Disfarces

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Outro capítulo com surpresinhas...

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- Bel! Meu Deus, você me assustou! Pensei que tinha morrido por a... Frederico Bittencourt??

- Flávia Sampaio Lima... Há quanto tempo não nos vemos...

O dia estava ficando repleto de surpresas para Frederico.

Primeiro, seu ato de altruísmo com aquela moça. Agora, o encontro com Flávia, um ex-affair de um passado distante, e antiga conexão com Alberto Cavalcante de Menezes – ou no mínimo o irmão bandido, Félix, morto em circunstâncias deploráveis na prisão.

Como ela, uma advogada de boa família, era tão íntima de uma jovem pobre e sem vínculos como Bel? "Mundo pequeno..."

Flávia, por sua vez, não podia acreditar que de todas as pessoas do universo, justamente Frederico Bittencourt, o homem mais inescrupuloso do país, teria ajudado e cuidado de Bel: ela podia ver como ele era atencioso com a jovem, que já completamente recuperada, não entendeu a silenciosa troca de olhares entre os dois.

Percebeu que ele deixou as compras no chão e caminhou, altivo como sempre, pelo pequeno apartamento, olhando a estante repleta de livros, escondendo a surpresa com os títulos em inglês.

- Como vocês dois se conhecem? – perguntou Flávia, à meia-voz, para Bel.

- Eu é quem pergunto... Vocês se conhecem de onde? E parece que é algo antigo...

- Longa história, amiga, depois eu conto. Agora vamos pegar essas compras... – e virando-se para Bel, disse: - Alimentei Bastet, não se preocupe. Ela tá dormindo no seu quarto.

A jovem agradeceu silenciosamente e se pôs a tirar os mantimentos dos sacos. Flávia ajudou, surpresa com os produtos e arregalou os olhos ao ver qual foi o mercado em que os dois foram. "Esse é um mercado de luxo caríssimo... O que tá acontecendo aqui?"

- Está tudo bem, Bel? – ela ouviu a voz de Frederico, longe da ironia que dispensou a Flávia.

- Sim... Acho que estou melhor... Muito obrigada por tudo... Não precisava de tudo isso, sério. Eu nem sei o que posso fazer por você.

- Tem algo de que preciso. – aquela frase definitiva fez os cabelos da nuca de Bel se arrepiarem. Não gostou nada da frase.

Frederico percebeu que ela puxava nervosamente a manga da camisa, outra vez. Já sabia: Bel se incomodou com algo. Apressou-se em dizer:

- Vi que tem vários livros aqui, alguns de didática em língua inglesa, versões em inglês de clássicos. "Frankenstein", "Pride and Prejudice", "Gulliver's Travels", contos de Edgar Allan Poe... Eu vi "Ulysses" de James Joyce... Não é uma leitura fácil em qualquer língua. Meu inglês é passável, mas o seu deve ser bem melhor. Preciso de alguém que passe para o inglês alguns artigos. Costumo escrever materiais para revistas estrangeiras na área de engenharia, mas acredito que você é mais hábil em traduzir para o inglês do que eu.

"De onde esse homem veio? Só pode ser um anjo que baixou na minha vida depois de anos de merdas seguidas". O choque da proposta estava estampado no rosto de Bel. Até Flávia parou o que fazia para contemplar a sugestão de Frederico: duvidava de que ele não fosse fluente em inglês, tanto quanto Bel – que ela sabia ter até mesmo um desempenho excepcional em testes de proficiência – e precisasse de alguém para traduzir seu material. Duvidava daquele ataque de bondade: Frederico Bittencourt era cruel. Amoral. Só pensava em dinheiro e poder. Usava as pessoas como peões. O que Bel teria a oferecer?

"Não, é impossível que ele saiba de... Não, impossível".

- Eu... Cara, tem certeza de que você precisa de alguém como eu pra fazer isso? Duvido que você não tenha "o" revisor ou "o" tradutor que faça isso por você.

Cavaleiros da NoiteWhere stories live. Discover now