A abóbora

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As perguntas que vocês fizeram serão respondidas neste capítulo...

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Michelle Cardoso estava saciada, e vitoriosa.

Mas nada poderia deixá-la mais contente que ver Isabel derrotada, destruída, e de preferência morta. Vê-la ali, encarando-a com tranquilidade quase onírica a enervava. Pior: não parecia a prostituta viciada e decaída que aquele policial tinha descrito – pelo contrário.

Durante toda a festa, percebeu o quanto Isabel estava gradativamente ficando à vontade e feliz com a própria presença ali. Como uma criança em meio a brinquedos que nunca havia brincado porque ninguém deixou. Sorria, radiante, atraindo a atenção de todos. Todos olhavam para ela com simpatia, e Michelle odiava aquilo. Sempre odiou, desde quando eram crianças: os vizinhos amavam Isabel: sempre tão boa, doce, abnegada, ajudava a todos, mesmo sendo uma coitadinha. Michelle, todos apenas tratavam com educação, mas ouvia as pessoas a chamarem de "menina arrogante" pelas costas. Precisava ser arrogante, senão todos pisariam nela e em sua família. Gostavam de Isabel porque a "ratinha" era servil.

Quando cresceu, viu que alguns meninos, vizinhos adolescentes, olhavam Isabel com interesse. Michelle achava um absurdo: apesar da diferença de quatro anos entre as duas, era a Michelle que todos tinham de admirar! Ela sim era bonita, os traços perfeitos, o cabelo alisado, a pele impecável. Não Isabel e os cachos que ela abominava. Mas Isabel era vista como bonita, e Michelle fazia questão de que todos soubessem que classe de "boa menina" ela era: uma vagabundinha, desde sempre. Corria no sangue dela o mesmo sangue podre de Valmir, o homem que quase destruiu sua família... E deixou a semente do mal circulando por ali: Isabel.

"Se ela soubesse o que eu estava fazendo há alguns minutos... Com quem eu estava... Se a vadia pensa que vai ter tudo que é meu, está muito enganada!"

- Pensei que tinha morrido. A polícia me deu detalhes interessantes sobre sua... Vida... E pensei que você foi uma vítima desse matador de prostitutas.

A tranquilidade de Isabel se tornou uma surpresa.

- Ah, finalmente derrubei o cubo de gelo. Não dá pra fingir essa segurança o tempo todo, né? Quanto Daniel tá pagando pra você? Porque essas roupas – olhou de cima a baixo – custam caro.

- Investigador Severo é um filho da mãe esperto. – disse a jovem, finalmente. As conclusões foram rápidas, até para a surpresa dela mesma. – E você roeu a corda, Michelle.

Foi a vez da irmã mais velha se surpreender.

- Severo estava investigando minha vida. Deve ter feito alguma pesquisa rápida em bancos de dados, chegou ao meu sobrenome, fez alguma conclusão e falou com você. Foi por isso... – colocou a mão na boca, entendendo tudo. – Foi por isso... Agora entendi tudo... Ele jogou verde e colheu maduro.

- Então você ainda não morreu, mas pode vir a morrer. Cuidado com essa vida desregrada que leva, hein?

Isabel respirou fundo. Estava frequentando o psicólogo, lidou com uma crise nervosa no meio da festa e naquele momento, tudo parecia bem. Não cairia nas provocações de Michelle, pelo bem da própria sanidade. Não deixaria sua irmã a destruir como fizera tantas vezes.

Além disso, quem era ela para falar de vida desregrada, em julgá-la?

- Você acha que prostituição é vida desregrada, Michelle? Você já conversou alguma vez com uma garota de programa pra saber o que elas passam? Por que elas vendem o corpo? Ou não consegue analisar nada fora da sua bolha de menina mimada que sempre teve tudo na mão... E quando não tinha, pegava e culpava os outros?

Cavaleiros da NoiteWhere stories live. Discover now