Capítulo 16

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XVI

Os dias passaram. Moriel permaneceu cuidando da fortaleza e Melkor tomava cuidado para não ser impulsivo como sempre fora. Mairon pesquisava e testava os melhores materiais para fazer o corpo de sua filha, com a paciência que lhe era característica. Um dia, comentou com Melkor sobre seu projeto.

- Vou fazer a um corpo de uma menina de três a quatro anos de idade, seu cabelo será de ouro e seu corpo será de mithril. Mas precisaremos colocar a alma dentro dela, e para que ela seja fixada neste corpo artificial, precisará de sangue.

- Hum. Sangue?

- Sim. Por ser nossa filha, creio que ficaria melhor que o sangue fosse meu e seu.

- Compreendo. E quando quer começar a esse projeto?

- O mais cedo possível. Hoje mesmo já quero começar a trabalhar nas forjas. Conforme o corpo dela for sendo feito, vou lhe mostrando e dizendo como está.

Assim foi. Com o tempo, não muito por causa da dedicação de Mairon, o corpo estava feito. Mostrou a Melkor e ele a observou com atenção.

- Está bem feito. Ela tem como crescer depois?

- Sim. Afinal, não pode ficar para sempre com essa idade...

- Não sei se consigo imaginá-la já moça...

- Ora. Moriel cresceu, por que não ela?

- É diferente. Uma menininha...

Os olhos do vala brilhavam de amor e admiração, já imaginando como seria o futuro dela. Mairon não entendia como ele já criava vínculo com alguém que ainda nem tinha nascido. Ele mesmo, na gravidez de Moriel, não conseguira criar vínculo. Somente depois que ele nasceu.

"Será que é por isso que se tornou tão frio?", pensou de si para si.

Moriel não aparentava nem aprovação, nem desaprovação com a vinda de sua irmã. Era bem mais velho, portanto ambos seriam praticamente de universos diferentes por assim dizer.

Quando todo o corpo dela ficara pronto, Mairon chamou a Melkor e Moriel em sua sala de práticas mágicas. Sentou-se diante do corpo, respirou fundo e falou afinal:

- Finalmente está na hora de trazê-la à vida. Embora esta geração tenha sido mais fácil para mim, pois não foi através de gravidez e parto, agora terá um momento não tão fácil. A necromancia é a arte mágica de lidar com os espíritos desencarnados. O maior ato de necromancia que eu já realizei até hoje foi justamente o de trazer Melkor de volta à vida. Foi semelhante ao que fiz aqui, com um adendo. Melkor sempre esteve consciente no Vazio. Esta alma, a qual traremos, nunca esteve consciente de fato. Foi criada pela distorção da Ainulindale, e portanto não deixa de ser, legitimamente, filha de Melkor. Mas é um trabalho difícil. Precisaremos concentrar muitas energias nisto. Portanto eu lhes peço que me dêem as mãos.

Sendo assim, Melkor ficou do lado direito de Mairon e Moriel do lado esquerdo. O maia se concentrou e enviou grande parte de sua energia para chamar a uma das almas criadas pela distorção do vala. Em breve, uma veio a eles. Mairon abriu os olhos e disse enfim ao consorte:

- Chegou a hora. Precisamos dar um pouco do nosso sangue para que ela possa vir a se assentar no corpo.

O vala assim fez. Tomaram, ele e Mairon, de um punhal e com ele tiraram sangue do braço, colocando-o assim no corpo que ia servir a ela. Em seguida, Mairon invocou o espírito, ainda inconsciente, para que entrasse no corpo. E ele assim fez.

Assim que entrou no fána, o espírito parecia confuso. Abriu os olhos e viu a seus pais e a Moriel. Melkor sorriu, assim como havia sorrido quando Moriel nascera - com a vantagem de que dessa vez Mairon não havia se arriscado. Mas ao passo que Moriel sorrira primeiro a Melkor, a menina sorrira primeiro a Mairon.

- Mama!

O maia se surpreendeu grandemente. "Mama"! Como saberia ela que se chamavam assim as mães? E ele estava em sua forma masculina... por que ela o chamava assim?

- Mama! - repetiu ela, estendendo os braços a Mairon.

Nada restou ao maia senão corresponder. Abraçou a filha e a tomou nos braços. Melkor sorriu, mas ficou um pouco frustrado por ela não lhe dar atenção também.

- Meu amor, que nome ela terá? - Mairon declarou, somente então tendo percebido que a menina não tinha nem perspectiva de um nome.

- Bem... eu pensei em Mairen.

- Mairen?! O exato feminino de meu nome?

- Sim. Pois quero sempre me lembrar de você ao olhar para ela.

Mairon sorriu, feliz ao ver que Melkor o considerava tanto daquela forma.

- Está certo. Seja bem vinda a Barad Dûr, Mairen.

A menina sorriu mais uma vez, e depois pediu para ir ao colo de Melkor. Este, muito mais levado pela emoção que Mairon, se sentiu quase a ponto de chorar.

- Oh, minha filhinha...! Agora tenho eu uma menininha!

Moriel olhava impassível, como se aquilo tudo não o afetasse. Mairon se sentia mal, pensava que a sua frieza em relação a Moriel durante a gravidez o fizera daquela forma, mas que se faria então? Moriel já estava com milênios de vida, aquilo não poderia ser mudado.

Mas ele era educado e respeitoso, então a reverenciou.

- Seja bem vinda a este mundo, Mairen, minha irmã, filha de meus pais.

Mas ela lhe mostrou a língua e deu um puxão no cabelo de Moriel. Este teve um sobressalto de surpresa, mas logo voltou a sua passividade de antes. Já Mairon riu.

- Viu? Moriel, você também puxava o cabelo de seu pai quando era bebê.

- Pois...! Eu era uma criança, não sabia o que fazia.

- Ela também é criança. Surpreendo-me ao ver como ela sabe das coisas. Você também era muito lúcido quando nasceu. São diferentes dos bebês dos eldar e edain.

Moriel sorriu, mas nada respondeu. Melkor decidiu tomar a filha nos braços e apresentá-la a Barad Dûr. Mais tarde, deu uma festa - como dera quando Moriel nascera. Essa festa fora muito boa, mas não passava nem de longe perto do esplendor do que fora a época de Angband, quando Moriel nascera. Barad Dûr era maior, mair bem organizada e guarnecida, mas não tinha balrogs, não tinha os maiar da primeira era. O mundo estava mudado - muito mudado.

Após aquilo, a menina passou a receber os mimos de Melkor e a rígida educação de Mairon - mas a mesma se mostrara nela mais ineficaz. Moriel recebera a disciplina de Mairon com bastante solicitude, mas ela era voluntariosa como Melkor e não conseguia ser tão ordenada ou comandada. Com muita paciência, Melkor a ensinava as coisas - pois ela aprendia mais com a emoção que com a razão.

E assim foram passando o tempo, porém lá fora o mundo não os esquecera. Os senhores do escuro pensavam que agora os Poderes os esqueceriam, dado que eles agora somente cuidavam de suas coisas, porém havia forças que ainda não estavam dispostas a deixá-los em paz.

To be continued

OoOoOoOoOoOoO

Capítulo dedicado a Vectriz Ikaros, a criadora de Mairen e uma grande amiga do fandom. Gracias!

Beijos a todos e todas!

O filho da escuridãoWhere stories live. Discover now