20. A gaiola

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Flippo acordou Grunny antes do sol ter nascido, os dois deixaram Kayla dormindo no quarto sem se despedirem, para não acordá-la. Eles desceram para a taverna onde fizeram uma refeição e deixaram o local se dirigindo para a arena.

- Que tempo estranho não é Grun? - comentou o arqueiro.

- Sim... parece nuvem de chuva.

Um raio de brilho verde irradiou por entre as nuvens que parecia encobrir toda a cidade, sem fazer barulho.

- Você viu isso?

- Sim, não é normal... parece mágica! - disse o mago.

Ele elevou sua varinha acima de cabeça, esticando o braço e conjurou uma bola de luz que subiu até o céu. Quando ela tocou nas nuvens foi dizimada, revelando uma barreira invisível que se estendia sob o céu da cidade.

- O que foi isso? - Flippo perguntou assustado.

- Parece uma barreira. Egoin quer nos prender aqui?

- Mas ele é capaz de fazer isso?

- Vamos, só tem um lugar onde podemos descobrir isso.

Eles correram até a arena, onde alguns guerreiros pernoitaram e agora as portas estavam se abrindo, a fila estava bem menor que no dia anterior.

- Grun, qualquer coisa suspeita tente me avisar!

- Sim, você também...e boa sorte.

- Obrigado.

O olhar de Flippo acompanhou o mago se distanciando até a entrada dos magos onde não havia quase ninguém. Ele, então, foi até a entrada da esquerda , destinada aos arqueiros.

Um homem alto e encapuzado na fila chamou a atenção de Flippo, quando ele virou para trás percebeu que seu rosto estava encoberto, apenas seus olhos estavam a mostras e mesmo assim muito pouco. O homem sumiu quando adentrou a arena.

Dois servos de Egoin, encapuzados de preto chegaram à porta bem na hora e começaram a cadastrar os competidores, pedindo que tirassem qualquer máscara ou capacete em seus rostos.

Flippo não tinha nada em sua cabeça, apenas disse seu nome e sua origem para os homens, que permitiram sua passagem.

No interior da arena, havia pequenos alvos circulares na parede, Flippo percebeu que o homem da fila, encapuzado, arremessava adagas com suas mãos que pareciam ser conjuradas e sumiam após terem sido enfincadas nos alvos.

Ele acertou todos os alvos e foi conduzido para a parte aberta da arena.

- Precisamos revistar todos os inscritos. - comentava um dos súditos da torre ao seus comparsas. - O Mestre procura um participante em especial.

- E quem seria? - indagou o homem que revistava Flippo.

- Um de orelhas pontudas.

O peito de Flippo congelou e sua garganta pareceu secar. "A quem será que os homens de Egoin estavam se referindo", pensou.

- Você é o próximo garoto, mostre por quê devemos aceitá-lo como competidor. - disse o homem após ter acenado para seu companheiro. Ele ergueu o cabelo de Flippo confirmando o formato de suas orelhas.

- Só para confirmar.

- Vocês acham que há um elfo aqui? - perguntou em baixo som.

- Não faça perguntas, apenas me mostre suas habilidades! - respondeu, rispidamente o avaliador.

Flippo pegou o novo arco e disparou nos três primeiros alvos, fixados na parede, acertando-os em cheio. Logo após, ativou as bestas de mãos que agoram se mesclavam com sua armadura em seus punhos, entrou no estreito de terra e rolou por entre os alvos que estavam pendurados no teto, e pendiam de um lado ao outro.

No último deles, Flippo arremessou sua adaga, que o perfurou, transpassando o alvo. Dois homens encapuzados olharam para ele.

- Adaga interessante. - disse o que o examinou há pouco - da onde disse que era mesmo? Ah Bedaürinde, muito bem pode prosseguir para a arena.

O homem olhou para seu comparsa que adentrou as instalações levando um pedaço de pergaminho com ele. Flippo recolheu sua adaga no chão e foi para a parte aberta.

Um guarda estava na frente, controlando a entrada dos competidores, tinha uma sacola de couro em suas mãos.

O sol lá fora já havia nascido, devido a claridade que refletia na arena. Flippo ouviu objetos de madeira serem destroçados e gritos na plateia ovacionando o ocorrido. O guarda mostrou a sacola para Flippo e pediu para que tirasse um número.

- Vai ser o desafio que irá enfrentar na arena, vamos lá garoto. - seu rosto esbugalhado entre o capacete e a malha de argolas que caía em seu semblante o deixavam ainda mais pavoroso.

Flippo engoliu em seco e retirou um dos números.

- Três, muito bem. Siga pela terceira porta. Ande! - bravejou o homem.

Sem ousar questionar o que seria, Flippo foi seguindo até a porta. Conferiu suas armas e parou hesitante em frente ao número três, respirou profundamente e a abriu.

Mãos em suas costas o empurraram, fazendo-o cair no chão de terra cheio de vegetação. Flippo ajoelhou-se e olhou para cima, então viu as grades que fechavam o local circular que estava, há vários metros de altura, se encontrando no ponto central. A sua volta, árvores tropicais e vegetação rasteira. Junto das grades, alguns pontos pareciam se mover pulando entre as barras de ferro.

Quando ele se levantou um pio grosso ecoou dentro da gigante gaiola que estava e o bater de asas num vôo curto. A plateia começou a gritar e o que parecia uma mancha na grade foi se dissolvendo, revelando grande quantidade de aves presas com ele. Os pontos negros começaram a voar em círculos, premeditando um mergulho na direção no garoto.

"Corvos atrozes", identificou o garoto. Pela quantidade deles seu arco não seria útil nesse momento, ele sacou a flauta de suas vestes levando-a à boca.

A sinfonia projetada entre assopros e dedilhadas no instrumento ia ganhando força, alcançando alguns pássaros que, mais próximos de Flippo, foram despencando do ponto onde estavam. Porém, a maior parte deles ainda estava voando no topo da gaiola.

Eles começaram a mergulhar, e vinham em formação contra Flippo. O garoto começou a correr entre as árvores se escondendo da investida dos pássaros e continuando com seu instrumento nos lábios.

Grande quantidade deles caíam, adormecidos, ao se aproximarem da canção enfeitiçada do menino. O que não garantiu sua ampla defesa, ele ainda corria entre o terreno e começava a saltar entre as grades, desviando da investida dos pássaros negros e dentuços.

Poucos deles chegaram em suas vestes perfurando a pele que se projetava de seus ombros e investiam contra a armadura nova que Flippo usava, sem conseguir perfurá-la.

Flippo já havia feito adormecer mais da metade deles.

Então concentrou em uma nova canção, aquela descrita nos pergaminhos que seu Mestre o havia deixado no dia que saiu da ilha de Bedaürinde. Seus dedos buscavam a composição do som grave e frenético.

Flocos de neve começaram a surgir ao redor do garoto e, na nota mais aguda que era repetida, uma explosão glacial congelou os pássaros que ainda voavam, os que estavam adormecidos e a vegetação por entre as grades.

Apenas Flippo não havia sido atingido pelo gelo.

Ele olhou para todos os lados, algumas pessoas o aplaudiam na arena, quase vazia, e outros ficaram descontentes com os pássaros atrozes não terem devorado o menino. Ele saiu para fora da arena, em outra porta que se abriu. Outro súdito da torre negra veio saudá-lo.

- Espere aqui, você enfrentará o vencedor da arena quatro, se houver algum.

As Aventuras de Flippo e o Trinustempus Where stories live. Discover now