Capítulo 18 - Bônus³

1.6K 257 5
                                    

A escuridão da noite começava a cair sobre o castelo e o som dos alunos ia se tornando cada vez mais distante conforme todos começavam a se recolher, Harry ao contrário dos outros continuou sentando em um tronco úmido na orla da floresta, escondido do olhar curioso de todos ele observava Gael perseguir pequenos animais a sua frente, a mente completamente perdida em qualquer outro lugar.
- Harry?! O que faz aqui? – Chamou uma voz doce a alguns passos de distância, o moreno olhou naquela direção e encontrou Justine, a menina não usava mais os óculos escuros, desde que começou a sair com Harry e os amigos tinha se tornado menos envergonhada e aos poucos estava parando de esconder os belos traços que a marcavam como uma mestiça das Trevas, o Grifinório sorriu verdadeiramente para ela.
- Estou me escondendo um pouco... – Disse o rapaz com sinceridade – Desde a última prova não consigo andar pelo castelo sem alguém tentar conversar comigo.
- Ah... – Murmurou ela parecendo envergonhada, uma aura de energia se espalhou sobre sua pele e Harry imaginou que aquele fosse uma de suas formas de corar – Me desculpe então... Você deve estar querendo um tempo sozinho.
- Está tudo bem. Eu gosto da sua companhia. Por que não se senta aqui comigo?! – Chamou ele, dando espaço a ela para se sentar no tronco ao seu lado, ela hesitou por alguns segundos e então caminhou até ele – E você? O que está fazendo aqui fora?
- Estava voltando para o Castelo com a Fleur, mas Madame Maxime a chamou... estava só andando por aí enquanto espero por ela.
- Sei... – Disse ele de forma ausente – Eu nem tive a oportunidade de conversar com você sobre a segunda tarefa... Fico feliz que tudo tenha corrido bem.
- Eu também. Mas achei essa prova muito injusta para a Fleur.
- Por que diz isso? – Perguntou Harry.
- Ela poderia ter se saído melhor se tivesse que buscar outra pessoa... Ela não pode me tocar... Quero dizer, normalmente, ela pode, porque eu a amo e ela é minha família, mas dentro d’agua é diferente... ela quase desmaiou lá embaixo. – Justine estava irritada e sua pele estalava de estática enquanto ela falava – Acho que eu não tinha me dado conta do quanto o torneio é perigoso antes dessa prova... Claro, vocês enfrentaram Dragões no começo, mas eu já tinha visto Fleur montar um cavalo D’agua em casa, não achei que seria muito mais perigoso... eu só... Me desculpe, Harry, estou tagarelando.
- Está tudo bem. – Respondeu o rapaz com sinceridade – Você se preocupa com ela, é normal que esteja irritada.
- Meu pai ficou furioso... Ele queria vir até o ministério e prestar queixa, a  Fleur já é maior de idade, mas eu não sou, ele ficou indignado com o fato de terem permitido que alguém arriscasse minha vida apenas por um torneio idiota. – Bufou a menina e ela parecia tão doce e infantil que Harry quis rir – Sua família deve ter ficado muito irritada também, não é?! O Ronny disse que você não se inscreveu, que te forçaram a competir...Eles devem ter ficado tão furiosos quanto meu pai.
- Para falar a verdade eu nem acho que eles sabem... – Divagou Harry, foi a primeira vez que ele parou para pensar no fato de que alguém deveria ter avisado aos Durleys sobre os perigos que ele estaria correndo naquele ano, talvez alguém tivesse, eles provavelmente não se importavam – Eles são trouxas, não acho que entenderiam do que as provas se tratam...
- Eles não tiveram de assinar um documento de permissão?! – Perguntou a menina, verdadeiramente confusa – Eu quero dizer... você é menor, não é como se você pudesse participar de qualquer coisa sem a permissão deles.
