Capítulo 22 - Bônus

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Betado por @smjkbien.
Muito obrigada.

O homem estava sentando no canto da sala, encarando as macas a sua frente sem realmente ver nada, estava na mesma posição a horas e a loira já não aguentava mais assistir calada. Pediu aos elfos que trouxessem algo para comerem e então se aproximou, tocando seu ombro com gentileza, mesmo assim o homem saltou alarmada em sua poltrona.
- Quando foi a última vez que você comeu? Ou dormiu? Ou fez qualquer coisa além de ficar sentado aí perdido em pensamentos que não vão te levar a lugar nenhum?! - Perguntou ela, apenas um pouco do tom de acusação estava presente em sua voz.
- Não tenho fome. - Disse o homem esboçando um sorriso fraco que não chegou aos seus olhos.
- Bom, eu estou, e é muito indelicado deixar uma dama comer sozinha, então me acompanhe. - A loira lhe lançou um olhar determinado e maternal que não permitiria qualquer contestação, o homem bufou e a seguiu até a sala ao lado, onde poderiam comer com algum conforto - Você parece terrível.
- Você sabe que essa época do mês é mais difícil para mim. - Justificou o homem, mas ela não permitiria isso.
- Tenho visto você passar por essa fase por meses agora, e nunca esteve tão ruim quanto neste momento. Tem muito mais do que a fase da lua te fazendo mal. - Narcisa olhou para o próprio prato, sabendo que ela mesma não tinha vontade de comer nos últimos dias - Se nós definharmos que bem vai fazer a eles?
- Não é como se estivéssemos fazendo qualquer bem, é?! - O sorriso do lobisomem estava repleto de auto recriminação, a loira estendeu a mão e tocou seu ombro tentando lhe passar algum conforto.
No início ela mal podia ficar na mesma sala que o homem sem sentir-se desconfortável, agora se via naturalmente confortando-o quando precisavam. Desde a chegada das crianças tinham passado tanto tempo juntos e ela o conhecia tão bem que não podia entender o que havia de errado antes. Você estava errada. Seu preconceito te cegava. Admitir isso agora não era tão difícil quando foi no início, quando o homem foi gentil com ela pela primeira vez, quando estavam exaustos depois de várias noites insones falhando em cuidar daqueles que eram sua responsabilidade.
- Você sabe que não está sendo justo conosco. Nós fazemos o que podemos.
- Mas não é o suficiente. - Um rosnado cresceu no peito do homem e Narcisa se encolheu automaticamente, mas não se afastou - Perdemos mais um a poucas horas... nem sabemos o nome dele. Quem foram seus pais?! É outra criança que não teve qualquer chance de viver... nós deveríamos cuidar delas.
- Estamos fazendo o nosso melhor! - Objetou a loira.
- Não estou dizendo agora Cissa. Estou dizendo antes... como pudemos deixar algo assim acontecer?! Como ninguém viu isso? - O homem estava finalmente quebrando, ele estava cansado física e emocionalmente, suas energias esgotadas, ela podia ver isso, pois na maior parte do tempo se sentia da mesma forma, mas ela ia para casa no fim da noite, se enrolava nos braços de Lucius e deixava-o acariciar seus cabelos e ouvi-la chorar até que finalmente adormecesse, Remus não tinha nada disso.
Sem dizer uma palavra ela se levantou e seguiu até a lareira, Remus não se moveu, sequer pareceu nota-la, mergulhado outra vez na culpa que não era dele. Ela pegou um punhado de pó de Flu e lançou nas chamas e então ser abaixou, um pouco de fuligem se levantou e tocou a barra de seu vestido.
- Severus Snape. - Ela chamou, não demorou muito até que o pocionista surgiu.
- O que há?! Você sabe bem que não deve entrar em contato comigo. - Disse o homem, sua face fechada e carrancuda como sempre.
- E eu não faria se não fosse importante. - Defendeu-se ela, dando uma rápida olhada para trás, Remus ainda parecia completamente absorto em seus próprios pensamentos - Ele precisa de você Severus. Sei que ele finge que está bem, mas não come ou dorme a dias. Você precisa vê-lo.
