Capítulo 17

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XVII

Os dias se passaram. Como Mairen não era um bebê como um dia fora Moriel, ela aprendia com mais facilidade e tinha sede de sempre estar ocupada. Era impulsiva como Melkor, mas não tão voltada à destruição. Era voluntariosa, e como tal não aceitava a disciplina de Mairon com a mesma facilidade que Moriel aceitara. Não querendo ralhar com a filha e ver Melkor defendendo-a quando estava errada, deixou que o vala cuidasse da educação dela. E se concentrou em cuidar dos exércitos e das demais incumbências militares de Mordor ao lado de Moriel.

A filha, no entanto, era carente e quase sempre queria ser acarinhada e querida. Vinha abraçar a Mairon e lhe pedir que lhe desse atenção. Mairon o fazia, mas lidava melhor com a mente metódica de Moriel. Com o tempo, Mairen adotou a muitos dos gatos de Barad Dûr para si.

Assim se passava o cotidiano deles. Mairon se orgulhava de sua família, do reino que instituíra e de todas as coisas que alcançara até então. Pensava em tomar uma parte da Floresta das Trevas a seu domínio também, e deliberava com frequência com Moriel sobre isso. Um belo dia, foram até a floresta e passaram a construir um domínio lá o qual mais tarde chamaram de Dol Guldur.

No entanto, os elfos ficaram ofendidos com aquilo. Eles haviam se estabelecido em outra parte da Floresta das Trevas, na qual Mairon não se intrometia¹ - mas mesmo assim se ofenderam. O nome de Mairon - chamado lá fora de "Sauron, o Abominável", estava tão difamado, que ninguém fora de Mordor o tolerava. De repente, de forma que quase não sentia, o maia atraíra a si a mesma pecha que a de Melkor: a de ser odiado por todos. Se antes todas as atenções negativas iam a Melkor, agora iam a si, já que o vala não se revelava ao mundo.

E foi a partir daí que, aos poucos, os homens que sobraram de Númenor e os elfos foram criando uma nova aliança. Sim, porque sobraram homens vindos de Númenor. Um navio, salvando um fruto de Nimloth, viera à Terra Média e fizera seu reinado bem próximo de Mordor.

No começo, Mairon ficou aborrecido por saber que havia sobreviventes da ilha da estrela - e justamente dentre aqueles que não adoravam a Melkor no antigo templo. Porém, desde que não o importunassem, ele não dava atenção. Mas... começaram a importunar.

Como eram ainur, para eles o tempo passava mais rápido que para a maioria dos outros seres. Até mesmo os eldar, os quais também eram imortais, por não terem surgido no início do mundo como os ainur o tempo passava de forma diversa. Moriel e Mairen poderiam ver o tempo passar como eles, mas Melkor e Mairon, ambos do tempo da Ainulindale, não. Cem anos, duzentos anos, para eles não eram nada.

E eis que, quando Mairon se apercebeu, ambos elfos e homens haviam feito uma aliança funesta para lhe contestar em guerra. No início, ficou completamente aturdido.

- Estou aqui, sossegado, cuidando dos meus afazeres, dos meus povos, da minha família, das minhas terras - e esses eldar e edain vêm me importunar!

- É sempre assim, meu bem - respondia Melkor - Eles não gostam da gente. A gente tenta fazer as coisas sem meter eles no meio e dá no que dá. Se fôssemos tão ruins assim, nenhum dos povos do leste estaria a nosso favor.

- Mas eles não gostam de ver os outros crescendo! Ah, não gostam mesmo! Mas isso não há de ficar assim! Com o poder do Um Anel, criarei uma guerra enorme contra eles e eles verão!

- Mamãe, que é "guerra"?

Mairen demorava mais a crescer que os demais seres, e portanto ainda se afigurava como uma menina de oito ou nove anos, embora tivesse muito mais. Com alguma paciência, Mairon tentou lhe explicar:

- Meui bem, "guerra" é aquilo que se faz quando as pessoas não concordam e também não se toleram. No caso, muitos não estão a tolerar a nós aqui. É uma pena! Mas eles não podem deixar que eu me desenvolva em paz.

O filho da escuridãoDär berättelser lever. Upptäck nu