Pela madrugada

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Era uma noite como qualquer outra para Bel.

Olhava o computador em plena madrugada, com Bastet dormindo profundamente no sofá, enquanto ela fazia alguma análise importante observando a tela, enquanto comia um salgadinho de milho e bebia refrigerante.

Dois dias antes, quase desmaiou em casa sozinha, devido à queda de pressão. Lembrou-se do médico que a tratou no dia em que foi salva por Frederico Bittencourt, que recomendou à jovem cuidar da sua saúde e tratar da anemia. Bel deu de ombros: não lhe interessava ficar melhor. Focaria seus esforços em capturar o "assassino do aplicativo"; e depois disso, encontrar alguma maneira de não ser mais necessária, de não atrapalhar ninguém.

Só precisava estar em pé diante de Flávia, Seu Januário, Sra. Moon e Clara, para evitar que eles a colocassem num hospital longe de sua casa.

O olhar de Bel estava concentrado na tela, em que os prints com as imagens dos motoristas de aplicativo, capturadas de celulares, mostravam imagens e nomes distintos; mas ela sabia: tratava-se do mesmo homem. "Está disfarçado, mas tem coisas em comum: é branco, cabelos negros, e sempre esconde o resto do rosto com barbas, cavanhaques... Os olhos também ficam disfarçados por óculos..." Corrigiu-se ao ver uma imagem do homem careca e barbudo. "Ele tem uma imagem de si mesmo careca... Que loucura..."

Eram cinco perfis, mas ela sabia: precisava retirar alguns deles, descartá-los. O perfil que conduzia o veículo branco que Bel observara naquela madrugada seria mantido: o homem de barba vasta, longa, óculos de armação pesada e cabelos negros emoldurando o rosto. Tentou um esforço mental, poderia conhecê-lo de algum lugar, mas o disfarce era muito bom.

A única forma de descartar os perfis era entendendo quais deles já não eram mais usados após dois anos. "Quais são as formas pelas quais o assassino caça as vítimas? Através do app, acordo com o cafetão..."

O celular tocou – Bel não costumava deixar no vibrador; tinha sono leve, e costumava receber muitas ligações. Quando viu o número, não reconheceu, mas atendeu mesmo assim: devia ser alguma das meninas com um número novo:

- Alô...?

- Isabel, boa noite. Desculpa a ligação nessa hora, estamos em plantão hoje.

A voz cavernosa, baixa e dura era inconfundível. "Shit. É o ogro".

- Oi... Boa noite, investigador. Eu sempre fico acordada meia-noite.

- Tudo bem. Estou ligando para informar algo que havia prometido há alguns dias. Nós vamos prender Roque. Por favor, deixe as prostitutas dele de sobreaviso.

- Sim, não se preocupe, vou falar com as meninas. A propósito, me tire uma dúvida...

Um silêncio reinou entre os dois, logo quebrado por Severo:

- Pode falar.

- Foram cinco perfis que as meninas printaram há dois anos dos celulares sobre o assassino. Ele mata de duas maneiras: caçando via app e através dos acordos com os cafetões.

- Sim. Qual é a sua dúvida?

- Os cinco perfis não devem estar circulando hoje em dia. O homem do carro branco ainda está no centro, mas e os outros quatro? Quais deles foram descartados pela facilidade em serem revelados? Quais ainda estão por aí e o cafetão não diz nada por medo de ser vítima do assassino?

- Seus questionamentos fazem sentido, Isabel. Você tem algum padrão?

- Tirando o cara do carro branco? Eu tenho a impressão de que ele nunca matou ninguém usando esse perfil... Mas não tenho certeza. Sei que o perfil do rosto dele é sempre o mesmo, mas com algumas coisas bem interessantes: ele nunca mostrou o maxilar. Sempre está coberto por barbas vastas e cavanhaque pavoroso.

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