Os amigos continuaram a caminhada em silêncio, olhando para os lados e investigando qualquer barulho suspeito, com as armas nas mãos. Quase ao escurecer pararam em frente a uma cabana vazia, as vigas de madeira tinha buracos em algumas partes, o chão estava sujo e quase sem móveis.
- Será que aqueles bandidos não a usam? Por isso estavam passando por aqui, nessa área sem estrada? - indagou Flippo depois dos três terem, meticulosamente, investigado a área em torno dela.
- Pode ser. É um bom esconderijo.
- Só precisamos ter cuidado de não terem uma base maior, por perto. - complementou a garota. - Será seguro passar a noite aqui?
- Acho melhor buscarmos outro local. - sugeriu Flippo.
- Não. Acho que posso dar um jeito nisso.
- Como Grunny? Suas pedras vão ser o suficiente? - perguntou Kayla.
- Confiem em mim, já disse que posso transmutar a realidade dos objetos.
- E o que fará? - perguntou Flippo, coçando atrás da orelha.
- Vejam! CTQ'l!
Grunny arremessou uma pedra de cada lado da casa, deixando o fundo protegido pela colina. As pedras aumentaram de tamanho encobrindo toda a estrutura da cabana. Com a varinha em mãos, ele gesticulou para o chão e uma grande moita pareceu brotar por entre as pedras encobrindo toda a estrutura.
- Assim, ficamos invisíveis. - disse. - Afinal, faz tanto tempo que não dormimos numa casa, podemos ficar por essa noite, o que acham?
- Bem... dessa forma parece mais seguro, mas mesmo assim eu e Qhor ficaremos de vigia, vocês podem descansar.
O mago deu uma leve batida em uma das pedras e ela se moveu revelando a entrada para a cabana, que agora estava mais escura, encoberta pelas pedras. Como as pedras estavam sendo usadas, Kayla providenciou a caça para o jantar e ficou de espreita do lado de fora do esconderijo.
Assim que comeram os meninos apagaram o fogo da lareira.
- Como é quente aqui, Flippo!
- Muito, nunca pensei que ia passar uma noite dormindo sem a lareira acesa. Como será que Kayla está lá fora?
- Bem, ela é uma elfa, tem mais habilidades que possamos imaginar.
- Mesmo assim me preocupo com ela.
- Você sabe por quê ela quis vir com a gente?
- Não imagino... - respondeu Flippo com o rosto corado.
- Você está ouvindo isso?
- O quê?
- Shiiii!
Grunny pregou o ouvido na pedra que protegia a cabana.
- O que eles fizeram? Onde está a cabana? - ouviram as palavras sussurarem do lado de fora.
- Só pode ter sido aquele mago engomadinho!
- Mas eu quero aquele arqueiro, custe o que custar!
Um cavalo relinchou mais adiante, chamando a atenção de todos.
- É a garota! Vamos!
- Kayla! - falou Flippo ao amigo.
- Calma Flippo, precisamos nos planejar... pegue suas armas.
O cavalo com a elfa chamou a atenção dos homens, que tentavam alcançá-la, também com cavalos.
A pedra quadrada que cobria a frente da cabana caiu ao chão, revelando sua entrada. Dois homens se moviam por entre a vegetação, encobertos e armados com arcos. Foram caminhando para mais perto da cabana, a música começou suave e logo foi ganhando acordes rápidos e intensos. O primeiro homem caiu por terra, quando o segundo desviou seu olhar ao companheiro, seus olhos não mais abriram e ele adormeceu profundamente.
Uma coruja branca com as asas roxas saiu voando de dentro da cabana, voou raso nas proximidades até subir para o céu. Ela piou, Flippo deixou a cabana com o arco em mãos e olhou para o alto. A coruja desceu ao seu lado e chegando ao chão transformou-se em Grunny.
- Há dois cavalos atrás dela! Ela está despistando-os, mas não vamos alcançá-los a pé.
- O que vamos fazer? Não podemos deixá-la sozinha.
- Confie.
Kayla corria com seu cavalo pela floresta desviando das árvores e tentando sair da mira dos dois homens atrás dela. Um homem disparou uma seta, com a besta que estava em suas mãos.
O alvo a frente havia sumido, sem deixar vestígios. Os dois homens pararam e começaram a procurar pela floresta com tochas nas mãos. Um deles avistou o movimento do cavalo pela direita e foi para lá, o outro guardando a arma que disparou há pouco, avistou a elfa com o cavalo pela esquerda e se desviou de seu companheiro.
O homem troncudo de outrora, estava mais enfurecido por ter perdido a pista do alvo, ouvindo os passos de seu companheiro se distanciando, voltou à sua direção. No momento, em que virou o cavalo, Kayla e Qhor saltaram por cima deles, os derrubando ao chão.
A elfa e seu cavalo pareceram ficar invisíveis na sombra da árvore próxima, após atropelarem o homem. Ela mirou o outro cavaleiro e desapareceu por entre as sombras.
Ele tinha parado, olhava com medo, agora que não via nem o homem que o acompanhava.
Kayla apareceu em sua direção ao longe e sumiu. Ele olhou ao lado e ela estava lá, galopando, até que desapareceu novamente.
- Que diabos! - disse o homem.
Qhor relinchou atrás dele e saltou aparecendo de uma sombra às suas costas, ele trombou com o homem, o derrubando de sua montaria.
O homem sacudia a cabeça tentando entender o que aconteceu, mas não via nem ouvia nada. O cavalo cinza apareceu ao seu lado e a elfa agarrou em suas pernas o puxando consigo, enquanto o arrastava pelo chão. Ela o levou até que chegasse perto do outro homem.
Tirando a capa que cobria seu rosto, ela os mirou.
- Não apareçam mais, enquanto eu estiver aqui! - a pele aluarada brilhava com a noite.
- Uma elfa...
Grunny e Flippo estavam se circundando tentando ver Kayla ou qualquer vestígio dela.
- Não ouço mais nada Grunny! Vamos atrás dela!
- Estou começando a ficar preocupado. C! - Grunny apontou para a pedra redonda que emergiu do chão e passou a flutuar a sua frente, girando como um disco.
Kayla e Qhor surgiram atrás deles saltando das sombras da colina, que estava atrás da cabana.
- Kayla...
- Eu disse que não precisávamos nos preocupar!
- Você... está... bem? - perguntou Flippo, com passos curtos indo ao encontro da garota.
A elfa manobrava Qhor e saltou de um instante, fazendo sua capa lampejar no vento.
- Tudo bem. Acredito que eles não vão mais nos importunar.
- Mas... como você chegou por aqui... se você estava lá... - falava Flippo tentando arranjar algum argumento.
- Qhor é um equus, um cavalo místico que me acompanha e protege. - elfa e cavalo encostaram a cabeça um no outro - Sua linhagem tem cores e poderes diferentes. Qhor consegue se transportar pelas sombras, por isso tem essa pelagem escura. Os bandoleiros vão ter pesadelos com isso após a noite de hoje, é o que posso garantir.
Era a primeira vez que a elfa ria sozinha e se sentia bem por compartilhar seus talentos com seus novos amigos.
YOU ARE READING
As Aventuras de Flippo e o Trinustempus
AdventureHá quase um ano do desmoronamento que soterrou sua mãe nas minas anãs de Bedaürinde, Flippo toma conhecimento de um torneio que tem como prêmio viajar no tempo. Instigado pela lembrança da mãe, o pequeno parte rumo à essa aventura. Na companhia do...