A cidade de Bexley esconde verdades de seus cidadãos que a própria verdade desconhece. Isso, até que um suposto suicídio força tais segredos a sairem das sombras para o bem da população não tão pacata desse misterioso município de Vermont. Consequen...
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- Tá tudo bem?
O comentário a respeito de seus olhos passou despercebido por Colt Carlile, que mais estava preocupado em ajudar uma ensopada Galatia Gray a se reerguer da calçada gélida.
- Comigo sim... - Balbuciou enquanto entrelaçava suas mãos nas firmes do garoto que a impulsionava para cima com delicadeza - Mas eu achei um gatinho filhote perdido na chuva - Disse, puxando a aba de seu moletom para revelar o animalzinho encolhido.
Um brilho correu o rosto pálido de Colt, que indiciava um misto de preocupação e alívio.
- Essa gatinha é minha. Minha madrasta deixou o portão aberto e ela fugiu... Achei que tivesse fugido para longe - Disse, pegando-a no colo e a analisando com cuidado, em seguida cobrindo-a com a própria blusa - Obrigado, de verdade.
Seus olhos se reencontraram, e dessa vez, com a distância limitada pelo alcance do guarda-chuva, Galatia pôde analisar suas feições de forma exclusiva.
Colt tinha olhos cinzas.
E não era um cinza glacial, nem um cinza morto.
Era um cinza como os cinzas dos filtros de fotos antigas dos anos 60.
Um cinza meio clássico.
Um cinza que tinha algo a dizer além de "oi, sou a cor mais sem graça entre o branco e o preto".
Um cinza argênteo.
Por deus, no que Galatia estava pensando?
- Não foi nada... - Intoxicada pela proximidade e a troca de olhares, a menina passou os olhos por sua volta denominando tudo o que até então estava escuro e ficou surpresa por ainda estar a cinco passos da casa de Pao, que até pouco tempo atrás parecia tão distante.
- Você... Você mora aqui perto? - Questionou de forma educada, coisa que Galatia captou em segundos como a forma legal de se perguntar "O que você tá fazendo aqui no meio de uma tempestade a essa hora da noite, sentada no meio da calçada feito uma marmota molhada?".
- Não... A história é mais longa que isso, mas a Pao perdeu um documento que na verdade tinha sido entregue na minha casa e ela precisava dele com urgência então eu resolvi deixar aqui a essa hora da noite sendo que eu poderia muito bem ter feito isso de manhã cedo por que... Bem... Alguém precisava salvar sua gatinha- Disse em um só fôlego.
Quando Galatia Gray ficava nervosa tendia a fazer piadinhas para aliviar a situação. Entretanto, nas vezes em que sua piada não era entendida e o ouvinte ficava com cara de pastel, Galatia acabava mais sem graça que antes. Profundamente arrependida por ter essa tendência à ironia.
