10 - Um coração heróico.

1.2K 197 156
                                    


— E VOCÊ ACHA QUE AGIR DESSE JEITO É HERÓICO, SHINSO? — eu hesitei. Ela gritou com toda a força, com os pés ainda congelados no mesmo lugar.

Eu finjo não a ouvir enquanto a porta se fecha atrás de mim. Minhas mãos passam pelo meu cabelo e eu respiro fundo — estão frias e minhas pernas tremem.

"E para onde Hitoshi impulsivo de apenas alguns minutos pretendia ir quando abriu aquela porta?" — o ar gélido da tarde de Musutafu passa por mim enquanto pondero. Treinar, é claro. Meus passos são as únicas coisas ecoando na vizinhança calma onde eu moro, e por alguns breves momentos enquanto admiro a paisagem, minha respiração se regula. Onde eu poderia treinar?

Na escola. Eu me viro e caminho na direção oposta de onde eu involuntariamente estava indo, e evito ao máximo voltar a passar na frente do prédio onde moro. Meu celular. Eu o pego, discando alguns números e uma voz surpresa se pronuncia do outro lado da linha. Mesmo que ele não pudesse me ver, mantenho a mesma expressão estoica de sempre antes de escolher cautelosamente minhas palavras:

— Midoriya. Você gostaria de treinar comigo, em uma das quadras do ginásio? Corpo a corpo. Sem individualidades. — minha voz soa arrastada e grossa como sempre, e eu consigo ouvir sua inquietação antes que me respondesse.

— Ah, claro Shinso! Você tem alguma data em mente? — a animação em sua voz consegue arrancar um mínimo sorriso de mim antes que eu percebesse e voltasse a ter a mesma feição séria de sempre, chutando uma pequena pedra no meu caminho.

— Sim, agora. — respondi de forma franca. Midoriya sobressalta e consigo sentir de onde estou o quão nervoso ele está.

— Oh, ahn... C-Claro! Eu estou indo! — alguma coisa cai e seus passos rápidos, porém pesados ecoam pela chamada. Eu murmuro um "ótimo" e desligo a chamada, olhando para os nomes na minha lista de contatos. Não são muitos.

"[XXX]". O nome deixa um sabor amargo em minha boca, mesmo que eu sequer tenha o dito, e uma sensação de arrependimento se arrasta por todo o meu corpo. Talvez eu tivesse falado demais, sobre algo que ela nem tinha controle sobre. Também estava se provando diferente de todos os outros alunos que tive de conviver — ela até conversava e saia comigo. Ela não me julgou pela minha individualidade. Porém, estar com eles me fez deixar de lado a minha ânsia pelo desejo de ser um herói. Mas talvez isso fosse inteiramente culpa minha— não.

Eu não tenho intenção de fazer amigos.

Eu não tenho intenção de fazer amigos.

Eu não tenho intenção de fazer amigos.

Eu sei muito bem como isso acaba, e eu definitivamente não gostaria de passar por tudo aquilo de novo, se for possível. Amigos apenas irão me enfraquecer e ser uma pedra no meu caminho. "E eu não acho que sinceramente algum deles gostaria de ser meu amigo assim que descobrisse pelo menos algumas coisas sobre mim". Suspirando, eu olho para o pequeno parque em frente de casa.

Sem perceber, um sorriso amargo aparece em meu rosto e memórias invadem minha mente.

Ah, cuidado! É aquele vilão de novo! — a criança de boné vermelho e cabelos negros diz, apontando para mim. Você ainda não aprendeu sua lição? Nós aqui somos heróis, não somos como você! Vá embora! — ele joga uma pedra, que raspa em meu braço, cortando levemente.

Ei, Ryoka, cuidado! Ele pode usar sua individualidade se você ficar falando com ele assim! — uma pequena garota loira o alerta, e meu eu passado nega com todas as forças que tentaria fazer tal coisa. Ela não responde.

𝑰𝑵𝑺𝑶𝑵𝑰𝑪𝑶 | Shinso HitoshiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora