Capítulo 35

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Charlie | Human - Rag'n'Bone Man

Talvez eu seja tolo
Talvez eu seja cego (...)
Sou apenas humano (...)
Sou humano apesar de tudo(...)
Não peça minha opinião
Não me peça para mentir (...)
Eu não sou nenhum profeta ou Messias (...)
Eu sou apenas um homem
Eu faço o que posso
Não ponha a culpa em mim
Não coloque a sua culpa em mim.

__________

(...)

— Você não faz idéia, do que é ficar naquela enfermaria asquerosa, só há mais duas detentas por lá, parecem estar agonizando há séculos. Não morrem nunca. — Resmunguei, olhando pra Carmo, e este gargalhou.
Acho que seria até mesmo estranho ser levada para uma sela, com outras presidiárias, depois de tanto tempo naquele ambiente.

— Pense que o colchão deve ser um pouco melhor do que o da sela. — Disse ele, erguendo as sombrancelhas, de um jeito característico.

Respirei fundo, com a imagem de Nicholas rondando a minha mente. Remetendo a bagunça que ele deixou dentro de mim. Era estranho olhar pra Carmo atentamente, buscando em si, a aparência com o sobrinho, que era visível. Eu parecia ver um Nicholas grisalho, com marcas da idade no rosto, de olhos azuis, muitos anos mais, bem a minha frente. Mesmo que fossem totalmente diferentes, tendo em vista que Carmo era um fanfarrão, cheio de manias estranhas e ternos coloridos e brilhosos. Sua nova aquisição depois de um veleiro, seria um casamento, pela nona vez, no próximo mês. Separação total de bens, ele prometeu, para que o patrimônio da minha diabinha não seja tocado.

Mas como Nicholas uma vez disse, ele era uma figura extravagante e peculiar.

Era uma das visitas que ele fazia a mim. Ele queria saber da criança, minha barriga de oito meses denunciava que logo, minha menina iria dar as caras, vir ao mundo.

— E então, pra quando está previsto o nascimento? — Questionou, afinal como minha gravidez era de risco, seria necessário uma cesariana.

— No início do próximo mês. — Murmurei, um tanto apreensiva. Acho que dar a luz e o que viria em seguida, ainda me deixava desnorteada.

— Vai dar tudo certo. — Disse ele, alongando a frase enquanto se recostava contra a cadeira.

Ele suspirou, e deu um pequeno sorriso. — O nome, você desistiu daquele nome? — Perguntou de um jeito engraçado. E eu tive que sorrir, me ajeitando na cadeira de rodas, por conta de um chute que acabara de receber da diabinha.

— Lilith é um ótimo nome. — Argumentei.

Ele balançou a cabeça em negação.

— Sabe o pior? — Riu — Nicholas aprovaria. — Disse convicto, como se soubesse realmente do que está falando.

— Você acha? — Perguntei erguendo os olhos para ele, realmente interessada.

Eu sempre me perguntava, como Nicholas teria reagido a ideia de ser pai.... E não sei como realmente seria...

— Acho. — Carmo tirou-me de meus devaneios. — Eu nunca pude entender essa fixação com o inferno, que vocês compartilhavam.

— Nem nós. — Murmurei, tendo pequenas lembranças, onde Nicholas e eu citavamos esse tipo de coisa. Eu sentia tanta falta.

— Mas fique tranquila Alexis, nossa... Lilith, Alison e você terão todo o suporte que eu puder oferecer. Eu sou estéril, como você sabe, Nicholas foi o filho que eu não pude ter, e essa menina, é como uma neta pra mim, é a única  que restou, alem de mim, da nossa família. E principalmente, seria o que Nicholas gostaria que eu fizesse, em sua falta.

DistópicaWhere stories live. Discover now