Capítulo 20

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XX

Um dia, mesmo no meio daquelas dificuldades e tribulações, Mairon e Melkor decidiram se distrair um pouco juntos - e isso não significava exatamente sexo.

Melkor disse ao consorte que sentia saudades de fazer aquilo, de "namorar", como dissera uma vez a ele ainda em Angband. Era aquilo de ficar junto, de fazer carinho um no outro, essas coisas. E Mairon então o acompanhou. Deixaram Mairen com Moriel e foram até uma das salas, justamente aquela que ainda guardava dois dos "palantíri" que Mairon usurpara de Eregion.

Sentaram-se numa poltrona, Mairon no colo de Melkor, e começaram a se beijar, o vala admirando cada centímetro da beleza do outro, quando sem que nenhum dos dois esperasse, uma voz foi ouvida de um dos "palantír":

- Ainda juntos? Ora Mairon, pensei que aquilo não passava de uma paixonite passageira!

Assustados, ambos os ainur olharam para a pedra vidente. E qual não foi a surpresa de ambos quando viram a figura de um velho, de cabelos e barbas longas, as suíças negras e o resto do cabelo e barba brancos, os olhos perscrutadores, mas a voz era aduladora e suave. Porém, não tinha efeito sobre eles, uma vez que eram ainur.

- Curumo! - exclamaram quase ao mesmo tempo.

- Sim, ainda se lembram do meu nome de Valinor. Ora, o que fazem com uma das pedras videntes de Fëanor?

- E você, o que faz com outra delas? - interpelou Mairon - Sim, porque é através de uma que fala conosco, não? E essa aparência idosa?

- É uma longa, longa história. Quase tão longa quanto os tempos em que não nos vemos... desde que você se mudou para Angband de uma vez, Mairon.

O maia não demonstrava, mas aquilo lhe dava certo receio. Curumo era também maia de Aulë. Não sabia o que ele fazia com aparência velha, nem o que fazia com um dos "palantíri", mas só de ter acesso à sua vida privada já era algo assustador. Mas manteve o semblante sereno.

- Pois me conte. Afinal, não somos velhos amigos?

- Amigos? Você bandeou para o lado de Melkor e se atreve a se denominar amigo?!

- Não é porque segui a Melkor que devo ser inimigo de todos. Ande! O que faz com essa aparência?

- Falarei mais em respeito da nossa antiga associação como maiar de Aulë, e também por admirar seu esforço e dedicação a Melkor. Nenhum dos outros maiar foi assim a um vala. Pois bem. Seus feitos têm se espalhado para além mar e chegaram em Valinor.

- E para variar, devem estar falando mal deles, e não bem!

- Exatamente. Eu e mais quatro fomos designados para combater o seu poder na Terra Média.

- E eu poderia saber quem são esses outros quatro?

- Um deles é Olórin. Os outros não são de grande monta. Fomos chamados de Istari, e nos foi ordenado que viéssemos à Terra Média para diminuir sua supremacia. O que eu não sabia era que Melkor estava aí com você...

- Melkor está quieto. Não fazemos nada além de vivermos juntos e cuidarmos da nossa casa e de nossas terras.

- E o seu filho, como vai?

- Filho?

- Mandos soube que você teve um filho, dado que ao parir quase morreu e sua alma se degladiou com os servidores dele.

- Meu filho está muito bem, obrigado.

- Mas parece que você anda incomodando muito os eldar e edain, hun?

- Não os incomodo mais do que eles incomodam os animais que precisam caçar, comer e usar de montaria ou bestas de carga. Quando é que vocês me deixarão em paz?

O filho da escuridãoWhere stories live. Discover now