Capítulo 28

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A noite havia caído, nós já havíamos cruzado a fronteira do estado, Nicholas e eu revezamos o volante. Este então, estava ao meu lado, calado e pensativo olhando pela janela.

Depois do meu rompante, o clima entre nós,  tendo o tesão se esvaído quando uma carreta começou a buzinar na estrada querendo que a gente saísse da frente, ficou estranho. Ele estava mais quieto. Maldição, era isso que ele queria, não é? Que eu demonstrasse alguma coisa? Pois bem, ele deveria saber o quão é complicado pra mim, admitir que me importo.

Que ele é meu.

Era desejo, proteção, droga! Era um vício. Eu não sabia o que estava sentindo, que sentimento era esse, mas eu sabia que estava uma bagunça completa. Ele fazia de mim uma bagunça completa.

A que ponto de dependência, eu cheguei?

E estar em fuga não era tão excitante depois de um tempo, me deixava tensa, ao dirigir na avenida movimentada, eu imaginava viaturas, cirenes e tiros por todos os lados.

Ao pararmos pra comprar algo pra comer durante a tarde, tivemos que optar por uma lanchonete qualquer, no meio do nada, sem câmeras, pouco acessível. Lastimável.

Já era por volta das duas da manhã, e eu estava com sono, meus olhos estavam pesados, minhas costas doiam, e eu queria descansar.

Me virei para Nicholas  — Ei — Chamei sua atenção, ele me olhou, inexpressivo — Precisamos parar para dormir. — Murmurei, ele assentiu, e se ergueu na poltrona. Suspirou, antes começar a mexer no GPS no painel do carro, em busca de algum lugar para ficarmos.

— Sinto muito, mas não tem nada cinco estrelas a vista. — Soltou arrastado, e fez uma pausa —  Tem um motel beira de estrada, a menos de dois quilômetros.  — Disse sujestivo. Revirei os olhos, era melhor que nada.

Estacionei o carro em um canto mais afastado, debaixo de uma árvore, quando saímos, eu acabei fazendo um nó no meu cabelo no alto da cabeca, não que isso fosse mudar algo, meu rosto poderia estar nesse exato momento na TV, por ser uma assassina da Maycorp.

Logo nos adentramos ao prédio rosa, simples, largo na horizontal, tendo dois andares.

Uma moça jovem de cabelo curto, e aspecto vulgar na recepção sequer nos olhou, provavelmente acostumada demais com casais indo ao motel no meio da madrugada para fins sexuais, que simplesmente pegou o dinheiro e nos deu a chave do quarto. Subimos as escadas e paramos os dois para ouvir uma discussão, eram três pessoas aos gritos.

Começamos a ouvir, ao que entendi a esposa havia pego o marido com a amante, e estava aparentemente, dando uma surra nos traidores.

Fomos até a porta do quarto, ouvindo a discussão exaltada, coisas se quebrando enquanto o homem pedia pra ela se acalmar e a amante, melhor amiga da esposa a chamava de louca, fazendo Nicholas e eu trocarmos olhares enquanto riamos.

E então vimos a esposa, com um pedaço de madeira na mão sair do quarto enquanto batia no homem. Com vontade. E a amante enrolada em um lençol ia atrás deles, pedindo pra que ela parasse.

Que ela os matasse.

A hospedagem não vai ser tão ruim, se as coisas continuarem tão animadas. — Nicholas soltou abrindo a porta do quarto e eu balancei a cabeça em negação.

Pelo menos serviu pra deixar as coisas mais leves.

— Você gosta mesmo do que é errado, não é? — Perguntei sugestiva, e ele ergueu o rosto, o virando em minha direção. Com um sorriso no canto dos lábios.

— É. — Respondeu, olhando em meus olhos, me fazendo sorrir de volta, enquanto ele abria porta.

Ele acendeu o interruptor e pudemos ver com mais precisão o lugar, paredes pintadas em um vermelho fosco, uma cama comum de madeira, um frigobar, uma TV pequena,  e uma porta que possivelmente dava para os banheiros.

DistópicaМесто, где живут истории. Откройте их для себя