XXIV - O caminho certo

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     O objeto irradia uma luz extremamente intensa e cegante. Fecho os olhos para me proteger e sinto uma sensação de água subindo pelos meus pés lentamente até atingir a linha do meu joelho em uma aflição agoniante do líquido gélido rastejando penas minhas pernas. Assim que deixo de sentir o peso do espelho nas mãos, torno a abrir os olhos e abaixar os braços.

     O lugar no qual me encontro é o castelo de Marianne, mas este mostra um ambiente frio, escuro e inundado pela mesma água escura e viscosa que vi outrora no lago.

— Marianne!? — grito tentando chamá-la. — Você está aí?

    Sem resposta, como imaginei. Ponho-me a procurá-la na esperança de ainda não ser tarde demais. Subo as escadarias do castelo para chegar no corredor que a havia encontrado pela primeira vez. Sigo até o quarto e… nada. O quarto está completamente apagado e o espelho da penteadeira onde se arrumava está completamente quebrado.

Decido continuar minha procura, vasculhando todos os quartos que encontro neste castelo, mas todo estão vazios. Meu coração palpita a cada corredor que percorro com receio de tudo isso estar sendo em vão. Eu tenho que ter voltado por algum motivo e isso não pode acabar assim. Lembro-me de quando a vi pela primeira vez. Naquela sacada logo acima do jardim. Sigo para aquele corredor e me deparo com aquela linda porta dupla de vidro novamente. Corro para abrí-la e chego na sacada. Vou até o parapeito e me ponho a observar o extenso jardim que agora possuía um denso labirinto de arbustos por baixo do noturno céu acinzentado. Ponho-me a traçar um caminho para poder chegar ao fim dele até que sou interrompida.

— Olá… O que você faz aqui? — Uma voz doce e infantil me surpreende.
— O quê? — Viro-me rapidamente e me surpreendo com a criança que vejo em minha frente. — Ah… Olá… Eu estou procurando uma pessoa. — Digo tornando minha atenção para a garotinha. — E você? O que faz aqui?
— Eu não sei… Acho que estou perdida. Não consigo encontrar uma saída.
— Eu posso lhe ajudar? Também estou procurando uma saída. Qual é o seu nome, mocinha?
— Está bem. — Responde segurando em minha mão. — Eu me chamo Amália. E você?
— Que coincidência. Eu também. — Rio com um sorriso bobo no rosto. — Vamos. Precisamos sair daqui.

     Conduzo, então, a minha versão menor que aparenta ter seus 7 anos. Percorro com ela pelos longos corredores e descendo as escadarias até atingir o primeiro andar alagado novamente.

— Nossa! Essa água é muito gelada. — reclamou ao mergulhar seu corpo nela.
— Está? Eu acabei não notando… Logo sairemos daqui e não precisará mais sentir esse frio.

     Caminhamos até a porta de saída do castelo e eu a abro. A água que estava dentro do castelo vaza para fora e é absorvida pelo gramado. À minha frente, vejo muros altos cobertos por folhas e apenas uma entrada pela qual sigo. Tento manter claro o trajeto que marquei em minha mente, porém, ao me deparar com uma bifurcação, a jovem Amália sugere:

— Vamos por este lado. — Apontando para a direita. — Eu sinto que a saída é por aqui.
— Você tem certeza? Não podemos demorar, pois pode ser tarde demais.
— Confie em mim. Eu já estive aqui antes.

     Decido seguir seu conselho. Passamos por diversas bifurcações e direções que ela me propõe até que demos de cara com uma parede. Sinto uma tristeza e um desapontamento muito grandes ao me deparar com um beco sem saída depois de tanto tempo caminhando.

— Amália... Você disse que sabia o caminho. O que aconteceu?
— Eu não sei… Eu tinha tanta certeza… Acho que devo ter me enganado em algum dos caminhos... — Diz visivelmente confusa e chateada.
— Não fique assim. Olha… Vamos apenas voltar e ir por outro caminho, tudo bem?
— Certo…

Amália e o Mundo dos EspelhosМесто, где живут истории. Откройте их для себя