Capítulo 48

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Os dias seguintes foram marcados por muita dor e tristeza. Angústia e lágrimas inconsoláveis estampavam as faces de todos os seres vivos de Moors. O céu ficou escuro e nublado, a luz do sol e da lua se retraíram. Até mesmo as estrelas perderam seu gracioso brilho.

Malévola estava desolada. Ela não conseguia comer, beber nem dormir. Todas as noites, tudo o que fazia era ir até a varanda de nosso dormitório e chorar. Eu a pedia para que tentasse descansar mas sempre como resposta recebia uma batida de porta na minha cara.

Seu comportamento me preocupava bastante pois agora ela não era mais a fênix imortal que podia massacrar a si mesma com seus ataques de pânico e tristeza e ficar por isso. Ela era uma fada trevosa comum que precisava se alimentar, se hidratar e descansar para viver bem. Até mesmo quando não era mortal, ela ficava debilitada ao deixar de fazer essas atividades essenciais.

Tinha de admitir que era difícil ajudar Malévola não só pelo seu temperamento complicado, mas também porque eu estava arrasado da mesma maneira que ela. Claro, eu comia, só que bem menos. Bebia água, só que de forma esporádica e dormia, só que quase nada preocupado com minha esposa.

Para mim, era como se Sophie não tivesse partido. Gostava de imaginar que ela estava apenas brincando de fazer joias no rio ou se divertindo por alguma outra parte da floresta encantada. Eu não aceitava que ela se fora para sempre. Eu não aceitava que tinha perdido as suas risadas, seus abraços amorosos e suas belas declarações de amor e devoção por mim e sua mãe que ela fazia todo santo dia.

Sophie tinha nos deixado de verdade. Para sempre.

Ela morrera tranquila nos braços de sua mãe enquanto voávamos e nos divertíamos no céu. A criança se foi ao passo que seus lindos cabelos loiros eram assanhados pela ventania das asas de Malévola mista as brisas frias que nos cercavam a cada vez que íamos mais longe.

Minha esposa não sorrira em nenhum instante quando experimentamos o alto dos céus junto a nossa filha. A trevosa estava tão preocupada, tão receosa que tudo que conseguia fazer era apenas bater violentamente as suas belas asas. Cada vez que Sophie tossia, Malévola descontava a dor de estar perdendo a filha em movimentos agressivos em seu par de órgãos alados.

Quando estávamos voando nós três juntos, pude ver, mesmo que de forma embaçada, lágrimas escorrendo pelo rosto de Malévola e sendo enxutas pelos ventos. Sophie agarrava-se a mãe e parecia cochichar algo para ela. Provavelmente boas palavras, ou uma despedida.

Até que sua hora chegou. E antes de partir, ela me acenou com sua mãozinha gorda e pequena. Um largo sorriso inundou seus lábios e neles eu pude ler a frase "eu te amo,pai".

O fôlego dela foi tirado de seu corpo. O seu ar foi embora, junto aos ventos. Sua alma partiu para um outro lugar.

Com certeza, um lindo paraíso.

Malévola percebeu na hora que Sophie tinha morrido,pois as mãos da garotinha se afrouxaram de seu pescoço e seu corpinho frágil por pouco não foi derrubado chão abaixo.

Minha esposa se desesperou tanto que perdeu completamente seu equilíbrio e se entregou a uma queda livre.

Eu a segui, crunindo agoniado. As asas dela pararam completamente de bater. A fada não tinha expressão ou reação alguma.A única coisa que ainda conseguia fazer era apertar Sophie entre seu peito enquanto ia despencando para mais e mais baixo.

Ela caiu.

Mas não em um lugar perigoso.

Malévola tinha caído em um emaranhado de arbustos que aplacaram seu acidente,idênticos aos que eu caí no dia em que ela fora baleada por uma aliada de Ingrith nos céus.

LOVE-MALÉVOLA E DIAVALWhere stories live. Discover now