O cavaleiro negro

1.2K 173 30
                                    

 ⚠️ atenção ⚠️ para gatilhos neste capítulo (referências a automutilação). Se você não se sentir à vontade em começar a ler, não prossiga. A sua saúde e bem-estar estão em primeiro lugar. ❤️

---

Flávia deixou Clara num hotel perto da Carlos Gomes, com um bom dinheiro ("para fingir que foi de um cliente e você não ter problemas com teu cafetão"), e depois voltou para o apartamento de Bel, levando a jovem até a cama com a ajuda de Seu Januário:

- Quer que eu chame Sra. Moon?

- Não, ela deve estar dormindo a essas horas. Qualquer coisa eu cuido de Belzinha.

- Eu ia falar com a polícia, eu... Eu falei pra eles que era engano, Dra. Flávia, mas-

- Imagino o que eles fizeram... Tem horas que eu tenho o mesmo ranço de policial que Bel e Clara. Vá dormir e descansar que amanhã você tá abrindo cedo a pastelaria.

Seu Januário despediu-se e subiu apenas alguns andares – morava sozinho no sexto andar do prédio, mas regularmente recebia a visita dos filhos e netos.

Já Flávia tirou os saltos, retirou as roupas de Bel e os óculos, imundos da passagem pela delegacia. Viu as faixas que amarravam os seios da jovem e não conseguiu esconder o desamparo. "Bel precisa de ajuda e é pra ontem". Seguiu com a jovem nua até o banheiro, com o espelho coberto, e lhe deu banho, passando sabonete pelo corpo magro, com os ossos à mostra, e tentando lavar os cabelos dela, embaraçados, mesmo sem xampu e condicionador. Anotou mentalmente que faria compras de cosméticos para o apartamento.

Percebeu que ela voltava ao normal lentamente: a voz ainda sussurrante buscava entabular ideias, mas o som vinha quebrado, frágil, um arranhão em meio à voz naturalmente rouca da jovem.

- My guardian angel is back...

- Seu anjo da guarda tá mais pra diabinha possessa de raiva de novo. Ainda colocando essas faixas no seio, Bel? Cadê o xampu?

- Bastet tem xampu...

- Bastet é uma gata, Bel!

- Pois é...

Flávia bufou.

- Vou cuidar de você e preciso que me explique o que rolou hoje! Que caos! Não acredito que reencontrei investigador Severo!

Assim que a advogada encontrou uma roupa mais limpa para Bel – uma camisa cinza-clara com gola em V e mangas longas, quase alcançando as mãos, e um short também cinza, que "dançava" em sua cintura – entregou-lhe um pente. Quando viu que Bel recusaria, coube a Flávia pentear o cabelo da amiga calmamente.

- Eu só ouvi Clara gritando... Eu não pensei em nada, peguei a faca da cozinha e desci as escadas descalça mesmo. Não pensei em ligar pra polícia, em pedir ajuda. Taquei o foda-se e fui salvar minha amiga. O resto, Flávia, foi tudo num piscar de olhos: apareceu aquele policial barbudo apontando a arma pra mim e chegando à conclusão que ele queria chegar, depois veio a PM me cercando como se eu fosse chefe do tráfico, aí a gente foi presa e o cara da polícia civil levou o playboy babaca junto com ele como se o maluco fosse uma vítima.

- O PM passou a mão em você mesmo?

Ouviu o som da jovem demorando a responder, fungando.

- Pa-pa-passou... A mão na coxa, sabe...? Aquele ar de malícia... Disse que logo se divertiria com a gente, que não seria "agora" porque com o "grandalhão" não podia fugir da linha... Eu-eu-eu senti tanto nojo... Tanto asco... Chutei as bolas dele... Chutei e não me arrependo.

Cavaleiros da NoiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora