Capítulo 8

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VIII

Moriel estava ainda preocupado com aquilo de Mairon ir em direção ao Vazio para ver Melkor. Quanto tempo seria necessário esperar até saber se devia ou não partir em busca do tão difícil sonho de seu pai de trazer Melkor de volta. Não tinha notícias dele, não sabia direito o que fazer.

Até que recebeu uma chamada no palantír. Ficou feliz - pelo menos por enquanto não precisaria se preocupar em sucedê-lo.

Atendeu-o, e ele estava chorando.

- O que tem, meu pai?

- Eu consegui...! Vi a teu pai no Vazio!

- É? Que bom! E está chorando por que?

- Não consigo parar de chorar desde que voltei. Aquele pessoal edain tentou me acordar mas eu estava com meu fána quase como morto na sala do vaso dourado aqui no templo. É uma sala que tenho. Tentaram me acordar, fazer de tudo. Mas voltei após muito tempo. Exauri muito as minhas energias para ir vê-lo lá. Se não fosse o Um Anel e as almas que eu corrompi a meu serviço, não conseguiria fazer isso. Mas tudo bem. O importante é que o vi. E agora... virá a parte mais importante do plano.

- Trazer a seu fána de volta.

- Sim. Consegui bastante fogo negro e falta apenas mais um pouco para o necessário para que seja feito um novo fána a ele. Apenas espero que eu acerte. Por favor filho, torça por mim aqui.

- Eu torcerei.

Sendo assim, com a costumeira reverência, Moriel reverenciou a seu pai e eles se desconectaram. A seguir, o ainu de cabelos negros suspirou de alívio. Ao menos as coisas continuavam iguais, e ele não precisaria ir de encontro a Númenor ou ao templo de Melkor lá. Poderia continuar cuidando de Barad Dûr e de Mordor em paz.

Virou as costas, mais tranquilo, e voltou ao serviço.

OoOoOoOoOoOoO

A partir daquele dia, Mairon passou a trabalhar com muito mais afinco, com um sorriso no rosto e com a ideia de que tudo ia dar certo. Somente em saber que ele ouvira as suas orações - mesmo que de maneira deformada, mesmo que de forma truncada, mas ouvira - já era um alento sem fim.

Enfim quando juntou poder o suficiente para "montar" a um novo corpo a Melkor, Mairon o fez. Concentrou o fogo negro que havia no anel e trouxe-o em forma de "fána" para a sala do vaso dourado.

Não foi nem de longe uma tarefa fácil. Ele era maia e estava a desempenhar uma tarefa que praticamente só Eru tinha permissão de desempenhar. Mas graças ao fogo negro concentrado no Um ele conseguiu. Era um fána lindo, perfeito como fora no início dos tempos. Ficou com lágrimas nos olhos quando terminou de fazê-lo.

- É ele no começo dos tempos...! Oh, nunca mais vão nos vencer ou afrontar!

A partir de então, ele passava dias ordenando a preparação de roupas belas a ele, enfeites de cabelo, e o penteava, e o alisava, e deitava a seu lado e chorava. Apenas uma coisa faltava para que Melkor estivesse em presença física na Terra outra vez: sua alma.

Tirar a alma de Melkor do Vazio seria ainda mais difícil. Seria necessária uma enorme concentração de energia. Por isso marcou um dia para um rito especial apenas para isso. Falou com Moriel no palantír e disse a ele que era necessária a máxima concentração.

- Meu filho, é necessário que você se concentre no dia para que seu pai volte. Vou fazer um rito para concentrar energias e além do fogo negro utilizarei todo e qualquer recurso energético presente aqui. Por favor, colabore.

Moriel assentiu, e em seu íntimo pensou que enfim aquela coisa, aquele trabalho colossal de eras, terminava. Depois era só cuidar de Mordor - e ver se Melkor não estragava tudo. Mas com a experiência prévia do vazio, provável que não estragasse mais.

O filho da escuridãoWhere stories live. Discover now