O príncipe

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Flávia Sampaio Lima não esperava passar toda a noite no sofá da casa de Daniel, esperando que ele chegasse. Há algum tempo, ela também já possuía a chave do apartamento do executivo, por conta da divisão de tarefas no cuidado de Henrique – e ele também tinha acesso ao dela.

Entretanto, Daniel aparentemente passou toda a noite na rua; e cansada, restou à advogada se deixar vencer pelo sono e dormir profundamente.

O que Flávia não esperava era que Daniel tinha voltado, bêbado, no meio da noite, encontrando sua amiga deitada no sofá. Em meio ao torpor alcoólico, não queria falar com Flávia e confessar que era um imbecil ("ela com certeza vai falar umas boas verdades... Verdades que eu não quero ouvir..."), então caminhou trôpego até o quarto e dormiu de roupa de noite e tudo.

Foi acordado por Flávia, que não parecia muito paciente com ele.

- Acorda, Daniel... Acorda logo... Cê dormiu de black-tie e tá cheirando a whisky... Bora, acorda...

- Eu não vou... Não quero... Se ela aparecer aqui... Ela me ligou sei lá quantas vezes e eu...

- Michelle até pode aparecer aqui, mas faço questão de tirar ela do prédio arrancando os cabelos. Agora é você, é com você que eu tô preocupada.

- Bel... Bel... Ela tá bem?

- Bel foi dormir, deve estar melhor do que todos nós. – sorriu brandamente. – Vamos, Daniel, bora tomar um banho e tirar esse fedor de álcool que tá impregnado no teu corpo. Você tem que falar o que está acontecendo pra Alberto.

- Não... Não, Flávia... Minha carreira, meu cargo... Quem vai me contratar?

Flávia suspirou. Ajeitou os cabelos encaracolados atrás das orelhas e disse:

- Você tem que seguir em frente e tomar decisões que podem ser duras. Que serão difíceis pra você. Entregar o cargo é uma opção, mas é melhor que deixar Alberto Cavalcante de Menezes ignorando a situação.

- Eu... Eu sempre fui honesto...

- Eu sei! Um idiota honesto! – riu alto. – Você sempre foi uma boa pessoa, Daniel, e tanto Alberto quanto Mariana sabem disso. Converse com eles e não se preocupe. Não se esqueça de que qualquer coisa, pode falar comigo, ok? Sou tua amiga!

Daniel tomou um longo banho e tomou um café reforçado, mas nada agradável o gosto – imaginou que fosse por conta do paladar afetado pelo porre que tomou.

- Com certeza! – respondeu a advogada, que o acompanhou na refeição. Ela notou o amigo bastante abatido ainda: olhos fundos, cabelos cacheados e bagunçados, e a barba por fazer que sempre o fazia parecer jovial, naquela manhã o tornava sombrio. – Eu sou péssima cozinheira; comprei um kit de café da manhã de uma delicatessen aqui perto. Bel cozinha melhor do que eu, mas ela fez um café pra ela e tá lá toda sonhadora com a nova carta do "admirador secreto"...

- Ah, o cara que escreveu uma carta em inglês com um poema e deu uma Barbie pra ela?

- Sim, esse maluco. Mandou outra carta e o telefone de um instrutor de bicicleta. Bel não sabe andar, o cara contratou um professor pra ela. E o homem está sendo bem pago pra não falar o nome do contratante.

- Acho bem bonito o gesto e bastante romântico, Flávia... Mas pelo seu tom...

- Eu acho esquisito porque eu não sou romântica. Se alguém me enviasse cartas e bonecas já tava achando que era algum psicopata!

- Flávia, isso é amor.

- Não era mais fácil bater aqui na porta e falar com Bel? Eu não gosto disso, tenho medo dela se ferir com a esperança de ser um cara legal e na verdade ser um escroto querendo brincar com ela. Apesar de tudo, Bel tá evoluindo. Eu tô vendo minha amiga florescer, Daniel. Não quero todo aquele inferno de volta, ela querendo se matar, a automutilação, as faixas, nada disso. Eu nem acredito que ela conseguiu enfrentar Michelle.

Cavaleiros da NoiteWhere stories live. Discover now