Capítulo 9 - Bônus

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Betado por @smjkbien. Muito obrigada.

Tom estava sentado na biblioteca, Nagine espalhada em seu colo enquanto ele deslizava as mãos por suas escamas negras como piche, a serpente emitia pulsos suaves e involuntários de magia, demonstrando seu contentamento. Era um dia calmo para variar, o que era tanto bom quanto ruim, pois ao mesmo tempo em que os planos do homem estavam em andamento, Tom também se encontrava terrivelmente entediado.
Um som distante de alguém aparatando junto com a percepção de uma energia mágica que o homem imaginou nunca sentir novamente, o tirou do estupor, ele se levantou rapidamente deixando Nagine deslizar confusa para o chão e enroscar-se irritada sob a cadeira que ele se sentava um segundo antes. Tom desceu às escadas mais rápido que o habitual e pisou no térreo exatamente no mesmo segundo em que alguém bateu na porta, o moreno sorriu, agora não havia dúvida em sua mente de que era ele, ninguém mais poderia passar por suas barreiras como se elas nem existissem sem sua permissão. Essa é sem dúvida uma boa distração. Pensou ele.
Ele abriu a porta encontrando um sorriso que espelhava o seu no rosto marcado pela idade do outro homem, o moreno se afastou da entrada, dando passagem ao outro que caminhou para dentro perfeitamente confortável, se sentando no sofá diante da lareira. Tom fechou a porta atrás de si e caminhou para junto de seu visitante, convocando um par de taças e uma garrafa de Hidromel da cozinha.
Ele serviu a ambos antes de finalmente sentar-se na poltrona a frente do outro que tomou um gole longo e delicado do líquido dourado.
- Maravilhoso, como de costume... – Tom levou o próprio recipiente aos lábios, contentando-se em sorrir para o outro – Devo dizer que você parece muito melhor do que da última vez que nos encontramos.
- E você encontra-se muito melhor do que eu esperava... – Disse o moreno colocando sua taça vazia sobre a mesa de centro e inclinando-se para frente, ambos os cotovelos sobre os joelhos, encarando o outro com diversão e curiosidade – Principalmente porque esperava que estivesse morto depois de todo esse tempo.
- Você nunca foi bom em adoçar a verdade. – Riu o homem.
- Eu sou muito bom nisso, apenas nunca vi propósito em fazê-lo com você.
- Isso é apreciado. – O homem mais velho também bebeu o último gole e depositou a taça ao lado da do outro – Estou realmente surpreso por encontrá-lo aqui.
- Você de todas às pessoas não pode realmente ter acreditado que eu estava morto. – Disse o belo homem revirando os olhos.
- Não, é claro que não. Eu sabia que estava vivo mesmo antes dos boatos começarem. Você já tinha ido longe demais para ainda poder fazer algo tão mundano como morrer. Estou surpreso por encontra-lo aqui...Por que aqui? Você odiava seu pai até o último pedaço de sua alma, porque vir para cá? Por que não na casa de algum de seus seguidores?
- Eu não confiava em nenhum deles quando voltei...apesar de ter sido um maravilhoso conjunto de erros que me devolveu meu corpo, ainda foi um erro que poderia ter me custado muito. Eu tinha que saber em que chão eu estava pisando depois de todos esses anos. A casa estava vazia e eu achei que seria apenas divertido encher essas paredes da magia que o homem desprezava tanto.
- Vejo que você nunca se sentirá vingado o suficiente. – Sorriu o velho – Te procurei em vários outros lugares antes de vir aqui.
- Por que teve tanto trabalho para me encontrar, velho? Não pode ser apenas porque se sentiu saudoso.
- Não, nada disso. Por mais que eu sinta saudades de nossas pequenas argumentações, eu não viria até o Lorde das Trevas por isso...Não. Eu vim até aqui porque esbarrei em algo muito peculiar.
Isso pegou o interesse de Tom fazendo-o se sentar mais rigidamente na cadeira, qualquer coisa que fosse ‘peculiar’ o suficiente para chamar a atenção do velho merecia um segundo olhar.
- O que é ‘peculiar’?
