Noite e dia

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Este capítulo vai fazer vocês amarem e odiarem personagens na mesma medida. Mas é importante ressaltar que acima de tudo, "Cavaleiros da Noite" é um livro sobre aprendizados: aprender a se amar, aprender a respeitar, praticar a empatia...

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Roque não sabia se terminaria aquela noite vivo.

Desde que fora preso pela polícia sob acusação de explorar sexualmente as prostitutas que comandava - após acreditar que investigador Severo tinha aparecido para fazer mais perguntas sobre sua relação com o "assassino do aplicativo" – o cafetão não tinha tempo livre para pensar em nada na cela. Diariamente eram depoimentos e informações que teria de repetir, e contatos que precisava fazer para marcar um encontro com o criminoso.

A ideia era simples: Roque se encontraria com o assassino e a polícia prenderia o serial killer na armadilha. "Duvido que isso dê certo. Só não quero que esse cara me veja e me mate depois". O homem com quem ele tinha um acordo para levar e trazer suas prostitutas ("onde foram parar aquelas vadias? Aposto que outro descarado aproveitou a brecha e levou elas."), e ainda se lembrava de que ele tinha uns amigos que costumavam fazer serviço de motorista, todos muito bons com carros bacanas e confortáveis. Não sabia se era uma situação isolada ou todo mundo tinha parte nos crimes.

- Chegamos Roque. Chega de distração – disse Severo, firme. Ele estava no banco de trás de um carro que não parecia ser da polícia, ou sequer de um dos agentes da lei. Suspeitava que foi um veículo escolhido de forma deliberada para não indicar nada. O investigador era tão grande que nem ficava confortável naquilo.

Ao lado de Roque, outros policiais, que não pareciam dispostos a uma boa conversa.

Severo, com uma camisa preta com manga até os punhos e o cabelo amarrado num coque, parecia pronto para a guerra. De óculos escuros, preocupava-se em manter a discrição da melhor forma possível – incluindo o uso daquele carro popular, que viera do depósito de carros roubados. Acompanhou atentamente toda a conversa de Roque com o serial killer, que atendia no WhatsApp pelo nome de Emílio – e duvidava se tratar de um nome verdadeiro. Também não havia "Emílio" algum nos CPFs falsos que o "assassino do aplicativo" usou para se inscrever no serviço de motorista; apostava se tratar de outro nome falso. "Eu não gosto nada disso... Nada.", pensou Severo, enquanto repassava o plano para seus policiais de confiança: alguns estariam no alto do prédio no Dois de Julho observando a chegada do carro descrito por Roque como sendo o veículo que ele dirigia quando vinha buscar as prostitutas do cafetão. Outros circulavam pela rua vazia, como se fossem transeuntes. Já Roque esperaria a aparição do assassino na porta do boteco onde ficava seu antigo escritório – agora, um lugar que ninguém ousava pisar, já que o local estava com má fama.

Roque, com uma escuta no ouvido para qualquer situação perigosa, esperava ansioso a chegada do serial killer para fazer o que lhe disseram: conversar com ele, distrai-lo informando de que logo uma das prostitutas apareceria e voilà, dezenas de policiais apareceriam para prendê-lo.

Severo observava tudo dentro do carro. Seus homens de confiança se encontravam espalhados pela rua, e poucas pessoas caminhavam por ali naquele fim de tarde de domingo, apesar de alguns bares abertos, acompanhando os jogos da dupla Ba-Vi. Os gritos de "uhh" e "vai, chuta!" não o afetavam; não prestava atenção à partida, e sim à aparição do carro que tanto queria ver. Sabia onde estavam todos os homens chamados para a operação, e até aqueles que não foram convocados – Janderson não veio porque continuava sua observação da prostituta, assim como outros detetives que deveriam manter a rotina até a prisão do "assassino do aplicativo".

Poucos carros passavam, todos em baixa velocidade. Um deles, um carro popular branco, de quatro portas, passava lentamente pela região, como se procurasse alguém. Ao ver a placa do modelo, a memória fotográfica de Severo reconheceu rapidamente aquele padrão de letras e números. E uma voz rouca, baixa e impaciente apareceu em sua cabeça:

Cavaleiros da NoiteDonde viven las historias. Descúbrelo ahora