16. O equus de Kayla

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Os amigos continuaram a caminhada em silêncio, olhando para os lados e investigando qualquer barulho suspeito, com as armas nas mãos. Quase ao escurecer pararam em frente a uma cabana vazia, as vigas de madeira tinha buracos em algumas partes, o chão estava sujo e quase sem móveis.

- Será que aqueles bandidos não a usam? Por isso estavam passando por aqui, nessa área sem estrada? - indagou Flippo depois dos três terem, meticulosamente, investigado a área em torno dela.

- Pode ser. É um bom esconderijo.

- Só precisamos ter cuidado de não terem uma base maior, por perto. - complementou a garota. - Será seguro passar a noite aqui?

- Acho melhor buscarmos outro local. - sugeriu Flippo.

- Não. Acho que posso dar um jeito nisso.

- Como Grunny? Suas pedras vão ser o suficiente? - perguntou Kayla.

- Confiem em mim, já disse que posso transmutar a realidade dos objetos.

- E o que fará? - perguntou Flippo, coçando atrás da orelha.

- Vejam! CTQ'l!

Grunny arremessou uma pedra de cada lado da casa, deixando o fundo protegido pela colina. As pedras aumentaram de tamanho encobrindo toda a estrutura da cabana. Com a varinha em mãos, ele gesticulou para o chão e uma grande moita pareceu brotar por entre as pedras encobrindo toda a estrutura.

- Assim, ficamos invisíveis. - disse. - Afinal, faz tanto tempo que não dormimos numa casa, podemos ficar por essa noite, o que acham?

- Bem... dessa forma parece mais seguro, mas mesmo assim eu e Qhor ficaremos de vigia, vocês podem descansar.

O mago deu uma leve batida em uma das pedras e ela se moveu revelando a entrada para a cabana, que agora estava mais escura, encoberta pelas pedras. Como as pedras estavam sendo usadas, Kayla providenciou a caça para o jantar e ficou de espreita do lado de fora do esconderijo.

Assim que comeram os meninos apagaram o fogo da lareira.

- Como é quente aqui, Flippo!

- Muito, nunca pensei que ia passar uma noite dormindo sem a lareira acesa. Como será que Kayla está lá fora?

- Bem, ela é uma elfa, tem mais habilidades que possamos imaginar.

- Mesmo assim me preocupo com ela.

- Você sabe por quê ela quis vir com a gente?

- Não imagino... - respondeu Flippo com o rosto corado.

- Você está ouvindo isso?

- O quê?

- Shiiii!

Grunny pregou o ouvido na pedra que protegia a cabana.

- O que eles fizeram? Onde está a cabana? - ouviram as palavras sussurarem do lado de fora.

- Só pode ter sido aquele mago engomadinho!

- Mas eu quero aquele arqueiro, custe o que custar!

Um cavalo relinchou mais adiante, chamando a atenção de todos.

- É a garota! Vamos!

- Kayla! - falou Flippo ao amigo.

- Calma Flippo, precisamos nos planejar... pegue suas armas.

O cavalo com a elfa chamou a atenção dos homens, que tentavam alcançá-la, também com cavalos.

A pedra quadrada que cobria a frente da cabana caiu ao chão, revelando sua entrada. Dois homens se moviam por entre a vegetação, encobertos e armados com arcos. Foram caminhando para mais perto da cabana, a música começou suave e logo foi ganhando acordes rápidos e intensos. O primeiro homem caiu por terra, quando o segundo desviou seu olhar ao companheiro, seus olhos não mais abriram e ele adormeceu profundamente.

Uma coruja branca com as asas roxas saiu voando de dentro da cabana, voou raso nas proximidades até subir para o céu. Ela piou, Flippo deixou a cabana com o arco em mãos e olhou para o alto. A coruja desceu ao seu lado e chegando ao chão transformou-se em Grunny.

- Há dois cavalos atrás dela! Ela está despistando-os, mas não vamos alcançá-los a pé.

- O que vamos fazer? Não podemos deixá-la sozinha.

- Confie.

Kayla corria com seu cavalo pela floresta desviando das árvores e tentando sair da mira dos dois homens atrás dela. Um homem disparou uma seta, com a besta que estava em suas mãos.

O alvo a frente havia sumido, sem deixar vestígios. Os dois homens pararam e começaram a procurar pela floresta com tochas nas mãos. Um deles avistou o movimento do cavalo pela direita e foi para lá, o outro guardando a arma que disparou há pouco, avistou a elfa com o cavalo pela esquerda e se desviou de seu companheiro.

O homem troncudo de outrora, estava mais enfurecido por ter perdido a pista do alvo, ouvindo os passos de seu companheiro se distanciando, voltou à sua direção. No momento, em que virou o cavalo, Kayla e Qhor saltaram por cima deles, os derrubando ao chão.

A elfa e seu cavalo pareceram ficar invisíveis na sombra da árvore próxima, após atropelarem o homem. Ela mirou o outro cavaleiro e desapareceu por entre as sombras.

Ele tinha parado, olhava com medo, agora que não via nem o homem que o acompanhava.

Kayla apareceu em sua direção ao longe e sumiu. Ele olhou ao lado e ela estava lá, galopando, até que desapareceu novamente.

- Que diabos! - disse o homem.

Qhor relinchou atrás dele e saltou aparecendo de uma sombra às suas costas, ele trombou com o homem, o derrubando de sua montaria.

O homem sacudia a cabeça tentando entender o que aconteceu, mas não via nem ouvia nada. O cavalo cinza apareceu ao seu lado e a elfa agarrou em suas pernas o puxando consigo, enquanto o arrastava pelo chão. Ela o levou até que chegasse perto do outro homem.

Tirando a capa que cobria seu rosto, ela os mirou.

- Não apareçam mais, enquanto eu estiver aqui! - a pele aluarada brilhava com a noite.

- Uma elfa...

Grunny e Flippo estavam se circundando tentando ver Kayla ou qualquer vestígio dela.

- Não ouço mais nada Grunny! Vamos atrás dela!

- Estou começando a ficar preocupado. C! - Grunny apontou para a pedra redonda que emergiu do chão e passou a flutuar a sua frente, girando como um disco.

Kayla e Qhor surgiram atrás deles saltando das sombras da colina, que estava atrás da cabana.

- Kayla...

- Eu disse que não precisávamos nos preocupar!

- Você... está... bem? - perguntou Flippo, com passos curtos indo ao encontro da garota.

A elfa manobrava Qhor e saltou de um instante, fazendo sua capa lampejar no vento.

- Tudo bem. Acredito que eles não vão mais nos importunar.

- Mas... como você chegou por aqui... se você estava lá... - falava Flippo tentando arranjar algum argumento.

- Qhor é um equus, um cavalo místico que me acompanha e protege. - elfa e cavalo encostaram a cabeça um no outro - Sua linhagem tem cores e poderes diferentes. Qhor consegue se transportar pelas sombras, por isso tem essa pelagem escura. Os bandoleiros vão ter pesadelos com isso após a noite de hoje, é o que posso garantir.

Era a primeira vez que a elfa ria sozinha e se sentia bem por compartilhar seus talentos com seus novos amigos.

As Aventuras de Flippo e o Trinustempus Where stories live. Discover now