2. A vila anã de Bedaürinde

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Flippo chegou em casa quase junto com seu pai, apenas deu tempo de depositar a caça na bacia ao lado de fora da casa e tirar seus outros objetos.
- Olá filho, como foi a caça hoje, está chegando agora?
- Oi pai, foi tudo bem, mas não tive muito êxito.
Contemplando a bacia cheia de peixes e mais os pequenos animais, o pai sorriu admirado.

- Você não está cobrando muito de si não, menino?
- Quero poder chegar aqui com um animal de grande porte, aí sim ficarei feliz!
- Não desanime Flippo, mas não se arrisque muito, não quero que nada te aconteça.
- Pode deixar pai, estou aprendendo a me defender.
- Não seria bom que alguém te acompanhasse nas caças, posso pedir para o seu avô indicar alguém.
- Não, não pai, não precisa. Nunca me aconteceu nada, eu estou bem sozinho.- respondeu o garoto lembrando de seu treinamento secreto.
- Tudo bem filho, só não tente fazer nada que esteja fora do seu alcance. Tenho visto as vezes que chega machucado, a floresta pode ser bastante perigosa.
- Eu sei pai, vou tomar mais cuidado.
- Tudo bem então, vamos entrar. - o homem alto, com os braços fortalecidos pelo trabalho braçal, cabelos negros e bagunçados, adentrou a casa abraçando o filho.
Os dois se pareciam muito, Flippo tinha os mesmos olhos e cabelos escuros de seu pai, exceto os cabelos do menino que eram mais enrolados, lembrando os da sua mãe. A aparência humana dos dois eram atípicas naquela região governada por anões. Enquanto a maioria das pessoas eram baixas e troncudas, os dois eram esguios e altos.
Flippo estava separando as caças e as preparando para assar, enquanto seu pai ia acendendo a lareira e colocando baldes de água no fogo para aquecer.
- Filho.
- O que foi pai?
- Já vai fazer um ano do aterramento da mina, por esses dias...
Flippo deixou o coelho na panela e ficou estático, virou o rosto para o lado escondendo as lágrimas que surgiam em seus olhos, motivadas pela lembrança que a notícia lhe causou. Com a voz trêmula, ele respondeu:
- Já...pai...?
- Sim, filho. Seu avô queria saber se você tocará algo nas homenagens. Mas fique a vontade fi... - vendo as lágrimas no rosto do garoto o homem se levantou da lareira e foi ao seu encontro – não fique assim meu menino, foi um acidente, ninguém podia prever...

- Sim... eu sinto muita falta dela, pai. - o garoto respondeu abraçando com mais intensidade o seu genitor.

- Eu também filho, ela nos faz muita falta.
Por um longo tempo eles ficaram em silêncio, abraçados, buscando em suas memórias as recordações que tinham da figura materna e da esposa carinhosa que se perdeu durante o trágico acidente que soterrou os trabalhadores da mina, num desmoronamento há um ano atrás. Várias famílias da vila haviam perdido seus entes que estavam trabalhando e o avô de Flippo, um dos principais líderes do clã Bedaür, estava organizando uma homenagem aos familiares soterrados.
- Eu quero muito homenagear minha mãe, pai. - disse Flippo quebrando o silêncio na cabana.
- Que bom meu filho, ela ficará muito feliz. - respondeu o homem deixando suas lágrimas rolarem dessa vez.
Os dois terminaram seus afazeres e foram para a cama dormir com o saudosismo da mãe e companheira ausente. Flippo alternava os pensamentos entre os encantamentos que estava aprendendo com o elfo e a canção que estava compondo à memória de sua mãe, até pegar no sono de tanto cansaço e adormecer.

O dia já estava claro quando Flippo acordou, ele levantou de sobressalto,a lareira já estava apagada, olhou pela janela. O sol já havia nascido, meditou em seus pensamentos e deduziu que não conseguiria realizar todas as tarefas de seu exigente mestre, então resolveu fazer as outras obrigações que tinha com seu vilarejo e deixar o treinamento por um dia.
Separou todas as peles das caças que realizava e as amarrou num grande rolo. Eram muitas, de pequenos animais. Pegou seu saco de moedas quase vazio e seguiu para o caminho oposto do dia anterior.
Foi para a estrada das montanhas brancas.
O caminho seguia pela encosta, uma estrada única que separa a floresta abaixo e o pico da montanha. Depois de uma caminhada a estrada adentrava um túnel que perfurava as rochas da montanha.

As Aventuras de Flippo e o Trinustempus Where stories live. Discover now