Capítulo 11

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Malévola

Aquele não parecia tratar-se de um lugar que eu já conhecera antes.Na realidade,não aparentava ser nem mesmo um lugar,onde se podia existir vida.A escuridão,o mau cheiro,que me causava náuseas,o ambiente imundo,tudo aquilo recordava aqueles espaços específicos,onde os humanos,moradores de Ulstead jogavam os seus entulhos,e refugos,de comida,só que mil vezes pior,e mais desconfortável.Lembro bem que a única vez que voei por cima de uma ilha de dejetos assim,me fez querer nunca passar por aquele caminho outra vez.

E agora,cá estava eu,num lugar que se assemelhava a este,que tanto repudiei.Não sabia como havia parado aqui,mas tinha consciência que não fora intencionalmente.Qualquer criatura,por mais perturbada que fosse,não gostaria de passar um minuto sequer onde eu me encontrava.

Meus pés,descalços,se feriam com facilidade,em objetos espalhados pelo chão.Objetos estes que não pude identificar de que material cortante eram feitos.Meu corpo inteiro,sentia um calafrio avassalador,mesmo que as temperaturas não fossem das mais baixas,e por mais alguns instantes ali,era certo que eu acabaria desmaiando.

Procurei por algum conhecido.Alguma voz.Qualquer sinal.Nada,encontrei.Diaval não estava ali.Aurora,não estava ali.Sophie,muito menos.Por alguns instantes,tive vontade de chorar.Eu me encontrava sozinha.E não fazia a menor ideia de como voltar para casa.

Tinha esquecido o caminho.Não lembrava nem ao menos como se voava.Senti-me semelhante a uma criança trevosa,que ainda está aprendendo a usar suas asas.

Acontece que eu não era mais uma criança.

-Diaval? -gritei,o mais alto que permitia minha voz -Aurora,Sophie?

Não obtive qualquer resposta.

-Eles não vão vim te salvar,Malévola -desdenhou um sussurro,pouco agradável.

-Que...quem...quem está aí? -questionei,aflita.

-Seu pior pesadelo! -murmurou a voz,em uma risada maléfica.

De repente,fui transferida para um outro local.Não era fétido,como o antigo,que eu estava antes,e se encontrava ao ar livre.Observei melhor,e vi que existia um abismo abaixo de meus pés.Fui acorrentada,misteriosamente,e por mais que eu gritasse,pedisse socorro,minha voz não era liberada por minha boca.

Um filme começou a passar pela minha cabeça.Vi Aurora,ainda bebê.Vi o dia que adotei Sophie.Vi quando Diaval se declarou para mim.Aquelas eram algumas das melhores memórias da minha vida.

Após cada cena,cada imagem,que me fora apresentada em riqueza de detalhes,notei uma angústia crescendo dentro de mim,junto a um eco interior que me repetia:

"Você destruiu tudo isso."

Não compreendi o porquê estava ouvindo tal coisa.Não entendi o motivo de estar ali.

Ao olhar ao meu redor com mais exatidão,percebi algo diferente.O abismo em que eu me encontrava tinha um outro lado,que eu conhecia bem.

Moors.

A floresta estava ali,ao meu alcance.

Tentei em vão voar até lá.Minhas asas não estavam machucadas,nem nada assim,porém eu achava-me presa nas mãos e pés,por utensílios bem mais fortes que correntes.Após diversas investidas fracassadas de sair do meu lugar,fui rendida ao cansaço,e caí de bruços no chão,coberto de musgos,daquela pequena ilha no meio de um imenso buraco que eu havia sido posta.

Olhei mais uma vez para o ambiente,sem força alguma para emitir sons de súplica.Observei o que podia fazer para escapar,até me deparar com Aurora.

LOVE-MALÉVOLA E DIAVALWhere stories live. Discover now