Capítulo 43 - Parte II

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E então, ele abriu.

Não me fiz de rogada, adentrei avulsa o vendo dar passos para trás.

Parecia uma completa loucura.

A máscara preta em couro cobria parte de sua face menos da boca para baixo, e eu via uma pequena cicatriz abaixo do queixo. Mas em seus braços descobertos por estar usando apenas uma camisa branca de algodão, eu via marcas, do vidro, em diferentes pontos.

Dei um passo a frente, ele se encostou no sofá, de braços cruzados, na defensiva.

Os dois em silêncio.

Me aproximei devagar, antes de tudo, o coração parecia ter ido parar na garganta.

— Eu vou te abraçar... Depois eu te mato. — Deixei claro, e o vi sorrir. Eu achava esse o sorriso mais lindo do mundo e sequer me lembrava.

Mas ele cedeu, quando eu me lancei sobre seus braços. Não era um abraço de perdão, não era romântico, carnal ou fraternal... Era só uma demonstração, talvez um alento pra tudo o que senti durante esses anos. Saudade.

O senti me apertar contra si, aninhada em seus braços, fechei meus olhos, emocionada como uma garotinha boba, o sentimento grandioso preenchia meu peito cheio de raiva, passei os braços por suas costas largas, e talvez meu corpo saudoso tenha reagido ao cheiro da sua pele (e álcool), ao contato e a proximidade. Nicholas sempre foi uma droga pra mim, e vejo, que ainda sou dependente.
Não sei quanto tempo ficamos abraçados, de olhos fechados apenas com a presença um do outro, e não me importava, ao sentir suas mãos em meu corpo novamente.

— Você fede a whisky. — Murmurei contra seu pescoço.

— E você a suor. — Resmungou, e então me lembrei que depois de correr, não tomei banho. E ... Foda-se.

Então eu me afastei levemente, olhando pra seu rosto coberto. — Eu quero ver. — Decretei, tirando a mão de suas costas, as erguendo rumo a seu rosto, a máscara, porém ele as pegou entre as suas, parecia muito nervoso.

— Você não pode se esconder pra sempre. — O lembrei.

— Estava funcionando até agora. — Disse, ainda segurando minhas mãos entre as suas, deixando estas parecerem minúsculas. Enquanto eu olhava em seus olhos, ridiculamente verdes, fixamente.

O vi engolir em seco, seu pomo de adão afundando pela garganta, ele fechou os olhos, suas mãos soltaram as minhas para tocar a máscara, então,  ele mesmo o fez, a puxando para cima, descobrindo seu rosto.

Suspirei em expectativa, me perguntando se estaria... Deformado.

Ele a jogou sobre o sofá, e então parou, inerte, como quem espera uma avaliação.

A cicatriz mais profunda ficava um pouco abaixo do olho, era a mais chamativa. Elas se localizavam mais em um lado do rosto, o outro só havia uma na bochecha, bem fina. Algumas riscavam sua tempora, e uma outra no queixo.

— Então é isso? — Soltei, me afastando dele. — Você jogou fora tudo, por vaidade? — Inqueri, sem acreditar no que estava vendo. 

— Vaidade? — Riu sem humor. — Como queria que eu saísse na rua assim? Pra... Me sentir inferior perante outros homens? Parecendo uma colcha de retalhos? Eu sequer me sinto um ser humano estando desse jeito. Não podia fazer mais nada. — Disse, como se estivesse falando de um câncer terminal.

— Oi? — Saiu de meus lábios.

Sim, eram cicatrizes visíveis.
E eu sabia que ele era egocêntrico, vaidoso, e temperamental.
E sim, eu entendia ele não gostar disso.
Mas não eram nada demais, e nada que eu não tenha visto.
E que plásticas não resolvessem, se esse é o problema.
Ainda era Nicholas, com marcas no rosto. E... E... Eu achei bem sexy?

DistópicaWhere stories live. Discover now