Festa De Natal

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No final dos anos 70, Jerry Jampolsky— o psiquiatra especializa-
do em crianças que fundou o Centro de Tratamento pela Atitude —
me convidou para a primeira festa de Natal da instituição.
Fiquei chocado com o que vi. Diante de mim estavam crianças
em cadeiras de rodas e muletas, crianças com distrofia muscular
e doença de Hodgkin, crianças com pernas amputadas ou parali-
sadas, crianças sem cabelo por causa da quimioterapia.
Ao mesmo tempo que olhava para aquela sala de horrores, senti
que havia algo diferente no ar. A sala estava cheia de suas gargalhadas
e risadas, as crianças estavam felizes, conversando umas com as ou-
tras. E era exatamente isso — sua atitude — que saía do padrão.
Logo me vi num grupo, conversando com uma adolescente
chamada Lisa, cujo sonho era ser modelo. Lisa se apoiava em
muletas de alumínio e metade de seu corpo, inclusive o rosto,
estava paralisado por causa de um acidente de automóvel. En-
quanto conversávamos, Lisa, de repente, perdeu o equilíbrio e
caiu de costas. Quando conseguimos levantá-la, havia lágrimas
de dor em seus olhos. Lisa deu um sorriso encabulado e disse:
— Pelo menos eu estou conseguindo ficar com o bumbum
bem durinho...
"Ficar com o bumbum bem durinho" não é exatamente o que
se espera ouvir numa situação dessas, mas qual reação seria mais adequada? Para mim, foi especialmente instrutivo observar que
suas mentes sadias eram mais reais e mais importantes para elas
do que o peso de seus corpos.
Copiar a abordagem infantil da felicidade não é se comportar
como uma delas, mas sim ver o mundo como elas vêem. É aban-
donar as percepções estreitas e as respostas prontas. É admitir
sem restrições que as pessoas à nossa volta são o que são e que
estamos ali com elas para o que der e vier.
Transformar-se numa "criança" é abrir mão da responsabilidade
de julgar e de estar certo em todos os momentos. Isso elimina os
bloqueios e permite a ampliação de nossa capacidade de apreciar
qualquer coisa ou, pelo menos, de estarmos serenos e em paz.

Existem três coisas que você precisa abrir mão: julgar,
controlar e ser o dono da verdade. Livre-se das três, e
você terá a mente íntegra e vibrante de uma criança.

A principal característica das crianças pequenas é sua obje-
tividade: elas mostram o que sentem e sabem o que querem.
Claramente, elas estão ligadas à sua essência, seu instinto. Mas
as crianças não são perfeitas ou invulneráveis. Na verdade, elas
captam as lições positivas e as negativas que lhes são ensinadas
e parecem escolher, principalmente, os medos inconscientes e as
ansiedades dos adultos que estiverem a seu redor.
Mesmo que você, quando criança, não gostasse de determina-
da opção de vida escolhida por seus pais e tenha até decidido
que não cometeria esse erro quando crescesse, certamente se fla-
grou, já adulto, dizendo as mesmas palavras ou agindo da manei-
ra que queria evitar. Isto mostra como somos vulneráveis quan-
do crianças.
Existem crianças que aprendem a ter suas próprias opiniões e
até a sentir ódio, numa idade surpreendentemente precoce. Se
você já viu isto acontecer, sabe que elas já perderam contato com
sua felicidade e autoconfiança natural. Elas aprenderam a duvi-
dar dos outros e aplicam essa lição em si mesmas. Se elas não são
confiáveis, ninguém mais o é.
Só quando crescemos nos tornamos conscientes do que sig-
nifica incorporar comportamentos e depois abrir mão deles. É a
única maneira de assumirmos a responsabilidade pela paz e pelo
bem-estar de nossas mentes.

Não Leve a Vida Tão a sérioWhere stories live. Discover now