John se sentou na minha frente com sua bandeja. Ele me fitava seriamente.

—Não adianta, não vou contar. —falei levando a colher até a boca, ele suspirou.

—Preciso que venha comigo! — um soldado falou sério parado atrás de mim, empurrei a bandeja e o segui para fora do refeitório. Não era algo incomum, afinal a todo instante tinha alguém chegando.

O soldado dessa vez não seguiu para a enfermaria e sim para a área administrativa, estreitei os olhos confusa com a mudança de percurso. Ele me deixou na frente da porta do coronel responsável pelo lugar. Dei leves batidas na porta e entrei. O coronel estava com alguém sentado na sua frente. Observei o lugar, o cara se levantou sem me olhar.

—Qual o problema? — questionei no meio de tanto silencio, intercalando meu olhar nos caras apreensivos.

—Você não pode mais ficar andando pelo quartel. — Arqueei a sobrancelha e um riso escapou dos meus lábios.

—Está brincando. Não é? Quando me trouxeram para cá usaram o maior discurso que eu precisava salvar os soldados que lutavam pelo país e agora vão me trancar? — questionei com as mãos na cintura, o coronel apoiou suas mãos na mesa e me olhou sério.

—Você está causando muitas perguntas que não podem ser respondidas, Sofia. Precisamos que faça seu trabalho de forma discreta, por isso não pode mais ser vista. — Balancei a cabeça negando.

—Eu não sou uma refém aqui, vim porque quis ajudar. Se for para me tratar assim eu vou embora. — falei firme cruzando os braços, ele apenas suspirou.

—Não é assim que funciona. Por sorte, você tem um controle de boa ação. — Ele pegou algo em sua gaveta e apertou um botão me fazendo gritar de dor ao sentir milhares de agulha atingirem meu braço direito, onde tinha uma pulseira grossa prata.

—Você me disse que isso era para identificação! — gritei após a dor parar, eu sentia o ódio dominar meu corpo, o coronel sorriu de forma maligna.

—Eu digo muitas coisas que não são verdade. — Assenti e sorri.

—Veremos! — sai da sala, mas parei a dois passos da porta apertando meu braço que era eletrocutado.

—Não me faça usar a carga letal, Sofia. — O coronel falou saindo da sala. — Leve-a! — ele ordenou, dois soldados me pegaram pelo braço e saíram me arrastando para o bloco da enfermaria.

Fui colocada em um dos quartos usados na enfermaria para pacientes mais críticos, todas as minhas coisas estavam ali, a porta foi fechada e a chave passada. No chão eu fiquei deixando as lagrimas caírem. Como eu tinha me tornado uma refém? Ou melhor como eu tinha sido estupida o suficiente para cair aquele discurso do coronel?

Limpei as lagrimas que caiam e me levantei do chão acendendo a luz, era um lugar sem janela, com paredes cinzas, uma única luminária no teto, uma cama no canto da parede, parecia ser a minha própria cama. Apesar de ser um quarto de hospital, não parecia em nada com um.

Será que esse sempre foi o plano? Me deixar curtir e então me trancarem. Não fazia sentindo, não é como se eu tivesse um lugar para voltar.

Me sentei na ponta da cama pegando meu diário na caixa jogada ao lado da cama. Abri na primeira página, meu primeiro dia e comecei a reler cada um daqueles 5 meses que estive aqui.

[...]

Abri os olhos e então levantei da cama, como ela tinha sido estupida, eu sabia que eles iam aprontar algo. Eu não poderia deixar isso acontecer, a pulseira pesava em meu braço, mas ela não era real, assim como eu.... Quem eu iria procurar? Eu precisava lembrar da minha vida antes do acidente!

Me transportei para o local de sempre, sorri em ver que minha obra ainda estava ali, eu não fazia ideia de que lugar era esse, mas sempre que saia daquela prisão infernal eu vinha para cá, minha mente parecia programada para esse lugar.

Fiz uma bola de fogo com a mão e a lancei no muro que consumia meu grafite na parede.

—Você não deveria estar aqui! — um cara puxou meu ombro para trás e eu o observei, ele tinha cara de mal. — É uma propriedade privada.

—Eu perguntei? — questionei com desdém. — Você não manda em mim, querido! — soou debochada me afastando dele.

Algumas plantas tinham sido plantas recentemente e eu sorri colocando fogo em cada uma delas.

—Ei! Você está presa! — o cara gritou e eu revirei os olhos, estiquei meu braço em sua direção e eu o levitei.

—Você grita muito. — Soltei um longo suspiro e o joguei em uma arvore alta que tinha ali.

Eu precisava ter alguma ideia para sair daquele quartel, de verdade. Continuei a andar pelo lugar e parei em um canteiro de rosas recém-plantadas, um sorriso bobo apareceu em meu rosto, revirei os olhos, odiava esse lado. Peguei uma rosa e a soltei ao sentir um espinho me furar.

—Merda de rosa! — disse brava pegado a pelas pétalas, era a parte que em importava, assim voltei a andar pelo enorme terreno puxando pétala por pétala, na esperança de ter alguma ideia.

Parei na margem do lago, jogando a rosa ao meu lado e me agachei vendo meu reflexo na água, odiava esse cabelo castanho, era tão comum e sem graça. Ela precisava de mais personalidade.

Gargalhei sozinha ao lembrar do corte de cabelo que tínhamos ganhado a alguns meses, totalmente bagunçada, ela mesma tinha cortado, na altura do maxilar e ainda tinha uma franja, apesar de ridículo tinha mostrado bastante atitude. Agora ele já batia abaixo do ombro.

Como eu iria me lembrar de algo se nada me ajudava? Viver 5 meses em um quartel não iria adiantar. Talvez o Coronel tivesse meu arquivo completo, sorri com a ideia e me levantei. Desci o guarda de cima da arvore e o deixei ali deitado no chão, voltando para aquele quarto sem graça.  

Choices of the heart 3 - A princesa perdidaWhere stories live. Discover now