- A alguns poucos anos... – Começou o homem e Tom quase revirou os olhos, mas ele sabia melhor do que apressar o outro – encontrei uma criança muito interessante, quase tão interessante quanto você foi na sua idade, poderosa e definitivamente cheia de potencial, não precisei de dois olhares para saber quem era aquela criança. Harry Potter. O menino já era chamativo o suficiente apenas por ser quem é, mas isso não teria sido tão interessante se parasse por aí... Foi difícil Tom, e demorado, mas finalmente ele achou uma varinha que se adequasse, naquela altura, eu admito que já estava esperando por isso, era sua varinha irmã Tom, o mesmo núcleo, revestido por um material diferente, azevinho, 28cm, pena de fênix, boa e maleável...cabia na mão do garoto como se eu a tivesse feito exatamente para ele, da mesma forma que aconteceu com você. Foi como ver o passado se repetir... – O homem olhou nos olhos de Tom, exultante em sua alegria louca, se não o conhecesse a tanto tempo poderia acreditar que a idade o havia tornado senil – Eu sabia que ouviria mais sobre o garoto, que ele estava destinado a ser grande, mas, além das fofocas ocasionais estampadas no Profeta nada mais de interessante havia sobre o menino, pensei que eu tinha me enganado afinal...
- Você não se engana com frequência. – Objetou Tom enchendo as taças outra vez, ele também acreditava que tudo sobre Harry era ‘peculiar’ e interessante, mas ter outra pessoa prestando tanta atenção ao garoto, não parecia certo, ou seguro.
- Exatamente. E ontem eu descobri que de fato não estava enganado. – O moreno esperou pacientemente que o outro continuasse – Estive em Hogwarts ontem. Com a primeira tarefa do torneio se aproximando, o ministério achou sensato avaliar às varinhas dos campeões, garantir que elas estavam em perfeito funcionamento. Para que os campeões não corressem qualquer risco desnecessário.
- Como se a coisa toda já não fosse um risco desnecessário. – Resmungou Tom, mas era mais para si mesmo do que para o velho, então este ignorou, continuando com seu relato.
- Às varinhas eram interessantes, não é sempre que posso admirar o trabalho de outros no meu ramo, mas não havia nada de extraordinário sobre elas...Até que peguei a varinha de Harry Potter. A varinha agora estava errada para ele em todos os sentidos, era quase como se o rapaz estivesse fazendo magia com um graveto qualquer, a magia da fênix dentro da varinha estava tão apagada que eu quase a considerei morta. Você sabe Tom, eu encontrei apenas uma outra varinha com essas características antes, a sua, logo após o ritual que realizou em seu quinto ano. Então eu soube, eu soube que Harry Potter tinha realizado o mesmo ritual, eu soube que você foi o responsável por guia-lo através dessa provação. Ninguém mais teria esse conhecimento.
- Muito perspicaz. – Disse o moreno, fingindo que aquilo era apenas uma conversa despretensiosa, mas em seu interior, ele estava preocupado.
Olivander nunca esteve em qualquer dos lados da guerra, o homem simplesmente não queria se envolver, dizia que estava vivo por tempo suficiente para ver líderes ascenderem e caírem vezes demais para se importar com quem estava no poder agora, enquanto pudesse fábricar suas varinhas e orientar bruxos na direção onde vão alcançar todo seu potencial, ele estaria feliz. Mas isso não queria dizer que ele não se sentia inclinado a um ou outro lado esporadicamente, na última guerra, Olivander era mais inclinado pela causa de Tom, mas agora ele não poderia ter certeza. O homem poderia ter simplesmente dito algo a Dumbledore sobre a diferença na varinha de Harry, um pequeno sussurro e o diretor perseguiria o garoto com muito mais força, o garoto não estava pronto ainda, estava basicamente sozinho em Hogwarts. Seu pequeno não tinha conhecimento do perigo que poderia estar correndo.
Como se conseguisse ler os pensamentos de Tom, o velho riu. O Lorde olhou para ele irritado, ele precisava saber, mas antes de fazer qualquer pergunta, Olivander ergueu as mãos.
- Se acalme. Eu não entregaria o menino a ninguém. Na minha opinião, qualquer um que tenha passado pelo ritual tem direito a liberdade que conquistou. Eu só estou curioso com ‘como’ Harry Potter acabou em suas mãos e permaneceu vivo, e principalmente, como ele pode confiar em você com algo tão íntimo e pessoal quanto esse ritual?
- A tantos anos atrás eu confiei em você, não confiei? – Tentou Tom, sentindo que suas bochechas queriam fazer algo estúpido como corar, ele não permitiu, é claro.
