Capítulo 30

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XXX

Logo, a música, que começou com Mairon, se transformou numa música totalmente diferente, e dessa vez sem dissonância. Melkor desta vez estava guiado por Mairon, e por isso a canção que ele cantava não destoava. Dessa vez não somente os ainur participaram, mas também os eldar e edain. Eles, de fato, não haviam retornado de Mandos para lutar na Dagor Dagorath, mas para servir de criadores na nova canção.

Após a mesma, sem se segurar mais, Mairon e Melkor se beijaram na frente de todos. Mairen ficou encantada, mas Moriel ficou a observar os que estavam em volta. Eles estavam perplexos por perceber que ambos haviam sido poupados até para a Ainulindalë. Que era aquilo? Especialmente Túrin se sentia indignado, até que transbordou essa indignação:

- Eles foram perdoados?

Todos permaneceram em silêncio. Pelo visto, haviam sido. Mas ninguém ousava quebrar o silêncio. Túrin porém continuava enfezado:

- Eles foram perdoados?! Os que amaldiçoaram a minha família, os meus pais?! Como assim?!

Vendo que aquilo não ia acabar bem, alguns dos eldar que eram amigos de Túrin o afastaram do vala negro e de sua família e tentaram distrai-lo, dizendo que com certeza o castigo deles ainda viria. Eru era quem cuidaria de tudo.

Depois ficaram sozinhos, um olhando pro outro. Ao que parecia, pelo tema da nova música, já estavam na nova Arda. Por isso, não sabiam o que fazer. Após um longo tempo, Melkor enfim falou:

- Mairon, acho que deveríamos procurar um lugar pra ficar.

- Sim, pra variar. Mais uma vez - e espero que seja a última!

- Verdade. Mas vamos, aí quem sabe possamos entender direito o que está acontecendo.

Assim foi. Por um tempo considerável, ambos construíram uma nova residência a si, e várias novas casas a seus servidores. Sem mais guerras, Moriel olhou para tudo aquilo e indagou:

- O que eu vou fazer se não serei mais general de guerra?

Mairon então lhe disse:

- Ah, filho, não sei. Pode usar a sua disciplina para fazer diversas coisas.

- Ou então tentar se apaixonar! - interpelou Mairen - Quem sabe assim descobre que seu coração não é de pedra?

Moriel fez uma cara feia e respondeu:

- Perda de tempo. Apaixonar-se pra que? Pra ser infeliz? Pra perder a razão? Não, muito obrigado.

Mas Melkor disse em seguida:

- Eu por muito tempo tive receio de amar, meu filho. Mas veja só... estou com sua mãe! Digo... seu pai. Digo... ah, enfim!

- Mas é por isso mesmo que não quero. Mairon se perdeu muitas vezes porque seguiu o seu caminho...

- Moriel, não fale assim da mamãe! - ralhou Mairen, mas Melkor fez um gesto de não se importar em demasia.

- Ele um dia vai saber. Vai chegar a hora dele! E de mais a mais... eu não seria ninguém sem Mairon.

Sendo assim, ambos os ainur se beijaram novamente, mas de qualquer forma ainda se sentiam um pouco perdidos. A nova Arda estava existindo e provavelmente florescendo lá fora, mas eles não fariam parte dessa construção. Não tinham coragem de sair e tentar socializar com os demais. Nos primeiros tempos foram realmente bastante isolados dos demais, vivendo apenas para si, como sempre fora até então. Mas como Eru dissera, a entropia de Melkor era necessária.

Alguns dos eldar e edain os procuraram. No começo, o hábito de hostilizá-los fez com que Mairon, Melkor e mesmo Moriel não os quisessem por perto. Mas após algumas visitas, eles começaram a aceitá-los melhor.

O filho da escuridãoTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon