Cavaleiros tropicais

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"Calma, calma... Bebe uma água, respira fundo, se acalma..." Foi retirando com pressa a barba falsa e os óculos, além dos grampos que deixavam o cabelo preto bem arrumado para trás. "Não era pra ser assim, não era!"

- PUTA QUE PARIU! – gritou, quebrando um copo de vidro no chão. Estava ofegante até aquele momento; ainda sentia olhos observando sua nuca, como se todos tivessem vigiando ele.

Tinha saído da região de Dois de Julho justamente porque percebeu a movimentação policial cada vez mais crescente. "Punheteiros fofoqueiros!" Decidiu alugar um apartamento numa rua transversal do centro, cuja ladeira dava para a Contorno. Teria que dar mais algumas voltas até chegar à casa, mas em nome da segurança das madrugadas com as putas, preferiu a mudança.

Mataria várias nos próximos dias. Estava tão animado! Seu frenesi tinha motivo: estava perto de finalmente encerrar sua caçada, porque as coisas mudaram. A memória dela passou a se tornar uma lembrança antiga, desaparecendo aos poucos de seus pesadelos habituais. O fantasma estava indo embora. Ele precisava apenas levar a maior quantidade possível antes de finalmente voltar à sua vida normal – porque ela seria ideal, perfeita para ele.

Aquela falsa loira seria a próxima. Se fazendo de simpática, que conhecia a música. Tudo para seduzir e enganar. Era tão magra, devia ser alguma viciada da região. Odiava viciadas, eram as piores: faziam qualquer coisa por uma pedra. Mas alguém a resgatou na hora em que entraria no carro; e podia jurar que era a polícia. Por sorte o policial não o seguiu: preferiu se preocupar com a puta.

"O estranho é que aquela mulher... Ela me parece familiar... Conheço de algum canto... Pela cara, pode ser que tenha cruzado em alguma das minhas corridas, mas..." Precisava descansar, sumir um pouco. A polícia logo o perseguiria, especialmente porque a falsa loira marcou bem o rosto dele.

Mas assim que ninguém se lembrasse mais do "assassino do aplicativo", encontraria a falsa loira. E ela morreria, finalmente.

***

A manhã ensolarada pedia um almoço ao ar livre, e foi exatamente isso que Nora Cardoso pediu aos empregados: que arrumassem a mesa da refeição próxima à piscina. Como Daniel demoraria um pouco – disse a Michelle que ajudaria um vizinho com a mudança, chegaria para almoçar com os sogros – a família ficou esperando ele chegar para todos almoçarem juntos.

Apesar da relação com a noiva andar meio estremecida, Daniel prezava a companhia de Saulo e Nora.

- Tomara que logo Daniel se mude daquele prédio!

- Por que, filha, você acha que não é confortável para seu noivo? Sempre achei vocês dois práticos o suficiente para viverem num apartamento, e não em casa... – comentou Saulo, enquanto tomava o whisky da manhã.

- Não é por causa disso, pai... É uma biscate que mora perto dele e tem um filho e quer empurrar o moleque na mão dele.

- Hum... Essa história não me é estranha... Acho que alguém no escritório comentou por alto que Daniel leva o sobrinho para a CDM/Calete. Achei normal, pensei que era um sobrinho mesmo, filho dos irmãos, e não uma criança que ele está cuidando.

- Filha, tem certeza de que esse menino é filho só da moça? – questionou Nora, preocupada. – Você sabe... Pode ser uma namorada de antes, agora ele quer assumir...

- Nem acho, mãe! Daniel do jeito que é, todo certinho? Eu até imaginei um dia que ele poderia me trair, mas duvido. Daniel anda na linha, é correto. Acho que ele tá sendo é enrolado por essa bisca, mas não se preocupe, logo logo eu corto as asinhas da vadia. – tomou um gole do suco de laranja. – A propósito, a polícia entrou em contato comigo.

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