Flippo acordou Grunny antes do sol ter nascido, os dois deixaram Kayla dormindo no quarto sem se despedirem, para não acordá-la. Eles desceram para a taverna onde fizeram uma refeição e deixaram o local se dirigindo para a arena.
- Que tempo estranho não é Grun? - comentou o arqueiro.
- Sim... parece nuvem de chuva.
Um raio de brilho verde irradiou por entre as nuvens que parecia encobrir toda a cidade, sem fazer barulho.
- Você viu isso?
- Sim, não é normal... parece mágica! - disse o mago.
Ele elevou sua varinha acima de cabeça, esticando o braço e conjurou uma bola de luz que subiu até o céu. Quando ela tocou nas nuvens foi dizimada, revelando uma barreira invisível que se estendia sob o céu da cidade.
- O que foi isso? - Flippo perguntou assustado.
- Parece uma barreira. Egoin quer nos prender aqui?
- Mas ele é capaz de fazer isso?
- Vamos, só tem um lugar onde podemos descobrir isso.
Eles correram até a arena, onde alguns guerreiros pernoitaram e agora as portas estavam se abrindo, a fila estava bem menor que no dia anterior.
- Grun, qualquer coisa suspeita tente me avisar!
- Sim, você também...e boa sorte.
- Obrigado.
O olhar de Flippo acompanhou o mago se distanciando até a entrada dos magos onde não havia quase ninguém. Ele, então, foi até a entrada da esquerda , destinada aos arqueiros.
Um homem alto e encapuzado na fila chamou a atenção de Flippo, quando ele virou para trás percebeu que seu rosto estava encoberto, apenas seus olhos estavam a mostras e mesmo assim muito pouco. O homem sumiu quando adentrou a arena.
Dois servos de Egoin, encapuzados de preto chegaram à porta bem na hora e começaram a cadastrar os competidores, pedindo que tirassem qualquer máscara ou capacete em seus rostos.
Flippo não tinha nada em sua cabeça, apenas disse seu nome e sua origem para os homens, que permitiram sua passagem.
No interior da arena, havia pequenos alvos circulares na parede, Flippo percebeu que o homem da fila, encapuzado, arremessava adagas com suas mãos que pareciam ser conjuradas e sumiam após terem sido enfincadas nos alvos.
Ele acertou todos os alvos e foi conduzido para a parte aberta da arena.
- Precisamos revistar todos os inscritos. - comentava um dos súditos da torre ao seus comparsas. - O Mestre procura um participante em especial.
- E quem seria? - indagou o homem que revistava Flippo.
- Um de orelhas pontudas.
O peito de Flippo congelou e sua garganta pareceu secar. "A quem será que os homens de Egoin estavam se referindo", pensou.
- Você é o próximo garoto, mostre por quê devemos aceitá-lo como competidor. - disse o homem após ter acenado para seu companheiro. Ele ergueu o cabelo de Flippo confirmando o formato de suas orelhas.
- Só para confirmar.
- Vocês acham que há um elfo aqui? - perguntou em baixo som.
- Não faça perguntas, apenas me mostre suas habilidades! - respondeu, rispidamente o avaliador.
Flippo pegou o novo arco e disparou nos três primeiros alvos, fixados na parede, acertando-os em cheio. Logo após, ativou as bestas de mãos que agoram se mesclavam com sua armadura em seus punhos, entrou no estreito de terra e rolou por entre os alvos que estavam pendurados no teto, e pendiam de um lado ao outro.
No último deles, Flippo arremessou sua adaga, que o perfurou, transpassando o alvo. Dois homens encapuzados olharam para ele.
- Adaga interessante. - disse o que o examinou há pouco - da onde disse que era mesmo? Ah Bedaürinde, muito bem pode prosseguir para a arena.
O homem olhou para seu comparsa que adentrou as instalações levando um pedaço de pergaminho com ele. Flippo recolheu sua adaga no chão e foi para a parte aberta.
