48 - Memórias antigas, experiências novas.

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Você dançava em volta do assunto de seu pai com sua mãe lentamente: sabendo que ela ainda estava terrivelmente magoada com o desaparecimento repentino do patriarca, você sabia que não era um assunto fácil de se trazer, e muito menos de esconder, ciente do quão chateada ela ficaria.

Era uma situação complicada na qual você nunca se viu antes.

Você pensava em estratégias, num jeito de saber se deveria contar ou não para Ayane sobre Ryuzen. Enquanto sua mente corria livremente, você usava sua individualidade para levitar no ar, com pesos amarrados na ponta de seus pés: era um novo treinamento que seu pai estava testando com você.

Depois do treino de ontem com Ectoplasm, você se abriu um pouco com Hitoshi – Todoroki estava ocupado, e seria bom receber uma segunda opinião de qualquer forma. Você lhe contou tudo; desde o hotel até os treinamentos, Shinso ficou sabendo da situação inteira que lhe assombrou durante os últimos dias:

– [YYY], isso é... Mais do que eu esperava que estivesse acontecendo.

Você se arrumou e cruzou suas pernas, ficando mais confortável no chão ao lado do amigo. As aulas haviam acabado há alguns minutos, e ao invés de irem embora diretamente, você resolveu que contaria a Hitoshi o que se passava, aproveitando que não haviam nenhuns ouvidos curiosos ao redor.

– É. Eu não achei que estava me metendo em um nó tão emaranhado quando li aquele e-mail. – Hitoshi coçou a nuca, como sempre, e ficou em silêncio por alguns segundos.

De olhos fechados, você tinha uma melhor visão de suas olheiras profundas. O ar frio da brisa gélida da tarde agitava os pelos do seu braço.

– Mas você nunca teve curiosidade? Se eu não conhecesse meu pai, sempre teria essa dúvida, de saber como ele é.

Você coçou o braço esquerdo, desviando o olhar. Mesmo sabendo que ele não conseguia te ver, você se sentiu envergonhada de encarar por tanto tempo – talvez fosse uma ansiedade social, ou a timidez de admitir um tópico que você guardou no coração a sete chaves – seu rosto ficou mais quente.

– Minha mãe não tem uma individualidade...

Escapou seus lábios fragilmente.

Hitoshi abriu os olhos, levantando as sobrancelhas. Era incomum que alguém não tivesse algum poder – e parte dele ainda pensava daquele jeito injustiçado onde todos possuem individualidades heroicas, menos ele, mas ele não comentou nada: ficou em silêncio, esperando que você continuasse seu monólogo.

– Quando eu era mais nova, sempre acabava pensando nele quando usava minha individualidade. Eu falei, minha mãe não tem uma individualidade, sabe, então essa veio totalmente dele. Minha avó era meio que uma vidente, mas dela só consegui alguns sonhos premunitivos.

Você voltou a olhar Hitoshi nos olhos. O púrpura no [cor dos olhos]. Você via seu reflexo no fundo deles.

– É óbvio que eu já pensei sobre ele. Queria saber por quê ele deixou minha mãe, ME deixou. Às vezes, imaginava como seria ter uma família completa. Participar das atividades do ensino fundamental, fazer a ele um daqueles cartões de dia dos pais. Mas, daí, me consolo.

Shinso colocou uma de suas mãos sob a sua, sem tirar os olhos de seu rosto. Ele então passou a esquentá-la, ao perceber o quão fria estava, com suas palmas. Era um apoio moral para que você continuasse.

– Acho que por eu não me lembrar dele de quando eu era pequena, eu tinha uma proteção em poder imaginá-lo de qualquer jeito que eu quisesse. Podia imaginar ter o melhor pai do mundo, sem saber ou não se seria o caso. Mas agora... Eu sei a verdade. Eu conheço sua personalidade: minha imaginação cessou.

𝑰𝑵𝑺𝑶𝑵𝑰𝑪𝑶 | Shinso HitoshiWhere stories live. Discover now