- Nunca tinha pensado nisso. – Admitiu o moreno – Mas é verdade, não é?! Eu não poderia participar sem a permissão deles... Não importa o que o Cálice diz, eu não poderia estar participando... – A raiva cresceu no rapaz mais uma vez, alguém deveria ter dito que ele não poderia, alguém deveria cuidar dele, era um pensamento amargo, pois tanto quanto ele desejava que houvesse alguém, ele sabia que não havia – Bom, acho que não importa... só falta mesmo mais uma prova, o que poderia acontecer de pior?!
- Eu não sei dizer se você está sendo otimista ou pessimista! – Riu a menina – Mas você deveria falar com seus responsáveis, eles deveriam no mínimo saber o que está acontecendo. Bom... Acho melhor eu ir, Madame Maxime já deve ter terminado... Até mais Harry.
A menina acenou uma despedida antes de se afastar correndo em direção a grande carruagem de Beauxbatons, Harry soltou um longo suspiro e se deitou no tronco fechando os olhos. Ele não via qualquer ponto em se comunicar com os Durleys, não é como se eles esperassem por quaisquer notícias dele antes do fim do ano letivo. Por um segundo ele se permitiu imaginar como seria se ele dissesse a eles o que estava acontecendo em sua vida, o que realmente estava acontecendo, contar sobre Tom e sobre Dumbledore, contar sobre Draco, perguntar a tia Petúnia o que tio Vernon fazia para se redimir quando a deixava irritada, Harry sorriu com esse pensamento, ele nunca poderia ter esse tipo de conversa com eles, a verdade é que ele não poderia ter esse tipo de conversa com ninguém.
- Eu sou mais do que um órfão, sou alguém completamente sozinho.
- Mestre, o que está acontecendo? – Sibilou Gael, surgindo a partir de algumas arvores, seu focinho sujo do sangue de algum animal que ela provavelmente acabará de comer – Você está cheirando a tristeza.
Harry pensou sobre isso. Ele estava triste, ele não se lembrava disso, era algo tão comum que ele até mesmo esquecia de nomear aquele sentimento na maior parte do tempo, o rapaz inclinou a cabeça sobre o tronco olhando diretamente nos olhos de sua serpente.
- Estou me sentindo sozinho. – Sibilou o rapaz.
- Por que? – Perguntou ela, enroscando-se sobre ele, muito mais pesada do que costumava ser – Estou aqui com você.
- Sei que está. – Respondeu ele, acariciando o topo da cabeça de sua familiar – Eu estava só pensando nos meus pais... Em como eu queria que eles estivessem aqui, que eu queria poder mandar cartas para eles, compartilhar minhas dúvidas, meus medos... coisas estupidas assim...
- Você pode falar com o Tom.
- Tom?! – Harry riu amargamente para si mesmo, ele gostaria de falar com Tom, mas ele não tinha qualquer desculpa para chama-lo naquela noite – Ele tem coisas mais importantes para fazer do que ouvir as reclamações de ‘uma criança mimada’ ... Não tem tempo para perder comigo.
- Eu não acho que ele consideraria que está perdendo tempo. – Disse ela, e Harry imaginou que ela estaria girando os olhos – Ele se preocupa com você.
- Sei que se preocupa. Ele já deixou claro que sou um aliado valioso... Mas isso é diferente... Bom, não importa. – Harry se levantou e estendeu o braço para a serpente – Já está tarde, temos que voltar.
Ambos voltaram para dentro do castelo e seguiram em direção ao grande salão, Harry sorriu para seus amigos como se tudo estivesse bem, mas ainda estava se sentindo sozinho, e quando olhou para a mesa da Sonserina buscando os olhos de Draco e não os encontrou, o sentimento pesado em seu peito se tornou ainda pior. Draco estava se cansando dele, e ele não poderia culpa-lo, Harry sabia o quanto o loiro gostava dele, mas também sabia que não poderia atender as suas expectativas, ele tinha uma missão a cumprir, Draco teria que esperar.

Harry Potter e o Mentor das TrevasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora