Capítulo 23

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XXIII

O maia piscou algumas vezes antes de enfim seu cérebro terminar de processar a informação.

- Como?! Como deixam escapar a um pequeno?! Chamem aos Nazgûl, quero fazer uma reunião com eles agora!

Assim foi feito. E no meio dos gritos e impropérios de Mairon, eles explicaram o que aconteceu. Chegaram tarde demais, quando interpelaram a um dos demais pequenos que morava perto de onde o tal Bolseiro vivia, lhe fora dito que saíra há pouco.

- Saíra há pouco! Saíra há pouco! E não o perseguiram?! E não sequestraram o outro pequeno para obter informações!

- O senhor nos disse para não declarar guerra ou agir de maneira indiscreta, por isso não o fizemos.

Mairon engoliu em seco. Era verdade. Mas é que ele cria que ia ser mais fácil! Que um pequeno não podia dar tanto trabalho!

De qualquer forma os Nazgûl continuaram:

- Nós perseguimos o rastro dele depois.

- E?

- O atacamos no Topo do Vento. Ele agora está sob o poder do veneno de uma das facas de Morgul.

- Então logo vira espectro! Mas então por que não o trouxeram para a Torre Negra?

- Porque ele não está sozinho. Tem mais alguns pequenos junto dele, e também um sujeito, um guardião do norte, um dos edain provenientes da antiga linhagem de Númenor.

- Essa gentalha, por que não morreram todos no naufrágio da ilha?! Maldito Elendil! De qualquer modo...

- Eles entraram em Valfenda. Por isso perdemos nossas antigas montarias e também as vestimentas que impediam os outros de nos reconhecerem em nosso pleno poder.

- Em Valfenda?! Meu Anel está em Valfenda! Como isso foi acontecer?!

E em desespero Mairon dispensou os Nazgûl e foi chorar no colo de Melkor - uma das poucas vezes em que sua família ou seus servidores o viram assim tão fora de controle.

- Elrond nunca se rendeu quando eu ia de Annatar tentar conquistar a confiança dos outros eldar! Estou perdido!

- Calma, meu amor. Ele não pode dominar o Anel. Ou pode?

- É isso que não sei! A vontade dele ainda não foi testada, não sei se resistirá. Mas e se conseguir dominá-lo?

- Eu vou lá e o tomo dele. Simples.

- Mas então vão te descobrir...

- Descobrir, descobrem. Mas não vão conseguir me destruir. Pronto. Fique calmo, meu amor.

- Eu não acredito que você é quem está me consolando e colocando racionalidade em minha cabeça, quando esse sempre foi o meu papel em relação a si no passado.

- É que você, meu bem, antes estava nos bastidores e eu sob o alvo de toda essa gente. Agora é o contrário, você está em primeiro plano e eu não. Por isso enxergo as coisas de modo diverso. Mas não se aborreça. Eu vou cuidar de nós, está bem?

Ao ouvir o consorte falar daquela forma, Mairon sorriu. Sentiu-se tranquilizado, pois afinal de contas não usara sequer uma parte de todo o seu poder. Mas veria o que ocorreria em relação àquilo de o Anel estar em Valfenda.

Com o tempo, enviou batedores para espionar os arredores de Valfenda. E logo percebeu que partiram de lá. Não, Elrond não dominara o seu Anel. Mas então que iam fazer com ele?

Logo também descobriu que com eles estava Olórin, o qual chamavam de Gandalf, e por isso não colocou os Nazgûl ao encalço deles - provavelmente não teria poder para tanto, mesmo todos contra ele. Então, quase desesperado, foi em busca do palantír.

- Vai logo, Curumo, olha logo na pedra! Olha!

Quando o outro maia enfim olhou, Mairon praguejou com ele.

- Por que demorou tanto?!

- Não sabia que vossa senhoria, o Senhor da Terra, estava tão necessitado de meus humildes conselhos.

- Não é hora pra brincadeira! De qualquer modo, Curumo, você sabe o que Olórin sabe sobre o meu Anel?!

- Ah, agora lhe interessa saber o que eu sei sobre seu Anel, não?

- Ora, vamos! O que ele sabe? Você é chefe da ordem dele!

- Ele sabe quase tudo.

Mais uma vez, o maia engoliu em seco. Mas Curumo, fingindo não perceber o desespero do antigo companheiro de forja, continuou:

- Ele estudou esse assunto assim que um dos amiguinhos hobbits dele estava de posse do seu Anel.

- Hobbit? Que diabos é isso? Por um acaso é um povo pequeno que...

- Sim, que vive no Condado. Uma terra de ratos, mas tem uma boa erva de fumo.

- Sempre foi inclinado para vícios!

- Melhor que você, que sempre foi viciado em controle e em um certo vala. Mas tudo bem, continuemos. De qualquer modo, ele estudou o assunto porque o hobbit não morria ou envelhecia, e acabou descobrindo sobre o seu Anel.

- E não fez nada? Não o tomou para si?

- Não. Ao menos não até agora.

- Que querem com ele então?!

- Não sei. Pois veio ele me pedir auxílio sobre essa questão, e eu não te traí, Mairon. Eu o prendi em uma das mais altas torres daqui, mas ele escapou. Ele tem muitos amiguinhos sujos que o auxiliam, e agora está com esses tais de hobbits e mais uma cambada de edain, talvez uns eldar, pra fazer nem me pergunte o que. Mas ele está de posse do seu Anel.

- De posse do meu anel.

- Indiretamente, através de um pequeno tolo, mas está.

- Se eu ao menos tivesse sabido do Condado antes!

- Ia dar na mesma. Os Guardiões do Norte protegem a terra e iam avisar a Olórin da mesma forma.

- Pois sim. Isso só pode significar uma coisa, e quero que me ajude nela.

- O que.

- Guerra!

O olhar de Mairon ao proferir essas palavras era tão sinistro, que até Curumo se surpreendia com ele. Mairon continuou:

- Eles querem o meu Anel, colocam Olórin no meio de tudo e mais esses herdeiros de Gondor no meu caminho. Eu, que só queria governar aos meus povos e à minha casa em paz! Pois bem. Não lhes diga nada por enquanto, Curumo, mas Melkor está louco pra guerrear e acho que finalmente chegou a hora de ele começar a agir.

- Isto não me é mais de grande serventia, Mairon. Não tenho mais tratos com os Istari. Tenho enorme desprezo por eles, e parece que com Olórin me desmascarando eu não mais serei procurado por eles.

- Então ajude-me na guerra. É o único lado ao qual pode pertencer agora.

- Pelo que vejo, é o que me resta.

Em silêncio e de forma soturna, Mairon se desconectou do palantír. Chamou a Melkor, Moriel e Mairen, e então lhes expôs o que intentava fazer.

- Melkor, parece que enfim chegou a nossa hora de voltar a agir. Como nos velhos tempos. Chegou a hora da guerra.

Mairen se surpreendeu e Moriel se demonstrou a postos, pronto a mais uma vez chefiar os exércitos de seu pai. E quanto a Melkor... este somente sorriu ante a possibilidade de poder esmagar e destruir novamente, como nos bons tempos.

To be continued

OoOoOoOoOoOoO

Gente, por isso que a Saurita dançou! Achou que alguém ia dominar o Anel e não destruir! Acho que essa obsessão dele por controle o fez ver as coisas de forma errada... já se o Anel fosse do Melkor, o mesmo ia pensar em destruição, pois ele adora destruir!

Beijos a todos e todas!

O filho da escuridãoWhere stories live. Discover now