11. Enterro ao mar

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Depois da refeição do dia, Flippo e Grunny foram para a proa do navio admirar a paisagem em que estavam, o vento soprava as grandes velas fazendo o barco se mover rapidamente pelas ondas do mar. A água era esverdeada naquela região e não se via nada além dela.

O céu era claro, com algumas nuvens e o sol brilhava, Flippo teve que tirar seu casaco estranhando o clima mais ameno da região que morava.

- Será que ele vai ficar bem? - perguntou para o companheiro.

- Não sei Flippo, talvez precisasse de mais cuidados, mas não temos muita coisa aqui no navio para ajudá-lo.

- E, por que ele veio para cá então? Sozinho?

- Não sei, você não disse que conversou com ele.

- Ele quase não conseguia falar... apenas tossia, não quis ficar perguntando.

- Tenha calma Flippo, o remédio ajudou ele a descansar, foi o que pude fazer.

- Sim, obrigado, vou ver como ele está.

Flippo desceu até os convés, a mulher ajudava o velho a se alimentar encostado num barril.

- O senhor está melhor? - perguntou Flippo se aproximando dos dois.

- Nada como uma boa noite de sono. - respondeu piscando para o garoto. - Já está bom querida, não quero mais. - falou para a mulher que o alimentava. - Gostaria de sair para ver o mar, você me ajuda garoto?

- Sim, claro.

Tanto Flippo como o marido da mulher que o alimentava ajudaram o homem a se levantar e o acompanharam até a proa do navio, sentando-o num banco.

- Ah, que agradável brisa marítima. - disse respirando profundamente e logo voltando a tossir.

- Não é melhor voltarmos? - perguntou a mulher, embrulhando ainda mais o bebê que tinha no colo.

- Ora, me deixem aqui! Quero aproveitar essa vista... e as lembranças... que ela me traz. - respondeu enquanto sua tosse parecia aumentar.

- Esse vento não fará bem para o senhor, não nesse estado. - disse o mago se aproximando.

O velho permanecia apenas olhando para o horizonte, apenas contemplando e lutando contra o seu corpo que tremia por completo.

- Sabe meninos... um anão tem que saber a hora que tem seguir e que tem que parar... já vivi mais de quatrocentos anos, agora quero voltar para junto daqueles que amei... não na terra, mas no mar.

- Por isso o senhor está aqui? - perguntou Flippo com os olhos arregalados.

O homem apenas consentiu com a cabeça.

- Cante... cante aquela linda canção menino, quero voltar a reviver os momentos de mocidade.

Todos olharam para Flippo, esperando sua reação. Ele hesitou por um momento, mas pegou sua flauta e entoou a alegre música anã que tocava nos festivais na taverna.

O homem fechou seus olhos e deixou com que lágrimas começassem a escorrer, logo um súbito ataque de tosse o obrigou a voltar para dentro do convés. Ele foi deixado em sua cama, coberto.

- Ele não vai resistir muito. - comentou Grunny bem próximo aos ouvidos do amigo.

Com a flauta nas mãos, Flippo posicionou-a em seu peito e começou a reproduzir a canção para dormir, de olhos fechados como costumava fazer.

A tosse foi diminuindo, o barulho ficando mais silencioso, até que não mais se ouviu nada. Grunny estava ao seu lado quando a música parou, todos os outros estavam deitados, dormindo em seus leitos.

As Aventuras de Flippo e o Trinustempus Onde as histórias ganham vida. Descobre agora