Garotas más

966 167 27
                                    

Esse capítulo é uma das ligações mais fortes entre "Um Rosto no Espelho" e "Cavaleiros da Noite" e logo vocês entenderão o porquê.

Ah, e veremos se vocês sentiram falta de uma certa ex-freira...

----

O sol inclemente de Salvador não conhecia estações do ano – inverno, verão, outono. Não importava: todos sofreriam com as altas temperaturas por todo o ano; mas nem todos reclamavam do tempo, ou do calor.

As crianças do Orfanato São Vicente se animavam em qualquer momento, especialmente nos jogos de futebol onde meninos e meninas rivalizavam em partidas cheias de disputas, que eram geralmente controladas por uma das freiras; naquele dia, a já idosa Irmã Escolástica, que parecia ter ganhado uma nova vida quando chegou a Madre Superiora que substituíra a antiga, transferida dois anos antes para um convento no Rio de Janeiro.

A nova Madre era jovem, vivaz e buscava o melhor para as crianças: educação, adoção responsável e apadrinhamento. Contava com o apoio de voluntários e a dedicação de um antigo membro da Ordem, Mariana Cavalcante de Menezes, que anos antes, vivia ali como a doce irmã Ana, antes de se casar com um dos homens mais ricos do país. No entanto, a jovem professora nunca esqueceu suas raízes, e sempre levava os filhos para o Orfanato, a fim de interagirem com as crianças e fazerem amigos.

Enquanto Rebeca levava as meninas para uma goleada no jogo com os meninos e Léo tocava com a banda do orfanato, Mariana observava as crianças pequenas no berçário, acompanhada de Fernanda Sampaio Lima, que naquele dia estava de folga de tantas atividades, campanhas publicitárias e stories intermináveis sobre sua vida.

- Minha empresária até sugeriu que um dia eu fizesse uma série de Stories mostrando o orfanato e minha rotina aqui, mas eu acho que sempre fica no limite entre mostrar o espaço e fazer autopromoção. – comentou a digital influencer, enquanto caminhava com o pequeno Henrique, de dois anos, pelos jardins do abrigo. O menino, moreno e gorduchinho, com os cabelos castanho-claros e bastante alto para a idade, era o favorito da jovem.

- Você sabe que eu não entendo nada de redes sociais. – as duas riram. – Mas sei que tem muitos seguidores, e mostrar a rotina do orfanato seria muito bom para termos mais voluntários. Não precisa aparecer o seu rosto. Você pode dar voz às freiras, podemos conversar com a Madre Superiora e ver se é possível as irmãs darem um depoimento.

- É uma excelente ideia! – sorriu. – Você pode intermediar isso para mim?

- Claro que sim! – Fernanda ergueu Henrique, ficando com o menino no colo. Ele ria, chamando Fernanda de "tia Fenana"; e ela não se importava em que o rapazinho sujasse com o pé seu impecável terninho preto, ou bagunçasse os cabelos negros, que ostentavam um novo corte, mais repicado.

– E você, Rique, quer aparecer nos meus Stories?

- Por que você nunca pensou em... Em adotar Henrique? – Mariana parecia curiosa.

- Porque apesar de ter me apegado a ele, eu não nasci para ser mãe.

A resposta surpreendeu a professora.

- Sério! Eu me dedico às crianças do orfanato, amo todas elas, e Rique é meu amorzinho – fez cosquinha na barriga do menino, que riu alto. – Mas não consigo me ver mãe. Nem adotiva nem biológica. Eu não tenho o instinto materno que é necessário. Pensei que um dia... Que um dia eu poderia ser mãe, mas... Entendi que não era pra mim. Posso ser uma ótima tia, mas mãe... Não é pra qualquer um, Mari. Você é uma pessoa que nasceu pra isso. A coragem de deixar tudo para ficar com Beca e Léo, criar os gêmeos enquanto fazia o mestrado... E ainda tem o outro bebê a caminho, né?

Cavaleiros da NoiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora