Capítulo 6

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VI

Passaram-se alguns meses e Mairon não dera notícia sua para Moriel em Barad Dûr. Sua chegada em Númenor fora comemorada por todos, abismados com o poder do rei em capturar a ninguém menos que o maia que era considerado "Senhor da Terra". Mairon, por sua vez, apesar do porte majestoso e belo, agira de maneira muito humilde e fizera tudo que o rei mandava.

Em algum tempo conseguiu contatar Moriel. O mesmo se surpreendera ao ver a aparência de seu pai no palantír. Ele usava uma roupa de linho simples, cabelos soltos e sem enfeites. Apenas duas joias ele guardava: o Um Anel liso, dourado; e o anel que Melkor lhe dera ainda na primeira era. A aparência de seu rosto era ainda bela como a de um maia costuma ser, mas era simples e humilde. Moriel quase não acreditava.

- Olá, pai.

- Olá, filho. Como estão as coisas aí?

- Bem. Tenho supervisionado os servos e os orcs com frequência, pedindo-lhes numeração e o que têm feito durante o dia.

- Bom. E os lobos? Os gatos?

- Estão todos bem alimentados também.

- Que bom. Escute, estou aqui já há algum tempo. O rei me manda fazer coisas como servir a comida dele, ficar me ostentando como "seu prisioneiro maia" e eu aceito. Ocupo aqui um quartinho que não é menos humilde do que os quartos dos faxineiros daí de Mordor. Mas tudo isso vai valer a pena, você verá.

- Eu acredito, meu pai.

- Tenho usado o Anel na frente dele. Eu o convenci, com um olhar de piedade, a me conservar com essas duas joias, o anel que seu pai me deu e o Um que forjei. Ele acreditou. A cada dia que passa ele se mostra mais enfeitiçado pelo poder do Um, e me escuta cada vez mais. Eu já sondei o coração dele e descobri que está com medo de morrer. Muito mais do que eu pensava no começo. Os númenorianos têm vivido menos da metade que Elros e seus descendentes mais próximos viviam assim que a ilha lhes foi dada. Isto, meu filho... servirá para fazê-los comer na minha mão!

- Mas, meu pai. Caso o senhor minta a eles dizendo que pode-lhes dar uma vida sem morte, um dia eles morrerão e os demais lhe desacreditarão.

- E quem disse que eles vão morrer...?

- Não vão? O senhor desenvolveu poder o suficiente para dar vida eterna aos edain?

- Não exatamente. Mas posso desacelerar o processo de vida deles até fazer com que estacionem. Não envelheçam mais nem morram, e nem ganhem mais vida. Mas... isso tem um alto custo. Eu só não preciso dizer a eles qual é...! De resto, farão tudo sem pestanejar apenas para não ir ao encontro do destino dos homens.

Moriel abriu a boca em espanto - algo que não era fácil de ele fazer.

- Eu realmente o admiro muito, meu pai.

E admirava mesmo. Apesar de desde o início ter recebido bem menos mimos e atenção de Mairon que de Melkor, Moriel amava mais ao maia do que ao vala, pois ele tinha uma mente metódica, racional, minuciosa. Sabia esperar e sabia até mesmo se humilhar para ganhar a uma guerra, caso precisasse perder a uma batalha. Não tinha o orgulho besta que cegava a seu pai vala, ou ainda a muitos dos edain imbecis, como Ar Pharazôn, o qual encontrava a sua perdição nesse mesmo orgulho.

De resto, apesar de amá-lo também, Moriel via a Melkor mais como uma criança grande, impulsiva e mimada, a qual tinha sempre de ser guiada e cujos estragos eram consertados constantemente por Mairon. Pensava que Mairon estava melhor assim, viúvo e sozinho, fazendo Mordor crescer de uma forma que Angband nunca crescera - por causa da impulsividade de Melkor, cuja ausência em Mordor deixava tudo crescer em paz. Mas e agora...! Ele cismava em trazer o vala de volta, e o que ele, Moriel poderia fazer?

O filho da escuridãoWhere stories live. Discover now