26 ¶ Mundo desmoronando

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Querer tentar nem sempre será suficiente quando a vida te colocar de joelhos e bater na sua cara com força. Afinal, isso também é um ótimo motivo pra tudo dar errado. O que acontecia entre Daniel e Katie devia acabar o quanto antes, ou mais gente se machucaria. O destino havia nos provado - mais vezes que o necessário -, que nossas famílias não deveriam se envolver.

Corri para fora do restaurante, ignorando os chamados do Daniel. As lágrimas transbordaram em meus olhos instantaneamente, desciam deliberadamente, sem aviso prévio, embaçando minha visão. O dia estava tão bonito para alguém tão triste como eu. As pessoas sorrindo, andando de um lado para o outro, vivendo suas vidas sem se preocupar com o que acontecia ao redor.

Encarei o imenso arranha-céu do outro lado da rua. Um prédio de muitos andares, igualmente aos outros. Algumas pessoas passavam por mim e estreitavam os olhos ao notar meu estado, meus olhos vermelhos, meu desespero em tentar respirar. Mas ninguém perguntou se eu precisava de ajuda.

Senti a mão de Daniel pousar no meu ombro esquerdo.

— Ame... O que foi isso?

Sua voz veio carregada de preocupação.

Ele tinha culpa?

Deus, eu tinha que culpá-lo de algo?

— Me deixa em paz. — pedi entre a respiração pesada.

Eu não o olhava diretamente nos olhos, mas podia sentir a confusão que se passava em sua cabeça e o sufoco que sentiu ao presenciar meu estado de calamidade. Nenhum de nós estava mentalmente preparado para o que estava por vir; para a grande verdade.

— Conversa comigo, me diz o que está acontecendo! Foi Scott? Ele te fez algo? — vociferou as palavras com rapidez. — Ou foi eu? Fiz algo que te magoou, irmã?

Doeu pra caramba vê-lo tentar e falhar.

Eu costumava pensar que estava tudo bem aguentar tudo sozinha, porque seria menos doloroso do que compartilhar minhas feridas e ser julgada por aqueles que diziam me amar. Só que ao fazer isso, não estava apenas me negligenciando, mas como também estava prejudicando as pessoas que se importavam comigo. Nem sempre saberão como te ajudar, até mesmos aqueles que tentam, as vezes não são capazes. E tá tudo bem! A verdade é que ninguém é obrigado a te ajudar.

— Volte para seu almoço e me deixe, Daniel. — pedi outra vez. — Apenas me deixe só! Estou bem. Vou ficar bem!

Se eu despejasse tudo que estava entalado na garganta, Daniel me internaria num hospício em seguida. Ele não estava preparado para entrar no meu mundo obscuro. Não estava pronto para conhecer a dimensão paralela do qual me encontrava. Havia mergulhado tão fundo na escuridão que talvez nunca fosse ver a luz novamente.

Ele precisava ir. Tinha que me deixar só.

Abaixei minha cabeça, só então percebendo que minhas mãos sangravam. Mais lágrimas escorreram.

Eu precisava de ajuda.

Eu queria ajuda.

Acho que aquela foi a primeira vez que cogitei pedir ajuda ao Daniel, implorar para que ele me internasse numa clínica de reabilitação ou me mandasse para o outro lado do mundo. Para bem longe daquela cidade.

Ele apertou meu ombro, mostrando que não me deixaria só, e eu me virei para encará-lo. Ele recuou um passo, assustado com meu estado. Seus olhos mudaram à forma como me viam naquele instante, eu havia deixado de ser sua irmãzinha, a garota para quem lia histórias antes de dormir, agora ele me olhava como todos naquela cidade.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Where stories live. Discover now