Capítulo 26

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XXVI

Moriel, o qual se encontrava no campo de batalha, percebeu logo que algo dera muito errado. De repente os exércitos começaram a se dispersar, e da vitória iminente passaram ao total desespero e desorientação. Ainda teve tempo de ouvir a Olórin dizer que "O Portador do Anel cumpriu sua demanda". Vendo aquilo, Moriel correu para a torre. E lá viu uma das cenas mais tristes a qual presenciaria em vida.

Melkor segurava ao corpo de Mairon nos braços, os olhos do maia vidrados como se houvesse acabado de receber um golpe de morte - como de fato havia acontecido.

- Mel...kor...!

- Mairon, fale comigo!

Mas foi em vão. Todo o esforço era inútil. Em breve Mairon perdeu todo e qualquer movimento, seu fána murchando enfim, seu espírito partindo involuntariamente como um espectro enfraquecido. De seu corpo somente as roupas e as joias sobraram.

Atrás do vala, Moriel fazia força para não chorar.

- Moriel... - chamou enfim Melkor, saindo de seu transe por uns momentos.

- Sim, meu pai.

- Por favor, me diga que dessa vez tem cura. Como quando ele perdeu o Anel na Guerra da Aliança e eu pensei que estava morto.

Uma pausa, de silêncio mortal, deu lugar à conversação. Após algum tempo, algumas lágrimas se formando em seus olhos, Melkor repetiu a pergunta.

- Moriel! Por favor, me diga!

- Não há, meu pai. A melhor essência dele foi-se embora com o Anel.

- Mas e se fizermos um novo fána pra ele...?

- Não tem jeito. O espírito dele não tem força pra voltar.

Melkor repassou mentalmente todos os momentos em que esperara aquilo acontecer - e dos quais Mairon escapara com relativa facilidade e sem maiores danos. No parto de Moriel, na queda de Númenor, na Guerra da Última Aliança. Em todos esses momentos ele se salvara. Em todos eles voltara a sorrir para si. Em todos eles aquele terrível fantasma passara por si e se demonstrara não efetivo.

Mas por que então quando tudo parecia mais ou menos seguro as coisas se esvaiam assim?

- Moriel, não é possível...!

- É duro para mim também, meu pai. Mairon sempre foi meu modelo, aquele a quem segui e quis imitar.

- Ele era seu pai. Sua mãe, enfim, te gestou e pariu. Mas pra mim, Moriel... ele era o que canalizava meu poder. Ele era tudo pra mim, Moriel!

E o choro de Melkor cresceu, se transformando num lamento longo e alto. Moriel não aguentou e passou a chorar também. Em breve Mairen veio e também chorou, emocional que era. Mas a dor de Melkor era tanta, que logo se transformou em raiva. Ele, com seu fána completo, poderia ter ido lá embaixo e esmagado todo mundo! Era só ir! Mas Mairon sempre o querendo proteger, sempre o tomando do mundo de fora! Não! Agora ele, Mairon, estava perdido!

Gritando e bradando contra tudo e todos, em ódio desvairado, finalmente Melkor deu vazão a todo o seu poder, o qual reprimira antes por causa do consorte. Começou a quebrar tudo que via na frente, e dessa vez não adiantava Moriel ou qualquer outro lhe recomendar que não. Quebrou tudo, jogou tudo longe, enquanto Orodruin jogava as suas cinzas e lavas fora. E foi ele também quem pôs abaixo a Barad Dur, espantando a todos os servos com seu ódio, destruindo tudo. Os de fora acharam que a Torre caíra por causa da ausência de poder de Mairon, mas fora Melkor quem a botara abaixo, por um momento reduzido novamente àquela força da natureza que só destrói, que nada controla, o puro caos esmagador e primitivo.

O filho da escuridãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora