73| Corpos colados.

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A mente apaixonada é egoísta. Está tão focada no que deseja que a razão vira só um ruído.

''Uma vida pra tirar você da minha".

Pra bom entendedor boa palavra basta. Imagina uma frase dessa.

No cair da noite, sentada em volta da fogueira, cercada de pessoas adoráveis que sempre me quiseram bem, eu ainda me sinto triste por dentro, me dou conta de que a vida vai continuar me quebrando em mil pedaços. E toda vez que eu tentar me reconstruir, ela vai me quebrar de novo. Porque é assim que funciona. Esse é o ciclo vicioso em que vivemos. Sofremos, superamos e então sofremos de novo. Tudo isso nos torna fortes.

Ele se aproxima de mim, e eu recuo um passo, batendo com as costas no corrimão da ponte de madeira. Engulo em seco, um misto de sentimentos aflora no meu interior, as células do meu corpo trabalham juntamente para me manter viva. Missão cumprida.

Connor tornou-se meu desfibrilador.

— Connor...

Impedir sua aproximação será o mesmo que aceitar o fim, e eu não posso fazer isso, assim como não posso dizer com todas as palavras que o quero longe.

— Diga que não me ama mais, Ame, e eu juro que te deixarei em paz. — a súplica em sua voz é como um tapa.

Ele encosta um das mãos no corrimão, bem ao lado da minha cintura, e a outra ergue até meu queixo, acariciando meu lábio inferior com o dedo indicador. Olhos fixos nos meus. O calor nos asfixia. Sinto o suor escorrendo dentre minhas curvas, meu peito subir e descer freneticamente numa batalha árdua.

— E-eu...

Aproxima-se ainda mais o rosto do meu, quebrando a barreira de vento existente entre nós, encostando a testa na minha, chocando a respiração profunda com a minha entrecortada. Pele na pele. Almas quase se fundindo. Corpos a ponto de colidirem.

— Sou incapaz de te deixar. — confessa com a voz aveludada. Subitamente gemo, causando um estrago total nas barreiras que me protegem dele.

Connor me fita, perfurando-me com suas órbitas escuras e cintilantes. Seus lábios se entreabrem, e tentar lutar contra esse desejo me consumindo a cada segundo é como entrar numa guerra sem escudo. A derrota é certa!

Seus lábios tocam os meus, sua mão — que antes segurava meu queixo — agora agarra firmemente minha nuca, de forma possessiva e faminta ele me beija. A velocidade que nossos corpos se chocam é o mesmo efeito de fogos de artifícios. O súbito desejo entre nós já não pode ser contido.

Não há escapatória.

Nós dois estamos cometendo um pecado.

Mas nenhum de nós se arrependerá por isso.

Afinal, como se arrepender da melhor sensação que já sentiu? Isso sim deveria ser considerado um pecado.

O beijo ascende as partes mais íntimas dos nossos corpos, com rapidez e euforia, tiro minha camiseta, ficando apenas de sutiã, Connor retira a sua e volta a me agarrar com todo o desejo, saciando nossa fome. Não sei compreender como nos sentimos tão bem juntos quando não temos nada em comum, ou um motivo real para ficarmos conectados. Temos sido ruim um para o outro desde o dia que nos conhecemos.

Somos tóxicos, mas também duas almas fragilizadas.

Talvez Connor e eu façamos parte do mesmo time: O que só existe pra completar a seleção.

— Senti tanto a tua falta. — diz entre o beijo, e eu, totalmente entregue, respondo que também sinto. Não é mentira.

Connor me conduz até o chão de tábua, me deitando sobre ele com delicadeza; como quem segura um bebê recém-nascido. Deita sobre mim, fixando os olhos nos meus, os lábios tão próximos do meu rosto, da minha boca semiaberta. Olhando para ele, na calada da noite, no silêncio da floresta e na escuridão que emana, percebo que toda a raiva é baseada no amor reprimido. Eu continuo tão magoada com ele, tão aborrecida e entristecida. Eu quero machucá-lo na mesma proporção que me machuca. Mas também quero amá-lo por me olhar nos olhos e causar um reboliço dentro de mim.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Where stories live. Discover now