Os olhos de Grunny foram se abrindo em leves piscadas. Sua cabeça foi recobrando a consciência.
Ele estava deitado, havia palha no chão de pedra, um cheiro de mofo, tochas clareavam o cômodo fechado e sem janelas. Grades em volta da cama onde dormia, denunciava que estava preso.
O mago levantou-se, olhou para os lados, havia diversas jaulas ao seu redor, iguais a que estava, todas vazias. Armas adornadas foram abandonadas em algumas delas.
Grunny levou as mãos até as grades que o prendia e as chacoalhou. Era ferro.
Ele cuspiu em suas mãos e voltou a pressionar as grades.
- Eiusdem est transmutare! - foi o encantamento que pronunciou.
Após terminar de pronunciar o feitiço as grades de ferro se transformaram em água, onde o mago as segurava, abrindo passagem para ele sair.
- Que estupidez. A coisa mais simples para um mago transmutador é transformar ferro em água. - falava consigo mesmo - É melhor eu me transformar também, antes que alguém me prenda de novo.
E com um aceno de sua varinha, ainda consigo, transformou sua túnica em uma túnica negra com uma rosa vermelha desenhada nela. Começou a andar pelas selas até achar uma escada.
A porta que findava os degraus estava aberta, uma grossa porta de madeira. Ao passar por ela, viu novamente o salão principal, a porta por onde saía para a arena. Vários outros súditos de Egoin andavam apressadamente para todas as direções. O barulho lá fora demonstrava que os combates ainda não haviam cessado, a platéia torcia e golpes eram destilados por armas.
O mago achou melhor procurar por mais vestígios sobre o que estava acontecendo e se espreitou por entre a parede para dentro da torre, circundando o salão.
Durante a passagem pelo salão principal encontrou dormitórios, cozinha, objetos de limpeza, salas de aula, biblioteca e laboratório. Parecia tudo normal, os locais onde os súditos moravam e estudavam, mas nada de particular ou pertencente ao mago Egoin. Ele então olhou para cima.
O teto do salão parecia não ter fim, era o prolongamento da torre negra. Lá devia ser os aposentos e onde guardava os segredo do grande mago. Mas, não havia escadas ou outra forma de acesso para cima.
"Só há um jeito" - pensou.
O mago se escondeu por entre os corredores escuros do salão, enquanto os outros súditos permaneciam em suas atividades e girou sua capa, se transformando novamente em coruja.
Ele sobrevoou pelo salão em direção ao cume da torre.
- Vejam, uma ave! - disse um dos súditos e disparou um dardo mágico na direção dela.
Por sorte, Grunny conseguiu desviar do disparo.
- Deixe-a, temos muito o que fazer ainda hoje.
- O Mestre não vai gostar.
- Temos que deixar o encantamento pronto pra quando terminar o torneio.
- Ele prendeu mais alguém?
- Há mais duas arenas competindo, venha.
Grunny conseguiu ouvir a conversar enquanto batia as asas, voando para o alto.
A abertura era muito extensa o mago precisou se apoiar duas vezes nas paredes para descansar. Era estranho como as pedras eram encaixadas, parecendo repetir um padrão de forma e encaixe. Uma luz esverdeada descia pelas paredes, como uma névoa, de tempo em tempo.
Com o bater das asas quase sem forças, Grunny avistou, no canto da torre, o início de uma escadaria. Ele pousou nela, se transformando em humano novamente. Precisou sentar e recuperar o fôlego.
Com a varinha em mãos, agora irradiando uma pequena luminosidade dela, seguiu pelos cômodos escuros.
O chão era negro e brilhoso, com vincos que refletiam ainda mais intensamente a coloração esverdeada. Grunny subiu a escada e entrou numa sala ovalada, pedras losangulares das mais variadas cores estavam presas nas paredes do cômodo, do chão ao teto, dispostas em simetria.
- Hey, você! - sibilou uma voz feminina, arranhada, quase felina.
Grunny apontou a varinha até a direção da voz e viu a guerreira presa no final da sala, com a cabeça e as mãos presas numa barra de ferro, ajoelhada ao chão.
- A guerreira. - disse o mago, lembrando da batalha que assistiu com Flippo quando chegaram na cidade.
- Você não está com aquele louco, esstá? Suas roupass não são iguais as deles. Você precisa me ajudar!
- O que houve? - os olhos da mulher estavam arregalados numa expressão de súplica e medo.
- Esse torneio é uma farssa! - disse ela, com seu jeito sussurrado. - Veja atráss de mim o que ele tem feito com os vencedoress!
Grunny espreitou com cuidado circulando a mulher, havia um corredor atrás dela. Tochas se acenderam quando ele passou.
- Rápido! - ela ordenou.
O outro cômodo era um salão amplo, também arredondado. Uma lareira acendeu no centro dele, quando Grunny adentrou-o. O fogo esverdeado crepitava revelando a coleção que havia no amplo salão.
Do lado direito, baús, tesouros, e objetos postos em destaque sobre pequenas colunas, quadros e mapas sobre a parede. No entanto, quando Grunny olhou para o lado esquerdo ficou estagnado com o que via.
- Não pode ser! - objetou.
Estatuetas de diversos guerreiros e outros humanoides estavam posicionadas ao chão. Grunny tentou tocá-los, pareciam pedras, mas eram coloridas e representavam, simetricamente, pessoas que estavam na competição.
- O que é isso? - perguntou à prisioneira.
- São réplicass... de nóss.
- Você as viu quando... - ao virar seu rosto, além da lareira central, um objeto era refletido pela luz do luar.
Acima de uma coluna de mármore havia uma ampulheta ornamentada com runas de metal e um pó dourado brilhante dentro dela. Os olhos de Grunny fixaram o objeto e ele se direcionou até ele.
- O trinustempus! - falou com as mãos acima do objeto.
A luz esverdeada que percorria os vincos pelo chão ficou mais intensa, o clarão quase cegou Grunny, porém o balançar do chão que o fez desequilibrar e quase cair. A torre parecia estar se movendo, primeiro balançou para um lado e depois para outro.
- O que esstá havendo? - gritou a guerreira encarcerada.
O chão, as paredes, o teto tudo chacoalhava.
Grunny agarrou o objeto em sua frente, tentando segurá-lo e também tentou se apoiar para não cair, o que pareceu em vão quando a torre se projetou para frente, mergulhando em grande velocidade para o chão.
- Vamos cairrrrr!!!! - gritou o mago.
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As Aventuras de Flippo e o Trinustempus
AdventureHá quase um ano do desmoronamento que soterrou sua mãe nas minas anãs de Bedaürinde, Flippo toma conhecimento de um torneio que tem como prêmio viajar no tempo. Instigado pela lembrança da mãe, o pequeno parte rumo à essa aventura. Na companhia do...