22. Dentro da Torre Negra

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Os olhos de Grunny foram se abrindo em leves piscadas. Sua cabeça foi recobrando a consciência.

Ele estava deitado, havia palha no chão de pedra, um cheiro de mofo, tochas clareavam o cômodo fechado e sem janelas. Grades em volta da cama onde dormia, denunciava que estava preso.

O mago levantou-se, olhou para os lados, havia diversas jaulas ao seu redor, iguais a que estava, todas vazias. Armas adornadas foram abandonadas em algumas delas.

Grunny levou as mãos até as grades que o prendia e as chacoalhou. Era ferro.

Ele cuspiu em suas mãos e voltou a pressionar as grades.

Eiusdem est transmutare! - foi o encantamento que pronunciou.

Após terminar de pronunciar o feitiço as grades de ferro se transformaram em água, onde o mago as segurava, abrindo passagem para ele sair.

- Que estupidez. A coisa mais simples para um mago transmutador é transformar ferro em água. - falava consigo mesmo - É melhor eu me transformar também, antes que alguém me prenda de novo.

E com um aceno de sua varinha, ainda consigo, transformou sua túnica em uma túnica negra com uma rosa vermelha desenhada nela. Começou a andar pelas selas até achar uma escada.

A porta que findava os degraus estava aberta, uma grossa porta de madeira. Ao passar por ela, viu novamente o salão principal, a porta por onde saía para a arena. Vários outros súditos de Egoin andavam apressadamente para todas as direções. O barulho lá fora demonstrava que os combates ainda não haviam cessado, a platéia torcia e golpes eram destilados por armas.

O mago achou melhor procurar por mais vestígios sobre o que estava acontecendo e se espreitou por entre a parede para dentro da torre, circundando o salão.

Durante a passagem pelo salão principal encontrou dormitórios, cozinha, objetos de limpeza, salas de aula, biblioteca e laboratório. Parecia tudo normal, os locais onde os súditos moravam e estudavam, mas nada de particular ou pertencente ao mago Egoin. Ele então olhou para cima.

O teto do salão parecia não ter fim, era o prolongamento da torre negra. Lá devia ser os aposentos e onde guardava os segredo do grande mago. Mas, não havia escadas ou outra forma de acesso para cima.

"Só há um jeito" - pensou.

O mago se escondeu por entre os corredores escuros do salão, enquanto os outros súditos permaneciam em suas atividades e girou sua capa, se transformando novamente em coruja.

Ele sobrevoou pelo salão em direção ao cume da torre.

- Vejam, uma ave! - disse um dos súditos e disparou um dardo mágico na direção dela.

Por sorte, Grunny conseguiu desviar do disparo.

- Deixe-a, temos muito o que fazer ainda hoje.

- O Mestre não vai gostar.

- Temos que deixar o encantamento pronto pra quando terminar o torneio.

- Ele prendeu mais alguém?

- Há mais duas arenas competindo, venha.

Grunny conseguiu ouvir a conversar enquanto batia as asas, voando para o alto.

A abertura era muito extensa o mago precisou se apoiar duas vezes nas paredes para descansar. Era estranho como as pedras eram encaixadas, parecendo repetir um padrão de forma e encaixe. Uma luz esverdeada descia pelas paredes, como uma névoa, de tempo em tempo.

Com o bater das asas quase sem forças, Grunny avistou, no canto da torre, o início de uma escadaria. Ele pousou nela, se transformando em humano novamente. Precisou sentar e recuperar o fôlego.

Com a varinha em mãos, agora irradiando uma pequena luminosidade dela, seguiu pelos cômodos escuros.

O chão era negro e brilhoso, com vincos que refletiam ainda mais intensamente a coloração esverdeada. Grunny subiu a escada e entrou numa sala ovalada, pedras losangulares das mais variadas cores estavam presas nas paredes do cômodo, do chão ao teto, dispostas em simetria.

- Hey, você! - sibilou uma voz feminina, arranhada, quase felina.

Grunny apontou a varinha até a direção da voz e viu a guerreira presa no final da sala, com a cabeça e as mãos presas numa barra de ferro, ajoelhada ao chão.

- A guerreira. - disse o mago, lembrando da batalha que assistiu com Flippo quando chegaram na cidade.

- Você não está com aquele louco, esstá? Suas roupass não são iguais as deles. Você precisa me ajudar!

- O que houve? - os olhos da mulher estavam arregalados numa expressão de súplica e medo.

- Esse torneio é uma farssa! - disse ela, com seu jeito sussurrado. - Veja atráss de mim o que ele tem feito com os vencedoress!

Grunny espreitou com cuidado circulando a mulher, havia um corredor atrás dela. Tochas se acenderam quando ele passou.

- Rápido! - ela ordenou.

O outro cômodo era um salão amplo, também arredondado. Uma lareira acendeu no centro dele, quando Grunny adentrou-o. O fogo esverdeado crepitava revelando a coleção que havia no amplo salão.

Do lado direito, baús, tesouros, e objetos postos em destaque sobre pequenas colunas, quadros e mapas sobre a parede. No entanto, quando Grunny olhou para o lado esquerdo ficou estagnado com o que via.

- Não pode ser! - objetou.

Estatuetas de diversos guerreiros e outros humanoides estavam posicionadas ao chão. Grunny tentou tocá-los, pareciam pedras, mas eram coloridas e representavam, simetricamente, pessoas que estavam na competição.

- O que é isso? - perguntou à prisioneira.

- São réplicass... de nóss.

- Você as viu quando... - ao virar seu rosto, além da lareira central, um objeto era refletido pela luz do luar.

Acima de uma coluna de mármore havia uma ampulheta ornamentada com runas de metal e um pó dourado brilhante dentro dela. Os olhos de Grunny fixaram o objeto e ele se direcionou até ele.

- O trinustempus! - falou com as mãos acima do objeto.

A luz esverdeada que percorria os vincos pelo chão ficou mais intensa, o clarão quase cegou Grunny, porém o balançar do chão que o fez desequilibrar e quase cair. A torre parecia estar se movendo, primeiro balançou para um lado e depois para outro.

- O que esstá havendo? - gritou a guerreira encarcerada.

O chão, as paredes, o teto tudo chacoalhava.

Grunny agarrou o objeto em sua frente, tentando segurá-lo e também tentou se apoiar para não cair, o que pareceu em vão quando a torre se projetou para frente, mergulhando em grande velocidade para o chão.

- Vamos cairrrrr!!!! - gritou o mago.

As Aventuras de Flippo e o Trinustempus Where stories live. Discover now