57 | Nossa última vez.

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Dói crescer. Qualquer um que te disser que não, está mentindo. 

Você sabia que nosso cérebro tem um mecanismo de autodefesa que nos impede de se automutilar/machucar? Agora imagina o quanto a pessoa tem que estar sofrendo pra chegar a quebrar esse mecanismo. Ou eu fui fraca demais, ou minha dor é que foi insuportável. Poderia apostar na segunda opção. Mas agora, depois de tudo, vale mesmo a pena se remoer? Não, né!? 

Sofia terminava de colocar o macarrão na tigela. Kent se preparava ao seu lado para despejar o molho de queijo com salsinha por cima. Ainda não tinha provado esse tipo de comida, muito menos feito por ela. Mas, como ela mesmo fez questão de deixar claro todas às vezes em que Connor a questionou se já tinha tocado numa panela antes, aquela era sua especialidade e teríamos que comer de qualquer jeito. Ou ela enfiaria goela a baixo.

Nem ao menos poderíamos recorrer a pizza. Ninguém era insano o bastante para atravessar a ponte em meio ao inverno rigoroso apenas por 20 reais.

— Isso está uma delícia! — saboreou Sofia, passando a língua em volta dos lábios.

Connor soltou outra risada debochada. Os dois viviam se bicando, vez ou outro se alfinetavam. Isso era sinal de que no fundo se suportavam, até se gostavam.

— Como sabe? Ainda não provou! Ter uma aparência de comida não significa que é comestível. — brincou. Kent tratou de lhe enviar um olhar de repreensão. — O quê? É verdade!

— Não seja ridículo. É claro que provei. Como acha que temperei? E cala essa maldita boca antes que eu te ponha pra fora.

Connor riu. Ele estava sentado ao meu lado em volta de uma mesa redonda que havia próxima a bancada.

— Como vai me colocar pra fora da minha própria casa? — questionou, curioso. Kent olhou de soslaio para Sofia.

— Também quero saber. — instigou.

Naturalmente Sofia e eu trocamos um olhar maroto.

— Ame, pelo imenso amor que sinto por você eu peço, tire esse garoto de perto de mim antes que eu arranque a língua dele. — grunhiu, risonha.

Foi uma noite agradável. Foi a primeira noite em que estivemos juntos, jantamos, assistimos filmes e até brincamos de um jogo de tabuleiro antigo que estava guardado no quarto do Dexter. Posso dizer que aquela noite se resumiu a uma paz abrangente. Nunca me senti tão completa na vida como no meio deles, sorrindo com eles. Foi uma das únicas noites em que não fui dormir pensando no Dexter. Aos poucos suas lembranças que costumavam estar constantemente no meu dia a dia, foram sumindo.

Quando eu sorri para eles, eles se deram conta de que existia beleza nas imperfeições, que existia força na vulnerabilidade, e que sempre iria existir a possibilidade de mudança, a oportunidade de quebrar tabus, virar o jogo, e vencer.

No dia seguinte, logo após o café, voltamos para casa. Connor deixou Sofia e Kent em casa, só então seguiu rumo à minha casa. A felicidade que nós dois exalávamos não era contida em olhares ou sorrisos, precisávamos nos tocar. Mas não podíamos. Eu precisava trabalhar e ele, bom, fazer algo que não fosse ficar me olhando o tempo inteiro.

— O que acha de jantar comigo hoje? — sugeriu assim que parou o carro em frente à minha casa.

— Passamos a noite juntos... Não tem medo de enjoar da minha cara? — indaguei, divertida. Ele riu, como se eu houvesse acabado de perguntar algo absurdo.

— Me diz como eu poderia enjoar de você?

Contornei meu dedo indicador em volta da sua mão sobre minha colcha.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora