Episódio Quatro: Sem sorte

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— Você tá bem? — o rosto dele estava acima do meu, e seria uma digna cena de filme se eu não tivesse gritado de dor a plenos pulmões e ele saiu de cima de mim para que eu rolasse no chão em agonia, sem empecilhos — Desculpa, desculpa, mas você me puxou junto e-

— Tá, eu não tô reclamando contigo! — resmunguei meio gritado, mas ele podia me dar um desconto na grosseria porque se eu não quebrei nada, cheguei bem perto disso. Sentei no chão, esfregando o ombro esquerdo, as lágrimas acumulando no canto dos olhos, — Quase fui prensado naquela lata velha, essas portas não tem sensores?

— Tudo está dando errado hoje. — Jeon murmurou.

— Você não morreu num acidente de trem e eu não morri duas vezes, pra mim tá tudo muito certo. — me levantei primeiro e o ajudei a levantar, devia essa por ter me salvo das portas assassinas, mesmo quase quebrando meu braço. — Vamos começar de novo. Eu sou Kim Taehyung.

— Jeon Jeongguk.

— Certo. É um p-. — ele acenou que não antes que eu pudesse lhe fazer uma reverência.

— Não. Use o tratamento formal. "É um honra, vossa majestade". — tá, era justo que ele não deixasse meu comentário anterior passar batido.

— Pétalas para o poderoso deus. Ave rei de Goryeo. — fingi jogar as pétalas imaginárias antes de fazer uma reverência mais profunda. Ele aceitou minha saudação, rindo baixo.

— Bom... Até mais, Taehyuk — devolveu a reverência e antes que pudesse me dar conta ele foi embora, seguindo em direção ao elevador para os andares superiores, que por sorte, já estava com as portas abertas, como se aguardasse a entrada dele.

E eu não o veria nunca mais.

Pelo menos, não nas próximas quatro horas. Ou talvez menos que isso.

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JEON JEONGGUK

29 de dezembro

— Preciso mesmo fazer essas fotos hoje? — perguntei ao presidente Park, esperançoso demais, mesmo sabendo que ele raramente mudava de ideia. Ainda assim, valia tentar, com sorte eu estaria livre da obrigação ou no mínimo cairia uma tempestade e as fotos teriam de ser feitas num estúdio ainda em Seul.

— Sinto muito. Mas o primeiro ministro quer o "Coelho da sorte da Coreia" na torre de Busan. E ele terá o Coelho da sorte na torre de Busan. Não é certo que Nova York tenha o seu rosto nos outdoors junto com imagens da Estátua da Liberdade e você não tenha uma foto na torre que é um símbolo tão importante. E sua família era de lá, é péssimo para a publicidade que em cidadão local não mostre amor e respeito a cidade.

— O que? Mas... Isso nem faz sentido — eu deveria lembrá-lo mais uma vez que apesar de apesar de sim, minha família ser de Busan, eu sequer vivi lá? Passei a infância nos Estados Unidos, meu avô por parte de mãe era um texano clássico, que estranhamente odiava republicanos, não comia hambúrgueres e criava galinhas como se fossem filhas - a mamãe chamava as galinhas de irmãs - meu pai viveu em Busan antes de imigrar, e voltou somente depois que tive dinheiro o bastante para trazê-lo, mas ele vivia em Ulsan desde então. Quando vim para a Coreia, eu mal podia gastar com comida, quanto mais passagens para visitar Busan.

Mas quem se importava? No fim das contas aparentar amor e lealdade a cidade era mais válido do que realmente sentir isso. E se a sorte não se posicionou contra minha viagem, é certo que não havia mal nenhum em ir.

— Tudo bem... Eu vou.

— Ótimo. Agora... — empurrou dois envelopes fechados em minha direção, secretário Chan e o gerente Kim se aproximaram, silenciosos como sempre, para ver a "magia" acontecer — Qual deles vai ser o melhor grupo? — suspirei e lhe apontei o envelope da esquerda. Gerente Kim recolheu-o — O melhor single de estreia é? — colocou dois novos envelopes — permaneci com o da esquerda.

Lucky: e o Coelho da SorteOnde histórias criam vida. Descubra agora