24. A viagem no tempo

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A torre voltava à sua posição original, esticando, novamente o pescoço e quando atingiu a altura de antes, enrijeceu-se por completo, voltando a ser a estrutura de pedra.

Kayla e o drow estavam presos numa caverna ovalada.

Uma fogueira acendeu diante deles, suas chamas eram esverdeadas e duas paredes de pedra limitavam o cômodo.

Egoin passou pela fogueira, com seu manto negro, deslizando pelo chão.

- Ora, ora, ora... eu procurando uma elfa e recebo um drow de presente. Sejam bem vindos! - disse.

- O que você quer comigo, seu mago aloprado? - indagou Kayla, alternando sua mira entre o mago e o drow.

Ele apenas riu.

- Onde está o prêmio? - perguntou o drow.

- Você será recompensado em instantes, não por qualquer tempo mas pela eternidade!

A risada do mago foi cessada pelo arremesso da adaga da elfa, em seu rosto.

Um corte rompeu em sua pele o fazendo sangrar.

Flippo agora conseguia ver o que estava acontecendo do lado de dentro da torre, ele veio, com cuidado, se aproximando do olho do dragão que servia de janela na caverna.

Egoin ergueu sua mão na direção de Kayla e ela foi impulsionada para trás sendo presa na parede por uma corrente que envolveu seus pés e braços.

- Mestre Egoin - disse o drow se ajoelhando - conceda-me a viagem temporal e eu lhe servirei como desejar.

- Ora, esse é mais ajuizado. Na verdade, creio que não será necessário mais essa tão esperada viagem temporal... já que ficará preso no presente. - seus olhos miraram o drow como duas pérolas.

O mago abaixou o olhar e as paredes em torno deles se desfizeram, descendo até o chão.

De um lado, havia a miniatura de pessoas em forma de pedra e do outro vários baús e objetos dispostos em colunas de mármore. Dentre uma delas pousava uma coruja branca, com listras lilás em suas asas.

Ela piou.

- Que animal interessante. - disse o mago - deve servir para minha coleção.

- O que são essas estatuetas? - perguntou o drow, se erguendo da posição que estava.

- O seu destino. - sibilou o mago negro.

O drow arremessou dardos mágicos na direção de Egoin, que os defendeu com sua capa, a coruja voou de onde estava.

O mago negro projetou um raio de luz na direção do drow, que saltou acima dele se agarrando nas paredes da caverna.

Flippo via seu mestre se desviar dos ataques do mago, quando ele ficou bem em sua mira, na abertura da janela. O menino saltou para dentro do cômodo e atirou dois dardos de besta, um de cada mão, nas costas do mago.

Egoin ajoelhou-se e logo projetou-se para a frente caindo no chão.

O olhar do mestre fixou-se no do aprendiz, sem dizer uma palavra. O braço do drow havia sido atingido e ele também sangrava.

- Flippo! - falou Kayla, enquanto a corrente que circundava em seu corpo havia se soltado.

- Você está bem?

- Sim, agora sim. O que esse homem está fazendo com sua magia? Ele precisa ser impedido!

- Sim Kayla, mas agora precisamos saber como sair daqui.

O drow começou a revirar os baús em procura do trinustempus. A coruja ainda voava no cômodo, ela começou a piar ininterruptamente, chamando a atenção de todos.

O céu começou a trovejar, a sala ficou escura. O clarão lá fora, denunciou que o corpo de Egoin não estava mais caído.

Ninguém se mexeu.

As mãos finas e compridas envolveram o pescoço do drow, enquanto seu corpo era esticado contra a sua vontade., flutuando no ar.

- Você... eu quero você! - disse Egoin suspenso sobre o chão.

O vento pareceu parar, o som foi ofuscado, apenas o clarão da pele do mago clareava o ambiente como uma lanterna fraca.

Em seu pescoço havia um amuleto pendurado, cinco serpentes de cobre enroladas para baixo, rodeando uma esfera. Quando os olhos do mago ficaram brancos, as serpentes se moveram, subindo como se ganhassem vida, dançando presas numa pequena cabeça humana definhada.

A coruja sobrevoou, transpassando por eles e foi para o outro cômodo.

O mago proferia um encantamento com seus olhos, mãos e boca. Tudo parecia estar sendo sugado na direção de seu peito. A sensação foi rápida e logo cessou, revelando a criatura empedrada em sua frente.

O drow havia se transformado em pedra.

Kayla e Flippo estavam de mãos dadas, olhando para o homem de negro.

- Mestre... - disse de forma inaudível.

- Quem será o próximo? - perguntou Egoin se direcionando aos dois.

A elfa olhou para os olhos de Flippo, era a primeira vez que havia lágrimas neles. Ela acenou com a cabeça e se jogou na frente do arqueiro, atacando o mago com suas adagas.

Egoin a imobilizou no ar, antes que ela o acertasse.

Um miado estridente, seguido pelo salto que aterrissou no tronco do mago, cortando seu peito, a guerreira felina o atacava com toda sua raiva. O mago estremeceu, abaixando a guarda. Kayla sentiu seus movimentos voltarem aos seus comandos, impulsionou-se no chão e veio com sua adaga na direção do mago.

Ele arremessou a guerreira felina contra a parede, deixando-a desacordada.

A lâmina élfica encostou em seu rosto, perfurando seu nariz. Ele se inclinou para trás e, agarrou Kayla em seus braços.

A mesma luz esbranquiçada começou a ser refletida do mago.

- NÃOOO! - gritou Flippo tentando se projetar onde poderia atirar sem atingir a elfa.

Kayla não conseguia se desvencilhar do mago negro que a prendia abraçando-a.

A coruja apareceu sobrevoando o cômodo na direção de Flippo.

Flippo saltou, disparando sua seta acima dos ombros de Kayla.

Grunny revelou-se através da coruja e se projetou sobre o garoto, o arremessando para o lado.

Trinus Tempus! - gritou Grunny enquanto voava pelo chão com Flippo num braço e a ampulheta azul no outro.

O clarão branco resplandeceu no salão.

Kayla, Egoin e as paredes da torre não eram mais vistos. O som foi diminuindo até não ser mais ouvido. O abraço de Grunny o projetando para o lado, deixou de ser sentido. Seu corpo não sentia mais a gravidade. Os batimentos cardíacos que pareciam dilacerá-lo, num instante, tornaram-se leve fluidez que foi se extinguindo. A respiração ofegante inalava novo ar que parecia acalmar e transpor toda agitação. O suor do corpo havia cessado, não mais resfriava ou aquecia.

Somente o torpor.

Tudo deixou de ser sentido.

As Aventuras de Flippo e o Trinustempus Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt