12 ¶ Parque

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Impulso.

Quantas vezes agimos por impulso apenas por não termos coragem para fazer algo? O impulso é inimigo do tempo. E naquela noite que saí com o Scott, aprendi essa lição. Uma dura e necessária lição.

Scott dirigia o Audi preto com uma habilidade extraordinária. Devíamos estar a 100 KM/H, não sei bem, só sei que estávamos numa velocidade que me fez prender o fôlego. Ultrapassávamos os sinais vermelhos que encontramos ao longo do caminho, fugimos até de um guarda de trânsito. Esse guarda nos perseguiu por três quarteirões. Eu deveria ter ficado assustada, amedrontada. Devia ter pedido para não acelerar tanto, ou para obedecer os sinais, porque era isso que eu faria normalmente. Seria isso que qualquer pessoa em sã consciência pediria.

Mas eu estava cansada de ser sempre boazinha. Eu precisava - nem que fosse por uma noite -, ser má. Ultrapassar os limites.

Passamos pela maior e mais extensa ponte da cidade que ligava algumas cidades vizinhas. Aquela não era minha parte favorita da cidade, pra falar a verdade, aquela parte era a minha menos favorita. Fora naquele mesmo rio - onde passávamos por cima - que o Dexter havia morrido, naquelas correntezas corria seus últimos suspiros.

— Para onde estamos indo?

— Gosto desse lado da cidade... Pra cá tudo é mais tranquilo. Não concorda?

Não. Eu definitivamente não concordava.

Suspirei profundamente, deixando-o que notasse meu desconforto. Olhei para a janela, o rio corria lá embaixo, ferozmente levando consigo o passado. A lua no horizonte passava por cima de inúmeras árvores. Uma densidade infinita.

— Será que podemos ir para outro lugar? — perguntei um pouco constrangida. Scott não disse nada. Por um momento achei que não tivesse escutado, mas inesperadamente o carro foi para o lado, passando para a outra mão. Então estávamos voltando. Tudo acontecia automaticamente. Eu falava, ele fazia e nunca dizia nada. Não rebatia.

— Tem hora pra chegar em casa?

Dei de ombros. Daniel não iria se importar se eu chegasse um pouco fora do horário, e se fosse se importar, talvez não dissesse nada. Nos últimos dias vinha se ocupando com um caso em que iria defender uma garota de 16 anos que estava sendo acusada de assassinar a própria mãe. Ele sabia minha opinião quanto a isso, então não perdia tempo me contando os detalhes.

— Não. Não tenho.

Scott sorriu ao acelerar o carro. Ele abaixou as janelas, dando entrada para a brisa fria que varreu meus cabelos (Algo que me deixou longe da espontaneidade) provavelmente estaria parecendo um daqueles cachorros de madame. Scott correu com o carro por mais uns vinte minutos até diminuir a velocidade. De longe avistei as luzes coloridas e reluzentes de uma roda gigante.

Um parquinho!

Estávamos em frente a um imenso parquinho.

Meus olhos brilharam passando por toda a faixada que piscava em volta de um enorme letreiro.

— O que acha?

Um sorriso brotou nos meus lábios. Um largo sorriso angelical. Tão clichê.

— É perfeito!

E era.

Fazia tanto tempo que não ia à um parque, nem mesmo me lembrava da última vez em que estive em um. Scott tratou de estacionar o carro, ele era bom no volante, menos quando se tratava de estacionar. Percebi isso quando sai do carro e avaliei seu estacionado. Ele ocupava praticamente duas vagas, o carro estava de atravessado.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Where stories live. Discover now