Capítulo 21

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XXI

- Eu não confio nele, Mairon - declarou Melkor, enquanto ele e o maia observavam a terra de Mordor por uma das sacadas de Barad Dûr.

- E eu menos. Mas o que podemos fazer? Curumo cumpriu com o que prometeu quando fizemos aquela "expulsão" de Dol Guldur. E ainda deu um jeito para que entrássemos aqui sem chamar a atenção dos edain de Gondor.

- Sim. Mas isso não me faz deixar de desconfiar dele, sabe?

- Nem eu. Vamos portanto ficar alertas.

Enquanto isso, Mairon preparava a seus demais servidores como os Nazgûl, edain a quem ele dera uma vida longa porém espectral, e em troca dessa vida ele lhes tomara a vontade e os transformara em marionetes suas. Eles usavam nada menos que os nove anéis que ele forjara para os edain. De qualquer forma, eles se corrompiam mais facilmente.

No entanto, logo as coisas se tornaram mais preocupantes. Mairon permanecia conversando com Saruman no palantír, e ficou sabendo que Gandalf já desconfiava do anel dele.

Assustou-se, mas se fez de desententido.

- Meu anel...? Que anel?

- Não se faça de tolo, Mairon! Você tem diversos anéis e um deles, o anel-mestre, está perdido!

Mairon engoliu em seco. Teve vontade de perguntar onde e como ele soubera daquelas coisas mas não quis fornecer nenhuma informação a ele que ele ainda não possuísse.

- Bem. É um pequeno experimento que fiz...

- Sabe que eu um dia também pensei em me tornar fazedor de anéis?

- Pois torne-se! Torne-se, tem toda a liberdade para tal!

- Só que me interesso mais pelos seus, que você já criou. Sempre admirei a sua mente aguçada, Mairon. Pena que vendeu os seus serviços a Melkor - e por tão pouco! Por amor apenas! Até breve!

Sendo assim, Curumo desconectou sem esperar resposta do outro. Mairon ficou possesso de ódio.

- Safado, sem vergonha! Pois investigue o quanto quiser! Eu saberei se estiver com meu anel! Saberei, e acabarei consigo!

No entanto, seu medo crescia. Se Curumo já sabia dos anéis, certamente Olórin também. E então, se o Anel caísse em mãos inimigas daquela monta...!

Participou de sua aflição para com Melkor. Ele o tranquilizou, dizendo que se o Anel caísse em mãos inimigas, ele iria lá e obteria deles.

- Você acha, meu bem, que maiar podem contra mim? Por mais numerosos que sejam? Podem nada. Eu acabo com eles e foda-se.

- De qualquer modo, quero ver se intensifico a meus esforços a fim de encontrar logo esse Anel!

- Vai tudo ficar bem, meu amor.

E assim, para distrai-lo, Melkor falava dos anos e eras antigos, que não voltavam mais. Há quanto tempo já ia aquilo! E no entanto para eles que eram ainur nem parecia tanto assim.

Passou a, automaticamente, recordar de quando se conheceram. E como Mairon enganava a todos sendo seu espião! Bons tempos aqueles!

- Não tão bons assim para mim - declarou o maia, um tanto quanto aborrecido.

- Por que, meu bem?

- Porque ainda era somente seu amante, e não seu consorte. E além de tudo, tinha de ouvir de si que não me queria bem!

- Ah, aquilo foi uma tolice... mas quer saber como eu pensava de fato?

- Como assim?

- Sim, eu pensava diferente do que falava. Era um idiota. Quer que eu te conte como pensava de verdade? Agora eu posso contar.

O filho da escuridãoحيث تعيش القصص. اكتشف الآن