinha meus receios de como ela havia reagido ao saber de Sophie,afinal,nós escondemos muitas coisas dela nos últimos meses.Muitas mesmo.

Acontecimentos felizes,festas,pedidos de casamento,tudo.Eram assuntos para serem compartilhados a todos aqueles que dizíamos amar,e Aurora estava no meio dessas pessoas.Na verdade,sempre esteve,e tinha total direito de ser informada sobre cada novidade.Mas,infelizmente,não fizemos da maneira certa.Não a notificamos de absolutamente nada.

Olhei para Malévola,que se aproximava cada vez mais,e meu coração acelerou,com uma pontada no peito inexplicável.Sophie,por sua vez,estava bem ocupada,se divertindo,e não notou minhas mudanças corpóreas drásticas.Suspirei de alívio.Assim,pelo menos,eu saberia que ela não iria se preocupar comigo.

Minha ama ainda não havia voltado seu olhar em minha direção.Perguntei-me o porquê ela não tinha retornado de Ulstead voando,já que odiava andar,mas lembrei que,depois dos traumas que o casamento fajuto dela com Borra,armado por Zeyn,tinham sido causados,minha noiva usava suas asas com menos frequência.Isso porque elas não tinham mais a mesma força de antes.Eu até tratei dos ferimentos que todo aquele sofrimento a causara,mas ainda assim,flutuar nos céus continuava doloroso para ela,e talvez,ficasse desse jeito por mais um bom tempo.

Algumas vezes,se arriscava alcançar as nuvens assim mesmo,sem importar-se com a tortura que isso a causava ou com o incômodo e cicatrizes,que horas,ou outras,abriam novamente.Como se não bastasse a ferida que Stefan a causara,e que ia permanecer tatuada na sua pele para sempre,agora,havia mais outra,criada por uma dor bem semelhante.

Eu só tinha a certeza de que iria cuidar daquelas marcas nela enquanto vivesse.

Com todo amor,faria isso.Nem que tivesse de refazer os enfaixados,e as pequenas cirurgias,todos os dias.

Tudo para não vê-la sofrer mais.Tudo para não vê-la sentir dor.

Olhei uma terceira vez para a fada das trevas,e fui correspondido.O rosto dela aparentava estar mais pálido,com a luminosidade que aquele dia de céu azul,sem nuvens estava nos proporcionando,e as suas pupilas em cor de verde,vívidas como as folhas de uma árvore forte e saudável resplandeciam.Ela já estava perto o suficiente para que eu pudesse notar esses detalhes,mas não o bastante para me conceder um abraço.

LOVE-MALÉVOLA E DIAVALWhere stories live. Discover now