- Você sabe que eu não posso. - Murmurou o homem, e a dor e saudade em sua voz era palpável.
- Não é questão de poder ou não. Você precisa. Ele precisa de você. - Ela suspirou cansada - Sabe que eu não me envolveria se não fosse importante.
- Ok. Chegarei em alguns minutos. Obrigada, Narcisa.
- Se apresse. - Disse ela e então a conexão terminou, a loira se levantou do chão com toda a graça e voltou para a mesa, parando ao lado do lobisomem - Talvez fosse melhor você tomar um banho, refrescar sua mente. Não vai querer encontrar com Severus cheirando a poções. Se bem que estamos falando de Severus, então talvez ele goste.
- Severus...? - Os olhos do homem dobraram de tamanho e mesmo com os círculos profundos evidenciando as noites insones ele parecia jovial - Ele não deveria...
- Sim, ele deveria. - Disse ela sorrindo e empurrando-o pelo ombro outra vez - Tome um banho e não se preocupe com mais nada.
- Cissa...eu não sei como... - Começou ele, mas ela não permitiu, erguendo uma mão para detê-lo.
- Você não precisa. Apenas se apresse, ele disse que chegaria em alguns minutos.
A mulher não precisou falar outra vez, mais rápido do que qualquer um poderia chegar sem aparatar Remus estava em seu banheiro, deixando a agua quente aliviar a tensão de seus músculos. Apenas a perspectiva de ter Severus por perto o fazia sentir melhor. Ele estava tirando o sabão de seu cabelo quando o cheiro conhecido de ervas atingiu seu nariz, ele sorriu ao mesmo tempo em que uma mão fria envolveu sua cintura com força, puxando seu corpo contra o outro maior, ainda vestido.
- Você está se molhando. - Disse o lobisomem, sua voz macia e quente, ele sentiu o pocionista sorrir em seu pescoço.
- Não importa. - Os beijos afetuosos seguiram o caminho de seus ombros enquanto a mão do homem esfregava círculos em sua barriga, fazendo os pelos do seu corpo se arrepiarem - Senti sua falta.
- Eu também. - Remus se virou, e os lábios de Snape encontraram os seus a meio caminho, o lobisomem enrolou seus braços sobre os ombros do maior e se entregou ao movimento confortável dos lábios alheios, sentindo a língua mapear o caminho tão conhecido.
Beijaram-se por horas e em algum momento as roupas do outro se perderam entre as caricias saudosas. Nenhum deles falou, não precisavam falar, se conheciam tão bem que os menores sons eram comunicação o suficiente.
- Você não vai ter problemas por estar aqui? - Perguntou Remus, deitado de barriga para baixo na cama, ainda nu, enquanto Snape acariciava e beijava suas costas com devoção.
- Não. Black vai me acobertar. - Havia uma mistura de diversão e raiva em sua voz ao dizer isso e Remus não pode deixar de rir.
- Bom saber que vocês estão finalmente se dando melhor. - Snape rosnou e mordeu o ombro de Remus como reprimenda.
- Não existe tal coisa como eu e ele nos dando bem. Mas ele estava na sala quando Narcisa falou comigo, e não importa quanto tempo passe, aquele cachorro vai fazer de tudo pelo seu bem estar. Ao menos isso eu tenho que dar a ele.
- Sirius não é mal... ele só...
- É infantil, inconsequente e completamente apaixonado por você. - Completou Snape, fazendo careta mesmo sabendo que Remus não poderia vê-lo de onde estava.
- Vocês são muito parecidos, na verdade. - O pocionista o encarou irritado e Remus sorriu antes de se levantar e jogar seu corpo sobre o do outro homem - Me olhar desse jeito não vai mudar esse fato.
- Chega. Eu me recuso a falar sobre aquele cão quando estávamos na cama. - Sentenciou Snape, capturando os lábios do amante com força para marcar um ponto.
- Muito bem então...
Amaram-se durante toda noite, esquecendo-se de todo o resto, exatamente o que estavam precisando. Pela manhã, com Snape ainda adormecido, Remus se permitiu admira-lo, fantasiando com o dia em que não precisariam mais estar separados, em que finalmente poderiam viver a vida que mereciam.

Harry Potter e o Mentor das TrevasWhere stories live. Discover now