Um guarda estava na frente, controlando a entrada dos competidores, tinha uma sacola de couro em suas mãos.
O sol lá fora já havia nascido, devido a claridade que refletia na arena. Flippo ouviu objetos de madeira serem destroçados e gritos na plateia ovacionando o ocorrido. O guarda mostrou a sacola para Flippo e pediu para que tirasse um número.
- Vai ser o desafio que irá enfrentar na arena, vamos lá garoto. - seu rosto esbugalhado entre o capacete e a malha de argolas que caía em seu semblante o deixavam ainda mais pavoroso.
Flippo engoliu em seco e retirou um dos números.
- Três, muito bem. Siga pela terceira porta. Ande! - bravejou o homem.
Sem ousar questionar o que seria, Flippo foi seguindo até a porta. Conferiu suas armas e parou hesitante em frente ao número três, respirou profundamente e a abriu.
Mãos em suas costas o empurraram, fazendo-o cair no chão de terra cheio de vegetação. Flippo ajoelhou-se e olhou para cima, então viu as grades que fechavam o local circular que estava, há vários metros de altura, se encontrando no ponto central. A sua volta, árvores tropicais e vegetação rasteira. Junto das grades, alguns pontos pareciam se mover pulando entre as barras de ferro.
Quando ele se levantou um pio grosso ecoou dentro da gigante gaiola que estava e o bater de asas num vôo curto. A plateia começou a gritar e o que parecia uma mancha na grade foi se dissolvendo, revelando grande quantidade de aves presas com ele. Os pontos negros começaram a voar em círculos, premeditando um mergulho na direção no garoto.
"Corvos atrozes", identificou o garoto. Pela quantidade deles seu arco não seria útil nesse momento, ele sacou a flauta de suas vestes levando-a à boca.
A sinfonia projetada entre assopros e dedilhadas no instrumento ia ganhando força, alcançando alguns pássaros que, mais próximos de Flippo, foram despencando do ponto onde estavam. Porém, a maior parte deles ainda estava voando no topo da gaiola.
Eles começaram a mergulhar, e vinham em formação contra Flippo. O garoto começou a correr entre as árvores se escondendo da investida dos pássaros e continuando com seu instrumento nos lábios.
Grande quantidade deles caíam, adormecidos, ao se aproximarem da canção enfeitiçada do menino. O que não garantiu sua ampla defesa, ele ainda corria entre o terreno e começava a saltar entre as grades, desviando da investida dos pássaros negros e dentuços.
Poucos deles chegaram em suas vestes perfurando a pele que se projetava de seus ombros e investiam contra a armadura nova que Flippo usava, sem conseguir perfurá-la.
Flippo já havia feito adormecer mais da metade deles.
Então concentrou em uma nova canção, aquela descrita nos pergaminhos que seu Mestre o havia deixado no dia que saiu da ilha de Bedaürinde. Seus dedos buscavam a composição do som grave e frenético.
Flocos de neve começaram a surgir ao redor do garoto e, na nota mais aguda que era repetida, uma explosão glacial congelou os pássaros que ainda voavam, os que estavam adormecidos e a vegetação por entre as grades.
Apenas Flippo não havia sido atingido pelo gelo.
Ele olhou para todos os lados, algumas pessoas o aplaudiam na arena, quase vazia, e outros ficaram descontentes com os pássaros atrozes não terem devorado o menino. Ele saiu para fora da arena, em outra porta que se abriu. Outro súdito da torre negra veio saudá-lo.
- Espere aqui, você enfrentará o vencedor da arena quatro, se houver algum.
YOU ARE READING
As Aventuras de Flippo e o Trinustempus
AdventureHá quase um ano do desmoronamento que soterrou sua mãe nas minas anãs de Bedaürinde, Flippo toma conhecimento de um torneio que tem como prêmio viajar no tempo. Instigado pela lembrança da mãe, o pequeno parte rumo à essa aventura. Na companhia do...