XVI - Solidão

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"Em determinados momentos de nossas vidas, somos postos a sacrificar coisas muito importantes para nós. Você estaria pronta para fazer isto agora, Amália?"

     Acordo repentinamente no que parece ser um corredor longo e obscuro. Iluminado apenas por fracas lamparinas presas às paredes e ecoando os passos de minhas sapatilhas sobre o piso liso do caminho inteiramente branco. O mofo nas paredes incomoda meu nariz e me desmotiva a continuar, porém alguém me pressiona a manter o passo me agarrando forçadamente pelo braço enquanto outro alguém também segura o outro. Após um gemido de dor, coloco-me a caminhar novamente de forma descompassada até finalizar o trajeto chegando ao fim do corredor.
     As duas pessoas abrem o que parece ser uma porta de ferro muito pesada e barulhenta. O barulho da enorme passagem enferrujada se abrindo me causa arrepios. Não consigo ver os rostos dessas pessoas que me conduziam devido a iluminação parcial do local, mas pelo porte pareciam ser dois homens robustos.
     Assim que a sala se abre, sou atirada para dentro e na mesma hora os dois homens fecham aquela enorme placa de metal para me trancar. Corro até ela para tentar escapar, mas é inútil e não consigo movê-la um centímetro sequer.

— Socorro! Que lugar é este!? Deixem-me sair! Me tirem daqui!

     Minhas batidas na porta produzem um som extremamente alto das placas de metal vibrando, mas ninguém viria me atender. Estou agora presa nesta sala de iluminação até pior do que a que havia notado no corredor. A diferença é que esta é terrivelmente úmida e não consigo evitar de pisar constantemente em poças d' água. Não faço a menor ideia do que é esta sala.
     Um som do mesmo bater de metal que havia ouvido atinge meus ouvidos novamente, desta vez proveniente da outra extremidade da sala. Caminho lentamente na direção da origem do ruído ouvindo alguns passos se aproximarem.

— Pare aí mesmo! — Grita uma voz masculina que me dá arrepios. — Eu mesmo vou lhe buscar.
— Q-Quem é você..!? — Gaguejo receosa.

     O homem ignora qualquer necessidade de resposta e sua silhueta se aproxima de mim cada vez mais rapidamente até agarrar meu braço com força e me arrastar bruscamente até onde ele deseja. Suplico para que me solte e que pare de me machucar, mas só o faz ser ainda mais agressivo. Chegando ao que parecia ser o destino, ele me empurra para cima de uma cadeira de madeira.

— Peço para que permaneça imóvel durante todo o procedimento de hidroterapia. Se assim o fizer, não nos vamos demorar. — Diz grosseiramente.
— Hidroterapia!?

     O homem se permeia por entre a escuridão e perco ele de vista. Não consigo ter um impulso sequer para me levantar. O medo me travou completamente nesta cadeira. Passo alguns longos instantes abandonada à quase escuridão até que uma luz muito forte e grande me cega repentinamente. A luz continuava acesa como uma lanterna e abaixo dela havia uma espécie de cano.

— Olá!? Eu não entendo o que está acontecendo. Onde estou?

     Assim que finalizo meu questionamento vejo o cano desferir uma rajada de água de forma muito forte e veloz em minha direção. A água atinge meu corpo com tanta velocidade que sinto até um calor muito intenso no impacto. Tento me proteger com meus braços, mas o jato é tão forte que não me permite fazê-lo. Depois de alguns segundos, a torrente cessa e o calor agora se torna um frio tremendo que me arrepia a pele. Sinto meu coração batendo forte no peito que respira com dificuldade após quase ter sido afogada.

— Paciente 5214. Diga como se sente.
— Está falando comigo? — Indago à escuridão.
— Obviamente. Por algum acaso há outro paciente 5214 aqui?
— E onde seria "aqui"? — Questiono incerta.

     Sem resposta, recebo um novo jato de água no peito. Tamanho é o impacto desta vez que a cadeira na qual sento se vira para trás e caio de costas no chão. A água se silencia novamente e eu me ponho a levantar com dificuldade. Tentar sustentar meus membros com tamanho frio dessa água gélida é tremendamente doloroso. Assim que me levanto decido ir até a fonte da água.

Amália e o Mundo dos EspelhosWhere stories live. Discover now