Capítulo 13

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Uma brisa fresca balançava meus cabelos lentamente. De uma certa forma, o movimento da natureza me acalmava um pouco. Voei para tão longe com meus pensamentos distantes, que nem notei quando começou a chover, ou para onde estava indo. O céu azul deu espaço a um amontoado de nuvens, que atrapalhavam minha visão de voo, e suas águas ácidas começaram a molhar todo meu corpo, deixando minhas roupas totalmente justas a minha pele.

Me vi obrigada a pousar, por já não estar conseguindo enxergar bem por onde eu voava. Meus olhos ardiam, como se eu tivesse chorado horrores, porém nenhuma lágrima a mais havia sido derramada. Não entendi o que estava acontecendo comigo.

Senti meus pés descalços serem inundados por uma areia fria, mista a algumas pedrinhas meio pontiagudas.

Estava numa praia, constatei. As conchinhas do mar, grudadas ao chão perfuravam levemente meus dedos, porém não me incomodavam. Apenas faziam cócegas.

Apesar do tempo ter escurecido de uma hora para outra, mesmo de dia, embaçando o ambiente em uma tempestade escura, consegui identificar que lugar era aquele. Que praia era aquela. Eu conhecia onde estava.

Engraçado imaginar que um dia já estive aqui, chorando por Aurora, quando ela escolheu Ingrith a mim, me traindo a confiança e duvidando de minha índole naquele jantar . E mais hilário ainda era pensar que o mesmo motivo me trazia aqui de novo. Ela.

Lembro bem que eu havia passado um bom tempo observando o mar, e o movimento de suas pequenas e tranquilas ondas irem e virem, enquanto eu abraçava a mim mesma, tentando aplacar meu frio. Era tudo igual agora . Estava acontecendo de novo.

Jamais pensei que esse episódio se repetiria. Para mim, depois que tudo ficou bem, não me passou por um segundo que eu voltaria aqui. Na verdade, era por acaso que nesse lugar eu estava novamente. Voar sem rumo, sem direção, muitas vezes nos traz consequências e coincidências bizarras.

Mordi o lábio inferior rachado, com a intenção de hidratá-lo, e senti um forte gosto de sal, decorrente dos ventos marítimos que me cercavam, e batiam em minha face.

Fiz uma cara feia. A sensação era tão amarga quanto a situação que minha vida se encontrava.

Me perguntava o porquê. Qual o motivo disso tudo? O que fiz para merecer?

Tudo bem -constatei, esfregando minhas mãos uma na outra, para tentar aquecê-las. Não era muito funcional, já que a chuva continuava a me molhar -Eu tinha errado com Aurora dessa vez. Tinha a agredido, de todas as formas possíveis. Mas mesmo assim, por quê?

Meu nariz começou a obstruir -para variar um pouco -me informando que estava na hora de eu procurar um lugar para me esconder da tempestade, ou do contrário, pegar uma gripe bem desastrosa. Raios e trovões começaram a aparecer no céu, e meu coração errou uma batida. Admito ter um pouco de fobia destes barulhos - mesmo se fosse eu que os causasse - , inclusive estando sozinha , o que era o caso no momento. Me sentia muito vulnerável.

Se Diaval estivesse aqui, eu não sentiria medo. Mas estava na solidão por minha própria escolha.

Lembrei das palavras dele, do como queria me ajudar a voltar para minha vida normal. Aquilo foi tão bom de se ouvir. Me perguntava o que tinha acontecido comigo, para não ter aceitado.

Meu noivo oferecera a mim  sua mão, sua ajuda e sua total disponibilidade. Eu me incriminava por não ter simplesmente colaborado dando uma resposta positiva para ele, mas ao mesmo tempo, céus, por que não consegui me controlar mais uma vez? Por que não detive toda a amargura que no meu ser crescia, e que nem culpa de Diaval era ?No fundo, bem lá no íntimo, eu gostaria de ter dito um sim para ele, ter dito que queria voltar a viver , esquecer o que no castelo aconteceu, torcendo para que o tempo, por si resolvesse a questão que ficara pendente, entretanto, nisso Aurora tinha razão. A cada dia, eu perdia mais um pouco de meu bom senso.

LOVE-MALÉVOLA E DIAVALWhere stories live. Discover now