- Sim, mas você não tinha ABSOLUTAMENTE nada a perder. Se você acabasse morto ou louco, ninguém se importaria, nem mesmo você. – Olivander também nunca foi bom em adoçar verdades, mas embora tenha sido algo quase incapacitante quando ele era um garoto, hoje ele não se importava nenhum pouco – Harry Potter tinha tudo a perder. O menino não só nasceu em um berço de ouro, como tinha poderes impressionantes mesmo aos onze anos de idade, ele tinha Dumbledore vigiando suas costas...Por que ele abdicaria de todas essas coisas apenas para brincar de fazer magia fora dos muros da escola? A não ser que ele seja o tolo que os jornais faze...
- Você não o conhece nenhum pouco, velho. – Rosnou Tom com muito mais aspereza do que pretendia – Nunca entenderia porque ele fez o que fez, como nunca entendeu porque eu fiz.
- Você queria poder para matar seu pai. É uma razão bem infantil para passar por tudo que você passou, mas você sempre foi determinado. A única razão para que o menino tenha desejado passar pelo ritual era ter o poder de matar aquele que matou seus pais. Ou, seja, você. E se esse fosse o caso, você nunca permitiria que ele chegasse um passo mais próximo de conseguir poder.
- Tem muito mais sobre essa história do que você tem conhecimento, velho.
Olivander sorriu, impulsionou-se para fora do sofá e caminhou em direção a porta.
- Vejo que minha estadia aqui já está te incomodando.
- Velho, fique longe do garoto. – Alertou Tom, sem se levantar de seu lugar na poltrona – Ele não precisa de qualquer aconselhamento... está bem onde está. Deixe-o.
- Sabe o que é mais engraçado, Tom?! – Perguntou o velho já na porta – Você sequer se preocupou em me perguntar se eu tinha contado a alguém sobre o seu paradeiro, ou ordenou que eu não contasse a ninguém sobre isso. Só quis saber sobre a segurança de Harry. Isso também me intriga, mas como de costume você vai me deixar saber se eu precisar, não é?
- Nos vemos em outra vida velho. – Respondeu Tom, incapaz de dizer qualquer coisa sobre aquela afirmação.
O homem saiu e Tom não estava preocupado com ele contando nada a ninguém, Olivander não faria isso, da mesma forma que nunca teria revelado a Tom onde Dumbledore estava escondido se ele precisasse dessa informação, mesmo assim, Tom sempre teve o cuidado de ameaçar o homem, apenas para marcar um ponto. Não dessa vez, ele tinha simplesmente esquecido de se preocupar consigo mesmo.
- Droga!! – Resmungou para si mesmo, subindo às escadas dois degraus de cada vez até estar de volta na biblioteca, Nagine mal ergueu os olhos para ele quando ele caminhou decidido até ela – Nagine, olhe através de Gael, me diga onde Harry está e o que ele está fazendo.
A cobra não demorou para obedecer, sabia perfeitamente quando Tom não estava com humores para tiradas sarcásticas.
- Ele está na câmara...
- Com Malfoy?! – Rosnou Tom, cortando a cobra no meio de sua resposta.
- Não, apenas ele e Gael...Harry parece irritado, Gael disse que as crianças do Texugo estão irritando ele, ele está treinado feitiços explosivos na câmara para se acalmar. Quer falar com ele?
Tom pensou a respeito, ele queria na verdade, mas não tinha nada para falar com o garoto, claro ele poderia simplesmente mencionar seu encontro com Olivander, mas isso iria apenas preocupar o garoto sem necessidade, ele poderia ordenar que ele estudasse algo específico como fez da última vez que quis atrapalhar seu encontro com o menino Malfoy, mas o rapaz já estava treinando e ele realmente precisava treinar feitiços ofensivos, Tom falando com ele agora seria apenas uma interrupção. O mais velho suspirou e se jogou no sofá, jogando o braço por cima dos olhos, evitando a parca luz que entrava pela janela.
- Não. Deixe-o treinar. Diga a Gael para te chamar se qualquer coisa possivelmente perigosa acontecer.
Nagine não respondeu, provavelmente porque ela já sabia disso e porque Gael conhecia suas responsabilidades tão bem quanto a própria mãe, ao invés de dizer qualquer coisa a cobra arrastou-se até estar enrolada sobre o estomago de Tom, o peso familiar era confortável, e rapidamente sua mão voltou para acariciar às escamas dela como fazia antes da visita. Ele queria assistir Harry treinar, mas sabia que isso apenas cansaria ambas as serpentes e ele se preocupava com o bem-estar de ambas o suficiente para não levá-las ao limite apenas para saciar um capricho. Ele bufou outra vez. Ele odiava dias calmas e desocupados.

Harry Potter e o Mentor das TrevasWhere stories live. Discover now